Maria do Carmo Pinheiro Torres, 27 anos, foi eleita, este sábado, em Santarém, como a primeira mulher presidente da Juventude Monárquica Portuguesa (JMP). Jurista de profissão, destaca, em entrevista ao Correio do Ribatejo, a importância da profissionalização da estrutura, a aposta na comunicação (sobretudo através das redes sociais) e a importância da desmistificação da Monarquia em Portugal. Identidade, soberania nacional, lusofonia, defesa da vida e do ambiente são as principais bandeiras que Carmo Pinheiro Torres defende neste mandato à frente da JMP, sendo acompanhada pelo scalabitano Jorge Costa Rosa como secretário-geral e porta-voz da estrutura. Pedro Diogo dos Santos, também natural da capital do Ribatejo é o novo Presidente do Conselho Fiscal e Manuel Barata de Tovar (Coimbra) é o presidente da Mesa da Assembleia Geral.

A que altura da sua vida é que percebeu que se revia na monarquia?
Quando tinha 20 anos, fui a um jantar dos Conjurados, a convite da minha irmã mais nova. Foi, para mim, uma ocasião social que coincidiu com uma fase em que eu estava muito desiludida com aquilo que via no panorama político em Portugal: sentia que faltava uma vertente suprapartidária, que não estivesse refém de interesses que acabam por não defender o País. Eu estava no segundo ano da Universidade de Direito e, por isso, também, este interesse por esta vertente mais política, mais legislativa, uma noção de como funciona o Estado. Eu acho que o curso me despertou muito para esse género de questões e, por isso, quando depois do jantar conheci o grupo de jovens monárquicos que estava informalmente constituído foi como chegar a casa… senti que estava ali o que procurava.

Qual tem sido o seu percurso na militância Monárquica?
Na altura, havia um grupo de jovens que queria fazer algo que nunca tinha sido conseguido antes, que era fazer com que a ala jovem do Movimento Monárquico Português passasse a ser uma entidade autónoma. Surgiu, então, a ideia de se constituir uma associação e essa associação tentaria agregar as várias sensibilidades Monárquicas que acabavam por existir. Algumas ordens que estão ligadas a tradições Monárquicas, ou alguns partidos com uma tendência Monárquica, e tentar ser o agregador de todas essas sensibilidades e, sobretudo, fazer com que o público-alvo passasse a ser jovem e representativo dos jovens e não estivesse ligado às Reais Associações que lidam sempre com uma camada mais velha da população. E, por isso, foi com a intenção de fundar a Associação que acabei por me envolver na Juventude Monárquica. Estive no congresso fundador, que decorreu em Santarém, na casa do Brasil, em 2013, e tornei-me a associada número 28 da Juventude Monárquica Portuguesa.

Actualmente, a Causa Real e a sua Juventude, estão a caminhar lado a lado, na modernização das suas imagens, nomeadamente na Internet. Para si, este aspecto é fundamental?
É um aspecto fundamental. Esta tem sido, aliás, a conversa mais recorrente que tenho com a minha equipa. A questão da comunicação é de extrema importância na actualidade porque estamos numa posição um pouco ingrata: as redes sociais apareceram nas nossas vidas pela primeira vez agora e todos estamos a acompanhar esta novidade à medida que ela vai surgindo. Por isso, a questão central é como aproveitá-las e rentabilizá-las ao máximo. Nesse sentido, vamos passar por um período experimental, de implementação de várias estratégias, que possam permitir que a nossa presença na internet seja a principal via de comunicação. Isto passa por ter uma atitude muito activa nas redes sociais, o que não é só fazer muitas publicações e convidar pessoas para isto ou para aquilo. Significa envolvermo-nos com os nossos seguidores, fidelizar os nossos leitores, fornecer conteúdos úteis e atractivos e que correspondam a uma necessidade das pessoas. Não estamos a exibir a nossa actividade. Estamos a convidar todos a desenvolver essa actividade connosco, online. É a maior aposta que temos neste mandato.

Que outras medidas quer implementar?
A par da questão do digital, estamos a passar por um período interessante em termos de identidade do País. A integração europeia faz com que seja mais relevante do que nunca pensar o que é ser português na europa hoje. E o mesmo em relação à globalização. Muitos jovens, actualmente, têm experiências fora do País e pensaram, naturalmente, ‘o que é ser português no séc. XXI?’. É um desafio grande, principalmente em relação a alguns actos que têm acontecido em Portugal, com a herança colonial: os Brasões em Belém, a Estátua de Pedro Álvares Cabral, em Santarém…. Queremos, portanto, convidar os jovens a uma reflexão sobre o que é ser português no séc. XXI, num mundo globalizado. Outro aspecto importante do mandato será colocar a questão monárquica notoriamente uma alternativa ao actual regime. Que seja evidente na experiência de cada um quando participa na vida pública, ou quando decide como educar os filhos de maneira a que sejam mais felizes, que tenham uma ligação às suas raízes, que pensarem na Monarquia como uma alternativa que lhes vai resolver um problema.

Que argumentos encontra para a defesa do regime monárquico para Portugal?
Variadíssimos. Mas, o principal argumento penso que é, em primeiro lugar, a questão não electiva do Chefe de Estado. E isto é fundamental porquê? Porque, alguém que não precisa de ser eleito não está cativo de interesses daquele que o fizeram eleger. Como sabemos, os Presidentes da República dificilmente conseguem ganhar alguma notoriedade se não tiverem já um currículo político que seja evidente ou que os qualifique. E a questão da chefia de Estado acaba por ser quase um prémio de fim de carreira. Isto provoca aquilo que tem sido a experiência de 100 anos da República em Portugal. As políticas governativas em Portugal não encontram uma estabilidade numa família que, claramente, representa aquilo que é o povo português, a nossa vocação colectiva, objectivos comuns… o que nos liga como família. A Presidência da República acaba por ser outro braço do Governo que contribui ou não para a estabilidade política do País e as nossas políticas governativas acabam por ser completamente díspares de mandato em mandato porque não encontram uma direcção concreta pela qual se possam guiar. E nós queremos e defendemos, precisamente, que essa linha concreta parta da figura do Rei ou da Rainha.
Por outro lado, a questão da Monarquia também é uma questão de soberania. Quando, da herança liberal, dizemos que a soberania reside no povo, em República não acreditamos que possa ser verdade. Em Portugal, isso é muito notório: existe uma blindagem dos partidos políticos e quem governa o País são elites. Em Monarquia, o que acontece é que o Rei responde perante o povo e o povo sente responsabilidade perante o Rei, e esta sinergia que se cria permite que as elites governativas se ponham no seu lugar porque o Rei é Rei de todos os portugueses e o Rei não tem especial interesse por um governo ou outro: terá especial interesse dos portugueses, na maneira como isso os empodera a tomar decisões enquanto corpo colectivo e permite permeabilizar o sistema político, flexibilizá-lo e torná-lo mais acessível a todos os cidadãos.

Verdadeiramente, o que é Ser Monárquico, na sua opinião?
Ser monárquico é o amor ao País que ultrapassa aquilo que gostaríamos que o País fosse. A aceitação do País, como ele é, o amor pelas gentes do nosso País, pelas nossas terras, independentemente de concordarmos ou não da maneira como os governos o conduzem caracteriza um monárquico. Pode ser quase como um filho ingrato: é um amor que ultrapassa a questão governativa.

Como interpreta a missão para a qual os associados a elegeram?
Penso que a missão passará, primeiro, por se propor uma monarquia que seja uma alternativa ao regime em Portugal. Então, a associação tem que ter esse carácter utilitário para os associados, que precisam de sentir que, através da associação, vão dar o seu contributo para o País. A associação não é um clube recreativo ou social: é mais do que isso. Estamos a trabalhar por um objectivo comum que, a concretizar-se, teria um impacto muito grande na nossa vida e no País.

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