A Cultura Portuguesa e a Cultura Brasileira, detêm 525 anos de encontro, união, permuta e transmissão, num processo histórico complexo, todavia, impulsionador. A Cultura Brasileira é uma evolução da Portuguesa, porém não é uma cópia. O Professor Jorge Borges de Macedo, defendia que “a Cultura Brasileira começa na Cultura Portuguesa, mas não finaliza nela”. A identidade brasileira, tal como a portuguesa, é o resultado de um longo processo histórico, amálgamas e intercâmbios. A história, da estória, da “Menina Izildinha”, traduz a permuta cultural e social, além da vida existencial.

Portugal e o Brasil, são dois países extraordinariamente ricos em estórias, e mitos antigos que inspiram costumes e superstições, a partir de lendas, contos, ditos e crenças populares. Os chamados “santos populares” são muito comuns, não somente em Portugal, bem como no Brasil, alguns desses casos a Igreja já os estuda, em processo de beatificação e canonização. Outros, a Igreja, com prudência, não o faz, em virtude da falta de documentação e testemunhos válidos. A curiosa história da “Menina Izildinha”, é um destes exemplos; uma “santa popular” venerada, em primeira instância em Portugal, e no Brasil na cidade de Monte Alto, no Estado de São Paulo, onde a sua veneração é extremamente significativa. Um culto autêntico, longe dos altares, contudo, com constatação, documentação e testemunhos historicamente leais. Ficou na História como venerável, conhecida como a “Menina Izildinha, o Anjo do Senhor”, uma menina portuguesa, a quem se atribuem milagres e curas.

Maria Izilda de Castro Ribeiro nasceu na Póvoa de Lanhoso, no dia 17 de junho de 1897. Foi a primeira filha de João Rodrigues Ribeiro e Alice de Castro.  A menina, foi batizada no dia 2 de setembro, do mesmo ano, foi seu padrinho, o abade do mosteiro de Donim em Guimarães, o padre João Duarte de Macedo e a madrinha, Nossa Senhora, representada pelo advogado de Póvoa de Lanhoso, Alfredo António Teixeira Ribeiro.  Quando completou sete anos, em 1904, a pequena Izilda fez o exame da primeira classe e foi aprovada com louvor, evidenciando que aquela menina simples e quieta, guardava uma inteligência singular. Por causa disso, e para prosseguir os estudos, Izildinha ficou a viver com os avós em Póvoa de Lanhoso, uma vez, que os pais, e os seis irmãos, Constantino, José, Bernardo, António, Fernando e Júlio, foram viver para Fafe. Aos nove anos, Izilda fez a Primeira Comunhão, na ocasião, o padrinho, sempre muito atencioso, deu-lhe de presente um carneirinho. A menina deu ao animal, o nome de “Tomé”. Este sacramento concedeu a Izilda um sentido de anuência da vida incomum para crianças da sua idade, pois aquando uma viagem a Lisboa com a mãe, para visitar uns familiares, o carneirinho ficou entregue a uns amigos, que pensando que o animal tinha sido doado, abateram-no. No regresso, a mãe de Izilda disse à filha, que o carneirinho tinha adoecido e morrera. Izilda aceitou o sucedido sem rezingar, mantendo a sua alegria e candura, apesar de estar dilacerada pela dor de ter perdido o “Tomé”.

Aos onze anos Izilda concluiu o ensino primário. Foi um ano relevante e triste, pois a avó faleceu, e o avô adoeceu gravemente. Por isso, Izilda foi para Fafe, viver com os pais e irmãos e continuou a estudar. Mais tarde, a família foi viver para Guimarães, onde Izilda começou a frequentar aulas de piano, patrocinadas pelo seu padrinho. Quando entrou na adolescência, Izildinha começou a ficar muito fragilizada.  Não sabia o que ela tinha. Diziam que era “sangue pobre ou fraco”. Apresentava hematomas e caroços no pescoço, palidez e muito cansaço. O médico desconfiou ser linfatismo, e a menina recebeu tratamentos caseiros. Como não melhorava, foi levada para a Póvoa de Varzim, para fazer um tratamento mais eficaz. Chegou a ficar dezoito dias num banho de manteiga. Nessa época, o seu maior sofrimento era ficar longe de seus irmãos e da prima Maria dos Anjos, de quem gostava muito. Todavia, apesar de todos os sofrimentos, mantinha-se convicta na oração, fé e devoção a Nossa Senhora.

Apesar de todos os procedimentos, Izildinha, piorou muito, a leucemia que padecia agravou-se, sentiu que iria falecer, e aceitou o seu destino com tranquilidade e serenidade, continuando as suas orações. O avô melhorou e foi visitar a neta a Guimarães. Ao vê-la tão doente, chorou. Izilda, pediu ao avô para não ficar triste, pois em breve Jesus viria buscá-la. No dia 24 de Maio de 1911, às três horas da tarde, Izilda, com treze anos, faleceu, nos braços do seu irmão António, em Guimarães. Quase quatro décadas depois da sua morte, em 1950, a Menina Izildinha, de forma, MEMORÁVEL, transformou-se num fenómeno transatlântico incomensurável. (continua)

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