Homicídio de uma cidadã brasileira, a 27 de Janeiro último, é o “corolário” de uma escalada de violência que está a ocorrer na cidade. Esta é a opinião de um grupo de moradores que reclama medidas da autarquia para aumentar a segurança.

Um grupo de moradores e comerciantes do Centro Histórico de Santarém esteve esta segunda-feira na reunião do executivo para dar nota de um crescente sentimento de insegurança e exigir uma tomada de posição por parte da Câmara.

O aumento do sentimento de insegurança foi ampliado pelo homicídio, a 27 de Janeiro último,com contornos de extrema violência, de uma mulher num prédio da Travessa das Frigideiras, justamente no centro histórico de Santarém.

João Fonseca, porta-voz dos moradores, que vive a três portas do local onde ocorreu o crime, recusa que se trate de um “episódio pontual”.

“A questão que se coloca é que este caso é o culminar de um conjunto de factos que se têm verificado: as situações de violência vêm em crescendo, desde tentativas de violação a roubos de automóveis”, afirmou.

Segundo analisou, o “Centro Histórico degradou-se, do ponto de vista do edificado, mas, sobretudo, do social. Deixou de ser um local seguro”, referiu este morador, acrescentando: “queremos ter mais segurança”.

Este grupo que se deslocou à Câmara começou por se juntar através da rede social WhatsApp e, em menos de 24 horas, ultrapassou a centena de membros.

Agora, está a ser equacionada a reactivação de uma antiga associação de moradores do Centro Histórico, dinamizada, em tempos, pelo arquitecto António Forte.

“O problema principal que identificamos é a falta de segurança. Pretendemos ter uma postura pró-activa e colaborante com o Município para que o Centro Histórico volte a ser um local nobre e aprazível”, disse ainda João Fonseca.

Para além deste sentimento generalizado de insegurança, as queixas visaram outras áreas, como a falta de higiene e limpeza urbanas nalguns pontos da cidade, como o Largo Mem Ramires e a Rua Pedro Canavarro, a escassez de estacionamento, a deficiente iluminação pública e o ruído nocturno causado pela clientela de um bar na Rua Capelo e Ivens.

Uma residente no Largo de Mem Ramires, numa das saídas do centro histórico da cidade, deu nota de vários casos de falta de higiene, com sujidade vária e mesmo dejectos humanos na rua sem que as autoridades intervenham.

“Aquele local está transformado numa casa de banho pública. Não há quem arrisque sentar-se no largo ao fim da tarde”, lamentou a moradora, dizendo que a situação está “no limite”.

Além dos moradores, também os comerciantes apresentaram queixas. Teresa Marques, proprietária de um Hostel no centro histórico, queixou-se da falta de higiene das ruas e do barulho proveniente de um bar.

“Já tive duas reclamações por causa do barulho e perdi uma reserva de dois meses”, disse a empresária que fala num cenário “de muitos excessos e garrafas partidas”.

Filomena Canavarro, responsável por uma farmácia na Rua Capelo e Ivens, na qual trabalha há cerca de 25 anos, diz que nunca se sentiu tão insegura, o que motivou a que actualmente feche as portas às 19h00.

O executivo camarário ouviu as queixas dos munícipes, enalteceu a “participação cidadã” e prometeu intervenções de requalificação urbana na zona antiga para breve, como forma de mitigar o problema.

Na resposta às várias críticas, o presidente da autarquia, Ricardo Gonçalves, deu conta que os números das forças policiais, em particular a PSP, reflectem, ao contrário do sentimento generalizado, um decréscimo da criminalidade (ver texto em baixo), tendo considerado que o assassinato de uma mulher numa casa do centro histórico, uma semana antes, foi um “caso pontual”.

“No nosso Conselho Municipal de Segurança acompanhamos estas matérias e, dos dados que dispomos, apontam, precisamente, para um decréscimo da criminalidade no concelho”, afirmou o autarca.

“Em Santarém ocorreram casos mediáticos, mas são esporádicos. Não podemos extrapolar”, disse ainda.

“A degradação dos centros históricos é evidente e generalizada em todo o país mas em Santarém as coisas estão a mudar”, disse o autarca, referindo que há vários projectos, públicos e privados, que prometem dar uma nova cara a alguns dos espaços.

No caso do investimento público, Ricardo Gonçalves revelou que até final de 2021 estão previstos projectos na ordem dos 7 milhões de euros para regeneração urbana e melhoria das acessibilidades de várias ruas e largos e anunciou até que, em breve, se vão notar “dores de crescimento” devido ao elevado número de obras a realizar.

O autarca referiu ainda que o recente projecto de acesso à rede Wi-Fi gratuita no Centro Histórico de Santarém irá, em breve, permitir implementar videovigilância na zona.

Criminalidade com “tendência de descida”

A criminalidade no distrito de Santarém mostrou, em 2018, uma “tendência de descida” em relação a 2017, com a Lezíria a registar uma diminuição de 1,5% na criminalidade geral e de 3% na violenta e grave.

Os números constam nos relatórios do Ministério da Administração Interna, que prevê investir perto de 2,8 milhões de euros na Lezíria do Tejo e de 2,6 milhões no Médio Tejo, em infra-estruturas e equipamentos para as forças e serviços de segurança.

Na Lezíria, a maior fatia de investimento (799.500 euros) destina-se à adaptação de novas instalações para o posto territorial da GNR de Salvaterra de Magos, que tem estado a funcionar provisoriamente no edifício da Falcoaria Real, dada a degradação das instalações em que se encontrava.

Para o posto territorial de Alpiarça estão inscritos 600.000 euros, para a construção de raiz de novas instalações, enquanto o destacamento territorial de Coruche e o posto territorial de Benavente beneficiarão de uma reabilitação geral, tendo destinados 500.000 euros cada.

O plano inclui ainda a adaptação de um imóvel para a activação do posto territorial de Alcanede (no concelho de Santarém), não existindo, contudo, uma estimativa de custos.

Segundo os dados disponibilizados pelo MAI, o comando distrital de Santarém da PSP tem inscrita uma verba de 360 mil euros para reabilitação das suas actuais instalações.

Já no Médio Tejo, a maior fatia de investimento destina-se a infra-estruturas da PSP, sobretudo para reabilitação geral de vários edifícios da Escola Prática de Polícia, em Torres Novas (1,1 milhões de euros), estando já concluídas a pintura de fachadas do edifício principal (141,5 mil euros), a reparação de um muro e de caixilharias (122,3 mil euros) e a substituição de coberturas (177 mil euros).

Nesta região, estão ainda inscritos 400.000 euros das obras de adaptação de novas instalações para o posto territorial da GNR em Alcanena, já em curso.

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