O toureiro César Marinho, de 85 anos e natural de Santarém, morreu esta quarta-feira, 6 de Março, pelas 11:00 no Hospital de Santarém onde se encontrava internado.
O primeiro toureiro a tomar alternativa na Praça Celestino Graça tem funeral marcado para as 14h, de quinta-feira na capela do cemitério, seguindo-se funeral no Cemitério dos Capuchos, em Santarém.
Um toureiro habituado aos grandes palcos da vida
O Jornal Correio do Ribatejo é dos poucos a nível nacional que dedica, semanalmente, uma secção à tauromaquia, numa perspectiva de valorização desta expressão cultural enraizada em Santarém, assinada por Ludgero Mendes.
Nesse sentido, a administração do Jornal decidiu distinguir, em 2018, um dos mais consagrados ‘maestros’ da Festa Brava: César Marinho, figura maior da tauromaquia nacional, reconhecido como um dos melhores bandarilheiros portugueses de sempre e um dos mais auspiciosos novilheiros da sua geração.
César dos Santos Marinho recebeu a distinção das mãos do administrador do W Shopping de Santarém, Rui Rosa e, com a emoção a embargar-lhe a voz, declarou: “Muito Obrigado! É tudo o que tenho a dizer.”
A frase singela do “miúdo que lhe calhou em sorte a sorte de ser figura no toureio” arrancou um aplauso sonoro da plateia que lotou por completo o Teatro Sá da Bandeira.
Como escreve Ludgero Mendes, César Marinho, que nasceu há oitenta e cinco anos na sua amada cidade de Santarém, cedo desvendou a sua intuição para o toureio. Então, em qualquer café ou taberna, a qualquer esquina da velhinha urbe se falava de toiros, e as picarias no Largo Fora de Vila ou os festivais a favor do Hospital de Jesus Cristo mais aguçavam o espírito dos que sentiam fervilhar no seu sangue a vontade de enfrentar estes nobres, mas perigosos, animais.
Sonhavam-se faenas de maestria, de arte fina e pura com que se esquivariam a uma sorte madrasta… daí que a miudagem de então sonhasse com a sorte de ser figura do toureio, almejando uma outra vida mais confortável e feliz.
César era um desses miúdos… Com o estímulo dos toureiros amadores mais idosos e com a ajuda do Eng.º Henrique José de Oliveira, seu patrão e mestre, César Marinho iniciou a carreira de novilheiro, evidenciando imensas faculdades artísticas e apreendendo facilmente a técnica do toureio. Desta época ficaram célebres as tardes em que alternou com Jaime de Carvalho “Espadinha” e com Arsénio Teixeira “Pité” e depois com Joaquim Ezequiel “Cigano”, José Simões, José Trincheira ou José Júlio. Gloriosas tardes de toiros!
Tendo adoecido César Marinho suspendeu o toureio por duas temporadas após o que regressou, mas já disposto a seguir a carreira de bandarilheiro, abdicando do sonho de ser matador de toiros. César Marinho foi um dos melhores bandarilheiros de todos os tempos, tanta a arte que derramou em perfumados lances de capote, tamanho o saber evidenciado na forma como dominava os toiros e imenso o seu valor, posto à prova em tão inolvidáveis momentos pujantes de risco e de emoção!
César Marinho foi o primeiro toureiro a tomar a alternativa na nova praça de toiros de Santarém, a 14 de Junho de 1964. “Vestido de prata para honra e glória dos que de oiro se indumentam, mas, ao seu nível de toureio no mesmo plano de figura!”, como na ocasião das Bodas de Prata se lhe dirigiu António Cacho, César Marinho actuou na maioria das principais praças do mundo taurino ao serviço do seu amigo Gustavo Zenkl, de Fernando Andrade Salgueiro, de João Moura, de Joaquim Bastinhas e de João Salgueiro, para além de haver integrado em tantas tardes de glória as “cuadrilhas” de novilheiros e matadores que se apresentavam na arena escalabitana, destacando-se, igualmente, como um dos mais competentes bandarilheiros, pisando os terrenos do máximo compromisso e cravando “en todo lo alto”.
Em consequência de uma grave colhida, César Marinho viria a retirar-se prematuramente das arenas, mas a paixão pelo toureio nunca esmoreceu, tendo evidenciado os seus bastos conhecimentos como director de corrida, actividade que desempenhou com a maior competência e brio, no que foi, igualmente, inovador, em favor da expressão taurina e da exaltação do toiro, e na partilha do seu saber com inúmeros jovens toureiros. Inspirado poeta, César Marinho dedicou alguns poemas ao enaltecimento da Festa Brava, do Toiro e de alguns toureiros, com cujo estilo artístico mais se identifica.
Veja aqui o vídeo referente à homenagem a Cesar Marinho na Gala dos 127 anos do Correio do Ribatejo: