O Museu da Vida de Cristo, em Fátima, no concelho de Ourém, foi vendido por um milhão e 100 mil euros, contra o mínimo inicial fixado em 2017 em perto de 5,9 milhões de euros.

A sentença do Tribunal do Comércio de Santarém, que declarou encerrada a liquidação da Vida de Cristo – Parques Temáticos, insolvente desde 2017 por dívidas de 6,1 milhões de euros (3,6 milhões dos quais à Caixa Geral de Depósitos), foi comunicada na segunda-feira.

Segundo o processo, hoje consultado pela Lusa, a escritura da venda realizou-se na sexta-feira, tendo a massa insolvente recebido um total de 1,1 milhão de euros pagos pela imobiliária Renowned Champion, com sede em Lisboa.

A venda por negociação particular – “forma de venda que consiste na promoção dos activos junto de potenciais interessados, estrategicamente escolhidos de acordo com o tipo de bens”- visou “obter a melhor valorização possível para o acervo”, justificou a administradora da insolvência.

Reconhecendo que a proposta fica “aquém da avaliação dos bens”, Tatiana Brás sublinhou que, só com a reabertura do museu, as lojas da galeria comercial poderão ter proveito, realçando que a maior parte das fracções está devoluta.

Segundo a administradora, o valor inicialmente atribuído ficou “desajustado face ao valor de mercado”, salientando que os bens “não têm suscitado interesse no mercado” e que a deterioração levou a uma desvalorização, a que juntou o facto de “a delonga na liquidação onerar a massa insolvente com despesas avultadas de IMI [Importo Municipal sobre Imóveis] e de condomínio”.

A proposta da Renowned Champion surgiu em 19 de Abril, no dia em que iria decorrer a adjudicação à UAU – Produção de Espetáculos, que propunha pagar 1.025.000 euros e que não quis melhorar a proposta face à nova oferta.

A proposta da UAU – Produção de Espetáculos foi entregue em 26 de Março, depois de várias tentativas, desde que se iniciou o processo de liquidação, em 2017, numa altura em que o valor de venda estava fixado em 1.865.049 euros.

A Renowned Champion, criada em 2013, opera no sector de compra e venda de bens imobiliários, não tendo a Lusa conseguido chegar à fala com os seus responsáveis para conhecer qual o destino que será dado ao imóvel.

A sentença de insolvência da dona do Museu da Vida de Cristo, por dívidas de 6,1 milhões de euros, data de 30 de Janeiro de 2017.

No leilão realizado em Maio de 2018, foi apresentada uma proposta por uma associação religiosa no valor de 5,3 milhões de euros para a totalidade dos bens, mas não cumpria os requisitos e acabou por não ser formalizada.

O Museu da Vida de Cristo foi inaugurado em Abril de 2007, apresentando 210 figuras de cera, distribuídas por 33 cenas, o mesmo número de anos que viveu Jesus, num edifício que contava ainda com 16 estabelecimentos comerciais e parque de estacionamento com dois pisos, numa área total de 4.000 metros quadrados.

Em 28 de Março de 2017, a assembleia de credores da Vida de Cristo, Parques Temáticos, dona do museu, determinou, na Secção de Comércio da Comarca de Santarém, o encerramento da actividade e a venda dos activos da empresa.

A decisão, que apenas contou com o voto contra do representante dos trabalhadores, foi tomada por três dos credores, tendo ficado a comissão de credores a ser presidida pela Caixa Geral de Depósitos, principal credora (3,6 milhões de euros dos 6,1 milhões em dívida).

Em Outubro de 2017, houve uma primeira tentativa de venda, através da abertura de propostas em carta fechada, mas não foram recepcionadas propostas.

Em 2016, a empresa ainda tentou implementar um Processo Especial de Revitalização (PER), que, na votação realizada em Novembro desse ano, não obteve a aprovação da totalidade dos credores, nomeadamente da Caixa Geral de Depósitos.

Entre as razões invocadas para a insolvência, os proprietários referiam a redução do número de visitantes, de 80.000 em 2010 para 38.000 em 2015 e 2016, mostrando “a verdadeira dimensão da crise” que afectou o país e Fátima, cidade do concelho de Ourém, no distrito de Santarém, que vive essencialmente do turismo religioso.

Segundo a empresa, o museu foi considerado o terceiro melhor museu de cera do mundo por Tony Julius, director da empresa londrina que fabricou as figuras de cera e ex-colaborador do Museu Madame Tussaud.

As figuras foram vestidas com roupas feitas com tecidos fabricados na zona da Sertã em teares manuais de artesãs portuguesas, tendo as 33 cenas sido realizadas por empresas portuguesas a partir de estudos sancionados pelo Santuário de Fátima, que acompanhou o processo e elogiou o projeto cenográfico de Moniz Ribeiro e João Quintão, sublinhava.

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