O engenheiro agrónomo João Coimbra, maior produtor de milho nacional, posa para a fotografia durante uma reportagem na Quinta da Cholda sobre o uso racional da água na agricultura (setor que mais água consome) quando o país enfrenta anos sucessivos de seca, na Azinhaga, Golegã, 22 de junho de 2023. No ano 2000, a Quinta iniciou a colocação de painéis solares nos terrenos para reduzir os custos energéticos com a rega. Passou depois para a colocação de sondas de humidade nos campos, para reduzir a quantidade de água na rega, e foi progressivamente evoluindo na introdução de tecnologias e técnicas da chamada agricultura de precisão, o que lhe permitiu usar menos recursos (água, herbicidas e pesticidas) e ao mesmo tempo atingir níveis de produção bastante superiores. (ACOMPANHA TEXTO DA LUSA DO DIA 25 DE JUNHO DE 2023). ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Na Quinta da Cholda, na freguesia da Azinhaga, Golegã, a gestão de recursos como a água é feita criteriosamente com a ajuda de tecnologia, prática que tem provado que é possível produzir mais com menos e com menos impactos ambientais.

Quem o afirma é João Coimbra, o agricultor gestor que há cerca de duas décadas começou a introduzir na quinta que há quatro gerações se encontra na família a chamada agricultura de precisão.

Sem esconder que o objectivo é reduzir custos e produzir mais, pois, explicou à Lusa, é fundamental que os agricultores tenham um rendimento digno e que o país seja cada vez mais autónomo do ponto de vista alimentar, João Coimbra salientou os impactos positivos no ambiente de uma gestão eficiente da água e da redução do uso de adubos, sobretudo quando são cada vez mais evidentes os efeitos das alterações climáticas.

Rodeada de campos de milho a perder de vista, uma cultura que exige calor e água, esta “quinta modelo” situada no distrito de Santarém consegue actualmente ter reduções de 30% a 50% no uso de água nos 600 hectares da produção, comparando com o período em que usava a rega por gravidade.

“Fora de termos reduzido a quantidade que utilizamos por hectare, o que estamos a conseguir é que estamos a produzir muito mais com essa água. Hoje conseguimos o dobro do que produzíamos há 15, 20 anos, com as técnicas que havia na altura”, relatou à Lusa.

Para poupar água, um recurso “fundamental”, a Quinta da Cholda usa sensores e estações meteorológicas, que permitem conhecer a humidade, a velocidade do vento e a temperatura, e satélites, que dão uma “radiografia” da necessidade de água em cada parcela.

“Tudo isso nos dá a resposta daquilo que precisamos de saber: quanto é que eu preciso de aplicar de água para ter o maior resultado possível com o menor custo, de energia, de adubos, etc. e a água é fundamental, porque é decisiva”, afirmou.

Salientando que Portugal tem “um péssimo clima para produzir quando chove”, porque no Inverno está frio e as plantas não produzem com frio, João Coimbra frisou que é preciso “transferir” a água que chove no Inverno para poder ser utilizada no Verão.

“Para isso precisamos de fazer mais barragens, precisamos de reter mais a água, temos de fazer com que a água se infiltre melhor nos nossos solos. Esse é o nosso trabalho. Tentar que também a agricultura seja uma forma de ajudar a infiltrar cada vez mais água para usarmos essa água outra vez no Verão e, assim, entre as barragens e a capacidade de infiltração nos solos, nós estamos a tentar ter mais água disponível para produzirmos mais alimentos”, referiu.

Com a agricultura de precisão, disse, é possível “gerir a escassez” e usar a água disponível com “o maior cuidado possível”, porque é um bem que o país não se pode “dar ao luxo de desperdiçar”.

João Coimbra salientou que a informação recolhida na Quinta da Cholda é colocada à disposição de todos os agricultores através da AGROMAIS, cooperativa de agricultores de cereais e hortícolas, e da ANPROMIS (Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo).

“Todas as semanas, por exemplo, o agricultor pode-se socorrer dessas informações e, nos seus sistemas de rega, adaptá-los”, afirmou, frisando que, mesmo os agricultores “menos tecnológicos”, podem recorrer a ferramentas “para ajudá-los a tomar boas decisões”.

“Há muitos equipamentos”, disse, exemplificando com o recurso aos satélites, que dão “informação do que é que as culturas precisam naquela semana específica”, ou às estações meteorológicas colectivas, informações que a cooperativa e a associação fornecem aos agricultores.

“É um avanço extraordinário, porque os agricultores hoje, mesmo sem ter grande monitorização, conseguem saber as necessidades das suas plantas […] e com isso estamos a poupar muita água”, declarou.

Por outro lado, a disponibilização da Cholda como uma “quinta modelo” vem, segundo afirmou, colmatar uma falha na transmissão de conhecimento, que no passado foi assumida pelo Estado.

“O que a nossa quinta se está a propor é receber visitas de outros agricultores e estamos a fazê-lo para tentar dar a conhecer estas técnicas e que as pessoas percam o medo de mudar e de se modernizar”, afirmou, salientando que é nas explorações que podem perceber que “isto não é nada complicado, nem é muito difícil de implementar”.

“Muitas vezes não é preciso grandes investimentos, mas mudar um bocadinho a atitude sobre os mesmos problemas que todos temos, que é as poupanças, a necessidade de ter uma economia a funcionar para que o agricultor tenha um rendimento digno. E é possível transferir isso hoje para os agricultores […], cada um à sua maneira, cada um à sua velocidade”, acrescentou.

Para João Coimbra, é fundamental que este e outros modelos de boas práticas sejam replicados para que os agricultores portugueses estejam “cada vez mais preparados para resistirem às alterações climáticas e aos novos desafios que aí vêm”.

O trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na Quinta da Cholda é feito em estreita colaboração com a Academia, numa relação de benefício mútuo, referiu.

“Nesta quinta estamos envolvidos com quase todas as universidades que trabalham os temas da agricultura, da energia, do ambiente. Cada vez mais o ambiente é também um grande desafio. Ao mesmo tempo que temos de tratar de produzir alimentos temos de salvaguardar o território e os ecossistemas e muitas vezes o agricultor não está preparado, não tem formação, e está disponível para aprender”, afirmou.

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