Convidado o Grupo “Guitarra e Canto de Coimbra” do Centro Cultural Regional de Santarém no ano de 1987 para actuar, após momento de folclore, em Vila Chã de Ourique (Chãos), teve o mesmo a agradável surpresa de conviver com João Moreira, que conhecendo alguns elementos, até por amizade já com os pais, ficou encantado pela existência deste grupo em Santarém. Imediatamente mostrou grande interesse em assistir aos ensaios semanais, o que passou a acontecer com regularidade, passando a integrar o GGCC como apresentador, lugar que assumia com inteiro entusiasmo e competência, face ao longo percurso nessa área no âmbito do grande amor da vida dele, o folclore!
E assim permaneceu durante 30 anos, enviando para o Correio do Ribatejo, jornal que muito admirava, as crónicas pormenorizadas das inúmeras serenatas.
Como referiu no seu Perfil Auto-Biográfico, “Um percurso de vida-referências ao meu passado”, …”Com grande orgulho, fiz parte do Grupo de Guitarra e Canto de Coimbra…grupo que tem percorrido o país e já se deslocou ao estrangeiro, levando consigo a mensagem romântica da canção do Mondego”. Colega de liceu de Florêncio de Carvalho, Fernando Rolim, Murta Rebelo, que se revelaram de grande importância no canto de Coimbra, diligenciou os contactos pessoais, trazendo valorização ao Grupo.
Referia, com frequência, ter sido pioneiro na canção de Coimbra em Santarém, em parceria com o Professor Joaquim Veríssimo Serrão, de quem foi também colega em Santarém, sendo ele guitarra e o Veríssimo Serrão viola.
Com o seu espírito boémio académico apreciava os frequentes convívios petisqueiros, após os ensaios, reinando no grupo um são espírito de camaradagem, com se tivéssemos sido todos companheiros de estudo na mesma idade!
Ficou-nos na memória uma comezaina de bifanas, após um ensaio, perguntando ele, depois das bifanas, se não havia mais nada para comer. Tendo obtido como resposta que havia chamuças, ainda mandou vir uma para ele, para nossa admiração. Fazia sempre questão de acompanhar com bom tinto e terminar com um copo de branco…
Sempre preocupado com o guião das serenatas, para poder preparar com tempo as apresentações, ele próprio ajudava nessa tarefa, articulando as várias opiniões com vista à versão final, sempre com espírito conciliador e de amizade.
Num dos artigos que o Correio do Ribatejo publicou, da sua autoria, em 1997, referindo-se à serenata tradicional, registava com a sua escrita cuidada e de qualidade:
“Realmente a noite estava serena e colaborante. Discreta, a iluminação incidia sobre a bela fachada maneirista da Sé Patriarcal que, com a sua escadaria monumental, constitui o cenário ideal para uma serenata. Tudo a postos. Surgem, então, vindos do Forum Mário Viegas (à Travessa do antigo Chiado) vultos envoltos nas sua capas negras, muitos sobraçando os seus instrumentos, sobem as escadas e vão juntar-se no alpendre do antigo Liceu aguardando a sua vez. Silêncio absoluto. Escuridão completa. Acendem-se luzes da cena a meio tom.”
Passados 100 anos João Moreira continua ao nosso lado, com o seu exemplo de Homem fraterno, solidário, imparável!
João Luiz Madeira Lopes