Um Festival de sabores chama-nos à Casa do Campino que tarda em ser Museu da Gastronomia a ‘alimentar’, todo o ano, o dia-a-dia cultural da cidade. Para já, fiquemo-nos pela comummente apregoada definição de ‘catedral da boa comida’.

O Correio do Ribatejo viu nascer o Festival. Tem, nas suas páginas, terrinas de letras servidas em caldo de tinta preta onde Quitério, um dia, bem nos avisou: “a cozinha regional portuguesa está em confrangedora decadência (…) com o desaparecimento das velhas cozinheiras, guardiãs das tradições culinárias, tudo se congrega para a ruína e consequente extinção deste tão importante naco da cultura do nosso país”.

Foi para ajudar a evitar essa catástrofe que surgiu o Festival. E surgiu em cavalariças “onde comiam os cavalos”, expressão que correu o país e trouxe a Santarém milhares de comensais em excursões do Minho ao Algarve que chegavam para os almoços regionais assim que a porta se abria, religiosamente ao meio-dia, ao som da ‘Marcha Ribatejana’.

Não vou levantar a fervura a um Festival que já lá vai. Em vez dos restaurantes com cozinheiras de face rosada são agora os chefs os ídolos deste evento, emagrecido no tempo e no número de comensais, gulosos peregrinos de um rústico ‘Zé das Papas’ que trazia a Santarém sempre bem mais de 100 mil visitantes. Vinham cativados pelos aromas provindos de um tacho onde estrugiam receitas milenares que davam histórias bem temperadas saboreadas à ‘Grande Mesa’.

Ontem, quinta-feira, protocolou-se a Carta Gastronómica deste Concelho que deverá ficar no ponto em 2020, a tempo da 40.ª edição do Festival. Memoriza-se uma importante parte do património cultural desta região, e, dessa forma, cumpre-se com a razão de ser deste evento, no que a Santarém diz respeito: a preservação da gastronomia tradicional do Concelho.

É bom lembrar que a Gastronomia foi elevada a património nacional para preservarmos a sua componente tradicional em cada região e isso não deve ser olvidado. Já basta terem-se esquecido que Outubro é o mês do maior Festival gastronómico realizado em solo nacional quando perpetuaram no último fim-de-semana de cada Maio a celebração do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa. Por que não no “Festival dos Festivais”, ao qual foi atribuída, há 25 anos, a Medalha de Mérito Turístico, categoria de Ouro?
Para a semana regresso ao tema.

João Paulo Narciso

In Ponto Final – Edição 25 de Outubro 2019

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