Durante longas décadas, na vigência do Estado Novo liderado por António de Oliveira Salazar, Fado, Fátima e o Futebol tiveram papéis fundamentais na sociedade e cultura portuguesa.
Cada um destes elementos desempenhou uma função específica, muitas vezes influenciada ou controlada pelo próprio regime, contribuindo, de certo modo, para a coesão social e também para a manutenção do poder durante esse período.
O Fado é a música tradicional do nosso país, conhecido pelas letras melancólicas e expressivas, frequentemente abordando temas como a saudade, o amor, a tristeza e as experiências do dia a dia.
E durante a ditadura o Fado foi cultivado e promovido pelo regime como uma expressão cultural “autêntica” e ligada à identidade nacional. O governo procurou controlar e direcionar o conteúdo das canções de Fado para enfatizar valores tradicionais e patrióticos.
A devoção a Nossa Senhora de Fátima, figura central na fé católica, desempenhou igualmente um papel relevante. O regime de Salazar viu a devoção a Fátima como uma forma de unir a população em torno de valores religiosos e tradicionais.
O santuário de Fátima tornou-se um local de peregrinação muito importante e foi promovido como um símbolo da fé e da identidade portuguesa. Por fim, o Futebol.
Durante a ditadura, o futebol serviu como uma forma de distração e entretenimento para a população, desviando a atenção das questões políticas e sociais. Por isso o regime apoiou os Clubes e usou-o como uma ferramenta de propaganda, promovendo a ideia de unidade nacional através das competições desportivas.
Os três F`s: Fado, Fátima e o Futebol, desempenharam papéis distintos, usando o regime estes elementos culturais e sociais para promover a sua visão de identidade nacional, unidade e controlo
social, ao mesmo tempo em que mantinha uma influência sobre eles para evitar qualquer ameaça à estabilidade do regime.
O Mundo pulou e avançou, e o país viveu no inicio de agosto de 2023 toda uma reaparição do poder dos três F`s, embora noutro contexto político.
As Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) realizadas no nosso país, são para já o grande acontecimento nacional do ano. Um evento internacional da Igreja Católica que reuniu jovens de todo o mundo para celebrar sua fé, compartilhar experiências religiosas e culturais, envolvendo-se em atividades espirituais e comunitárias, voltando a reafirmar a importância da Igreja Católica no nosso país, embora sendo o Estado Laico.
As JMJ envolveram o país de norte a sul, organizando diversas atividades, incluindo missas, catequeses, momentos de oração, testemunhos, apresentações artísticas e culturais, e encontros com líderes religiosos. Permitiram aos jovens a oportunidade de contactarem com pessoas de diferentes países e culturas, compartilhar as suas crenças e valores, e fortalecer a sua espiritualidade, numas Jornadas que ficam para a História fortemente marcadas pela presença do Papa em Portugal, e deste Papa em concreto, Francisco, por toda a carga humana que dele trespassa para todos. A sua Simplicidade e Humildade. A Ênfase nos Pobres e Desfavorecidos. A Mensagem de Misericórdia e Perdão. A Preocupação com o Meio Ambiente. A Abordagem Progressista e Inclusiva.
A Valorização do Diálogo Inter-religioso e Ecumênico. Francisco é uma revelação. Uma descoberta. Uma abertura para um novo caminho e para uma Igreja mais moderna, mais aberta, mais pastoral, centrada na compaixão e na busca pela justiça social.
E que pretende e defende uma Igreja “para todos, todos, todos”!
Nestas JMJ, durante quase uma semana, o país viveu fortemente marcado pela sua presença. Ele foi o Tema. O Acontecimento.
E claro, como não poderia deixar de ser, regressou a Fátima. Durante estas JMJ, o Fado também marcou presença. Através de canções interpretadas por Carminho e Mariza. Mariza atuou na Cerimónia de Acolhimento do Papa Francisco, cantando “Foi Deus”. No penúltimo dia, antes da oração com o Papa Francisco, Carminho cantou “Estrela” deixando o Parque Tejo a suspirar.
Dois dias após o fim das JMJ, o Futebol. Jogou-se a Supertaça de Futebol Cândido de Oliveira.
Do jogo, para além da vitória do SL Benfica sobre o FC Porto, quase uma semana volvida e a comunicação social e os adeptos ainda falam dele. Juntando-se agora os ecos do inicio do campeonato.
Por aqui se vê que, décadas volvidas, e os três F`s continuam a marcar o país.
De forma diferente, mais livre e democrática, mas ainda aí estão.
Este inicio de agosto voltou a reavivar a importância da Igreja Católica no nosso país, a fé em todo o seu esplendor, a beleza dos acordes da guitarra portuguesa e da viola, e o sonho do golo da vitória.
As Jornadas inspiraram e fortaleceram a fé dos jovens, promovendo valores religiosos e éticos, e encorajando o envolvimento ativo na vida da Igreja e na sociedade.
Que esse caminho continue a ser prosseguido e que não nos fiquemos pelas palavras.
Para que o fado da vida nos permita alcançar a vitória do futuro.