Celso Pereira, de 45 anos de idade, é desde de Novembro de 2019, presidente do Clube de Canoagem Scalabitano. É atleta veterano do clube, treinador e entrou para a modalidade como muitos outros pais, um processo que segundo diz parte do “ambiente que se vive no clube e acabamos também a praticar a modalidade”. Em entrevista, o presidente destaca o crescimento de 80 por cento do clube nos últimos meses, os objectivos que a sua direcção quer alcançar nos próximos anos e o Rio Tejo que tem um grande potencial para a prática da modalidade.

Qual é a realidade actual do Clube de Canoagem Scalabitano?
Todos nós estamos a passar por momentos únicos nas nossas vidas, por grandes desafios e incertezas, actualmente o nosso desporto está a ter muita procura, não só pela época do ano que convida a banhos no rio, mas também por termos modalidade de prática desportiva individual e ao ar livre, nesse sentido estamos com um acentuado crescimento. É com orgulho que dizemos que desde Novembro até à presente data tivemos um crescimento de cerca de 80 por cento.
Além dos factores atrás enumerados, também temos vindo a aproveitar as condições vantajosas que a Federação Portuguesa de Canoagem oferece no que diz respeito à canoagem de lazer, deste modo, temos vindo a notar um incremento da procura por parte de atletas seniores. Daí podermos afirmar que temos atletas dos 6 aos 80 anos e já com um bom grupo denominado de “Os Lontras” constituído na sua maioria por veteranos.

O clube tem valências de iniciação, competição, fitness, lazer/turismo. Qual é a principal aposta?
O Clube de Canoagem Scalabitano da Ribeira de Santarém tem várias vertentes, que assentam em dois pilares fundamentais, a competição e o lazer.
A competição é o grupo que por excelência se dedica a treinar para competir, sem nunca descorar o aspecto social e inclusivo da canoagem. Participamos nas diversas modalidades da canoagem, temos as competições de K1, K2 e K4, o slalom também é uma vertente que temos vindo a explorar. Já o Kayak pólo, é uma aposta do nosso clube, que iniciou com aquisição de oito embarcações pelo Desporto Escolar do Agrupamento de Escolas Sá da Bandeira, bem como a cedência de horário de treino no complexo aquático pela VIVER Santarém, e claro que temos tido também o apoio incondicional do Município e da União de Freguesias de Santarém.
Já o pilar do lazer, tem vindo a ser uma aposta do nosso clube e desta direcção em particular. É com agrado que temos vindo a ser solicitados para acolher atletas das mais variadas idades e condição física. Estes atletas juntam-se à família escalabitana e desfrutam do rio na nossa companhia e em segurança. Regularmente organizamos eventos náuticos de modo a promover a interacção e integração dos vários escalões e das várias condições físicas, prova disso mesmo é a nossa parceria com a APPACDM que proporciona canoagem a pessoas com necessidades especiais.
Como base de sustentação a tudo isto temos a escola de canoagem do Scalabitano. Esta é sempre o ponto de partida para qualquer atleta, quer do grupo de competição quer do de lazer, nesta acentuamos os aspectos técnicos e desportivos, mas também, os morais e de cidadania, no que diz respeito à camaradagem, ao espírito de união e ao respeito pelo ambiente, estes sim são a nossa maior aposta.
Como base técnica, a nossa direção tem um corpo técnico forte, coeso e capaz de dar respostas nas mais variadas vertentes, quer desportivas quer de lazer. Temos um diretor técnico com formação grau dois e cinco técnicos de grau um, é de salientar que alguns destes técnicos estão a terminar seu estágio no seio do próprio clube, só possível através de protocolo firmado entre a Federação Portuguesa de Canoagem e o nosso clube.

Quais são as linhas orientadoras desta direcção?
A nossa Direcção tem como linhas orientadoras a divulgação, formação e conhecimento da prática de Canoagem no nosso Rio Tejo, envolvendo o máximo de Entidades Públicas e Privadas para realizarmos eventos, provas e demais actividades na nossa Zona Ribeirinha.

Quais são as principais ambições desportivas/competitivas para esta temporada?
Em termos desportivos, devido à situação pandémica actual, não existiram campeonatos regionais, onde os nossos atletas nos têm brindado com honrosas prestações, e só temos três provas do campeonato nacional, que se desenrolam no Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho, onde temos boas perspectivas no que diz respeito à nossa participação. No Kayak pólo, tivemos na época transacta uma atleta que nos deu a alegria de integrar a selecção nacional feminina no Campeonato Europeu de 2019, no entanto este ano todas as provas foram canceladas e estamos expectantes quanto ao recomeço da modalidade.

Qual é o número de atletas filiados no clube?
Contamos actualmente com uns fantásticos 93 sócios, estão na nossa linha da frente 78 atletas federados, 49 atletas masculinos e 29 femininos e as nossas espectaculares atletas, Marta Francisco e Natacha Souto no grupo de Mobilidade Reduzida do Desporto para Todos. O C.C.S. tem em Abrantes um pólo de Canoagem com sete atletas e um Técnico de grau um e em Coruche conta também com quatro atletas e um Técnico de grau um em estágio.

Todos os clubes precisam de apoios para dar continuidade à sua actividade. Que apoios dispõe o Clube de Canoagem Scalabitano?
Neste campo começo por agradecer a todos os Sócios, aos Atletas e Pais, são eles os principais alicerces de qualquer Associação, um agradecimento também às direções anteriores pela saudável gestão do nosso Clube.
Um reconhecimento ao nosso Município e à União de Freguesias da Cidade de Santarém por todo os apoios não só, financeiros, mas também pela divulgação e exposição do nosso clube perante a Comunidade, promovendo as ferramentas necessárias para o crescimento e notoriedade do Clube de Canoagem Scalabitano da Ribeira de Santarém. A Viver Santarém, com a cedência de planos de água para o treino da natação e kayak polo, o Centro de Formação de Canoagem e Desporto Escolar do Agrupamento de Escolas Sá da Bandeira são os nossos parceiros de eleição de formação e divulgação da canoagem em Santarém. A Federação Portuguesa de Canoagem também nos tem dado todo o seu apoio e confiança.
Contamos também com apoios privados como ERA Imobiliária de Santarém, a Caixa de Crédito Agrícola de Santarém e Caixa de Crédito Agrícola de Alcanhões, a Ouplan, a Litovale e todos aqueles que directa ou indirectamente nos apoiam de variadas formas.
Um agradecimento especial à Bonduelle Santarém, ao Engenheiro António Manso, sua Equipa e colaboradores, pela sua visão, estratégia, valores e compromisso de cidadania, não só pelo nosso Clube, mas também pelo nosso Rio Tejo, Zona Ribeirinha e à cidade de Santarém. Precisamos de mais empresas com a mesma visão e valores, pois todos nós precisamos deste elemento principal à vida que é água.

Que investimento tem de fazer um atleta para praticar este desporto?
À partida o nosso clube dispõe de todo o equipamento necessário para a prática da canoagem, temos embarcações de competição, de formação, de lazer, pagaias, coletes e restantes equipamentos de apoio, por 20 euros por mês os nossos atletas fazem parte da escola de canoagem, usufruem destes equipamentos, além do ginásio e natação. No entanto alguns dos nossos atletas adquirem as suas próprias embarcação, neste caso, um atleta pode-se equipar, contudo o que necessita para a prática da modalidade pode vir a ter de despender valores a partir dos 600 euros.

Qual é o processo que deve fazer alguém para entrar no clube?
Para fazer parte da nossa família é fácil! O processo é simples, basta visitar as nossas instalações na Ribeira de Santarém, fazer a sua inscrição como Sócio que consiste em, 15 euros de jóia, 2,5 euros da quota de sócio, 12,5 euros para a filiação na F.P.C., 17,5 euros da escola de Canoagem e atestado médico desportivo no caso da competição, deste modo ficará a despender de 20 euros mensais, já incluindo o seguro obrigatório.
Devo acrescentar que estamos a adquirir novas embarcações e pagaias para a iniciação e alta competição, promovendo assim melhores condições aos nossos futuros e actuais atletas. Temos também voucher de sócio por um dia “+ Tejo” no valor de 15 euros que contempla uma experiência de Canoagem com seguro incluído.

Na sua opinião, esta modalidade devia ser mais estimulada a nível do desporto escolar?
O Desporto Escolar tem sido exemplar na promoção das actividades de canoagem. Acredito que o contributo do desporto escolar, na nossa cidade, tem sido exemplar e fundamental para a divulgação da canoagem, do nosso Clube, do Rio Tejo e da Zona Ribeirinha da Ribeira de Santarém, no entanto muito trabalho ainda existe por fazer, no que diz respeito à captação de atletas/alunos.
Começando por auxiliar na mudança de mentalidades dos encarregados de educação, onde ainda existem dois estigmas, o rio e a Ribeira de Santarém. Tenho conhecimento que no passado ano lectivo, onde o Agrupamento de Escolas Sá da Bandeira incluiu na disciplina de Educação Física a modalidade Canoagem para os cinco anos, mas os pais não deixaram os seus educandos participar nessas aulas. Alegaram que o Rio Tejo é perigoso e é essa a falta de conhecimento que nós queremos combater, por isso consideramos muito importante a prática da canoagem e consequentemente todas as normas de segurança da prática no Rio Tejo e qualquer plano de Água são cumpridas.
Continuamos a apostar no desporto Escolar e queremos convidar os outros Agrupamentos de Santarém a promoverem também a Canoagem, nesse âmbito. É nossa intenção abordar os outros agrupamentos e desafiá-los a dar a conhecer o nosso rio aos seus alunos. As escolas podem aproveitar o rio para dar novos conteúdos práticos por exemplo uma aula, de Geografia, Cidadania ou de Física, até mesmo Matemática… fica o desafio.
O que poderemos dizer acerca destas e outras entidades é que não desistam destes desafios, a união torna-nos mais fortes, só desse modo continuaremos a promover uma modalidade que tanto amamos e a deixar um respeitável legado às gerações presentes e futuras.

A pandemia covid-19 veio parar todo o desporto. Que actividades foram prejudicadas durante o confinamento e que impacto financeiro teve esta paragem?
Um dos impactos foi o cancelamento das provas do campeonato regional, era nessas que daríamos relevo aos nossos parceiros, nomeadamente o cancelamento da nossa prova do campeonato regional de maratona e troféu José Maurício. Esta prova engalanava a zona ribeirinha da nossa cidade com a alegria de cerca de 250 pessoas, era o nosso cartão de visita, aqui daríamos o merecido destaque aos nossos incansáveis parceiros. Paralelamente a estas provas, organizávamos eventos que juntavam a canoagem de lazer, ao convívio e integração da população em geral e pessoas que normalmente não teriam acesso a este desporto.
O cancelamento destes eventos, provocaram a quebra de entradas directas ou indirectas de verbas essenciais na nossa tesouraria.

Quando é que o clube retomou a actividade?
Retomámos a nossa actividade no fim do confinamento, no entanto ainda mantemos em vigor todas as medidas, aconselhadas pela DGS, o Município de Santarém e a própria Federação Portuguesa de Canoagem.

Na sua opinião porque é que a canoagem é importante?
A minha prática de Canoagem resume-se ao lazer e turismo e que tem um efeito antidepressivo natural para mim, é um complemento ao equilíbrio físico e emocional. Convido-os no final de um dia de trabalho a fazermos um pequeno passeio no nosso Rio, para conhecerem o Por do Sol a iluminar a nossa cidade de Santarém e mais não digo…
A nível desportivo considero um dos desportos mais completos, pois trabalhamos quase todos os grupos musculares do nosso corpo e equilíbrio.
Ao nível emocional, aliamos à canoagem os aspectos sociais, cultivando a integração, a auto-estima, tentamos ensinar aos nossos jovens a acreditar neles próprios. Diariamente nos chegam aqui jovens atletas que já passaram por várias modalidades e por aqui ganham raízes, eles e em algumas vezes os pais.

Santarém tem condições para a prática deste desporto?
O nosso plano de água é diferente dos restantes, não é o melhor para a aprendizagem e é desafiante, mas a segurança será sempre o chavão do nosso clube. Por vezes temos de transformar treinos de água em treinos de ginásio ou corrida, mesmo assim, não deixa de ser um plano de água apaixonante, a certeza que temos é que os desafios diários nos tornam mais fortes, mais confiantes e mais experientes.

Que falta fazer para melhorar?
Para melhorar a prática da modalidade não necessitamos de um rio melhor ou de um plano de água melhor, estes dois factores são o que são e não se modificam. O que falta é toda uma envolvência com a modalidade, que tem a zona ribeirinha e respectivo rio como cenário principal, necessitamos de civismo das pessoas que continuam a não respeitar as regras essenciais de convivência com a natureza e o próximo, continuam a deitar tudo o que são resíduos e lixo para as margens do rio e zonas envolventes. As entidades competentes tentam limpar arrumar organizar os espaços, mas é pouco, o ordenamento da zona ribeirinha é urgente e por vezes fácil de implementar, a vigilância policial, no sentido de dar cumprimento à legislação existente, no que diz respeito a acampamentos e consequente largada de lixo, é ineficaz. Continuamos a denunciar pessoas, que fazem das margens do rio autênticas oficinas, onde mudam óleo deixando os resíduos espalhados pelo chão à mercê da mãe natureza.

Que são as principais dificuldades que encontram no Rio Tejo?
Um acesso ao rio para pessoas com mobilidade reduzida do Desporto para Todos, faz toda a diferença, será um melhoramento fantástico, que permitirá o acesso ao rio e à modalidade em particular sem discriminação da condição física.
Dentro das intenções desta direcção, faz parte integrar a solução, temos projectos de requalificação e gestão do espaço envolvente do rio e centro náutico, convidamos as entidades competentes a integrar um projecto, de divulgação dos princípios básicos da preservação da natureza, da segurança em meio fluvial.
A falta de esclarecimento de toda uma sociedade que não dá o devido valor a uma das maiores riquezas que possuímos e dela dependemos, o que precisamos é de abrir uma torneira e ter água potável para saciar a nossa sede, de legumes, da fruta, da carne, do peixe, de um bom vinho, uma boa cerveja e de todo um consumismo inerente à nossa sociedade… e isso reflecte-se no nosso rio e em todos os rios do Planeta. A Poluição sem punição, o controlo dos caudais mínimos do rio, tudo está interligado, todas as nossas acções reflectem-se no ecossistema, este, cada vez mais debilitado, portanto as principais dificuldades do nosso rio somos mesmo nós, não respeitamos, não é connosco, não usufruímos dele directamente. Queremos promover a mudança, comecemos pela na nossa comunidade, trazer o máximo de pessoas, de empresas, seus colaboradores à nossa zona Ribeirinha, para terem uma experiência saudável e segura no nosso Rio Tejo.

Que mensagem quer deixar aos atletas, treinadores, dirigentes e sócios do clube?
Uma palavra de gratidão por todo o apoio e confiança dado a este Scalabitano renovado, mas com respeito pelo passado e esperança no futuro. Juntos somos mais fortes.

Daniel Cepa

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