José Manuel Santos, secretário-geral da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo desde 2008, é candidato à presidência deste organismo com o lema “Nova Ambição”. Ainda sem data oficializada, o acto eleitoral deverá ter lugar no próximo mês de Junho, sendo que o actual presidente, Vítor Silva, não irá ser candidato.

Internacionalização, atractividade, competitividade, sustentabilidade e governança são os cinco desafios estratégicos para o futuro do turismo, traçados pela candidatura de José Manuel Santos à Entidade Regional de Turismo.

“Estamos numa mudança de ciclo”, assume José Manuel Santos, em entrevista ao Correio do Ribatejo, apontando que existe agora uma nova geração que está preparada para liderar os destinos do turismo nestas duas regiões.

“Temos de preparar o sector turístico do Alentejo e do Ribatejo para a dupla transição – verde e digital – e de capacitar os trabalhadores e os empresários”, afirma, considerando que o Ribatejo “tem de se afirmar como um território de lazer, de visitação e de estadia”.

“O Ribatejo tem de disputar a sua parte no todo nacional e de ganhar maior expressão no interior da própria área regional de turismo do Alentejo, na qual só vale 7 por cento”, refere José Manuel Santos.

A equipa que o acompanha nesta candidatura já é constituída por “pessoas do turismo”, seja na área pública ou privada e mesmo na área académica. Da lista para a Comissão Executiva, fazem parte nomes como o de Pedro Beato, Jaime Serra (coordenador do Observatório de Turismo Sustentável do Alentejo), Conceição Grilo (professora na Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre), Porfírio Perdigão (director regional de operações da Vila Galé no Alentejo), José Bizarro (APAVT), Carlos Moura (AHRESP), Isabel Vinagre (administradora da Companhia das Lezírias), Pedro Ribeiro (presidente da CM de Almeirim e da CIM da Lezíria do Tejo). Adiantou também esperar ter um autarca do Baixo Alentejo.

Já a lista para o Conselho de Marketing, que é liderada pelo Grupo Pestana, através de Nuno Pina, integra Rita Soares (Herdade da Malhadinha Nova), Luísa Rebelo (directora do Torre de Palma), Mónica Mcgill (Associação das Casas Brancas), João Raposo (Grupo EmViagem) e Jorge Marvão (empresa Marvão Sustentável).

A lista para a Assembleia Geral é liderada pelo presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha e integra José Pedro Calheiros (director-geral da SAL, empresa de animação turística).

“É uma equipa de turismo, que respira turismo, da hotelaria à animação, ao turismo rural e à academia”, resume o candidato à presidência da ERT do Alentejo e Ribatejo.

Quais são as suas principais prioridades para o desenvolvimento do turismo na região do Alentejo e Ribatejo?

Temos de preparar o sector turístico do Alentejo e do Ribatejo para a dupla transição – verde e digital – e de capacitar os trabalhadores e os empresários. Quando falo do digital, não falo só da digitalização da oferta e do marketing, mas também da preparação e da capacitação das pessoas.

Acelerar a agenda da sustentabilidade e da certificação de todas as áreas de desenvolvimento do turismo, é fundamental.

As viagens ecológicas, que eram uma tendência, estão a ganhar muito terreno e as novas gerações que são os turistas de futuro, ainda consumirão mais “verde”.

Isto implica colocar em marcha um ambicioso plano de adaptação das estruturas turísticas do território. De outro modo, os nossos destinos perderão competitividade e serão ignorados pelos mercados.

Por outro lado, é necessário atrair novo investimento que venha já com esta marca e desígnio. Esta é outra das prioridades. Acredito muito que o Ribatejo tem, já hoje, uma capacidade acrescida de atracção de investimentos com essa marca, mas é necessário influenciar de forma mais decisiva as políticas nestas áreas. O Alentejo está já a trilhar esse caminho há alguns anos.

Diria, ainda, mas não com menor importância, a estruturação da oferta e a criação de mais produtos turísticos. Esta é outra das prioridades.

Na sua opinião, o que falta ao Ribatejo para atingir os níveis de sucesso e procura que o Alentejo tem registado?

São destinos que se encontram em estádios de desenvolvimento distintos. A Lezíria do Tejo é ainda um destino turístico em desenvolvimento, mas acredito que tem condições para acelerar esse processo.

Creio, por exemplo, que o Enoturismo pode ser um desses “ignitores”. A qualidade dos vinhos atingiu níveis muito altos, a CVR é muito dinâmica e começam a aparecer bons investimentos na área do enoturismo.

Curiosamente e se olharmos para o período anterior à pandemia, verificamos que entre 2014 a 2019 a Lezíria do Tejo apresenta um crescimento médio anual muito semelhante ao do Alentejo.

Em termos médios, os hóspedes alojados na Lezíria do Tejo cresceram 12% ao ano, no entanto

a taxa de variação das dormidas fixou-se aquém, em 11%. Isto significa, portanto, que não estamos a reter os visitantes e assim a estadia média estagna.

Não consigo comparar o Ribatejo, muito menos a Lezíria do Tejo, que tem 11 concelhos, ao Alentejo, quando muito conseguirei fazê-lo com uma sub-região do Alentejo.

Eu coloco a questão deste modo: o que temos de fazer para que o Ribatejo ganhe dimensão e escala de negócio no Turismo? Como poderemos desenvolver uma estratégia de visitação mais integrada? Em primeiro lugar, de estruturar dois ou três produtos de base territorial que alimentem uma estratégia de afirmação turística e que ocupem espaço comunicacional. O Ribatejo tem de se afirmar como um território de lazer, de visitação e de estadia.

Isso é marketing. Sem marketing não há turistas, nem investimento. É difícil captar mais investimento, sem uma percepção clara dos empresários que o território está a “mexer”, que atrai mais visitantes. Sim, temos de aprofundar e tornar o marketing turístico do território mais consistente.

Esses produtos turísticos devem ser escolhidos pelos actores do sector, com alguma mediação

dos agentes do território, nomeadamente os Municípios. Mas é uma decisão que tem de ser confrontada com as dinâmicas do mercado. Sei que está em curso a elaboração de um plano de desenvolvimento turístico para a Lezíria, não o conheço, mas é perfeitamente possível que lá se encontre alguma definição relativamente a muitas das opções estratégicas que serão necessárias implementar.

O território é pequeno, o que, de certa forma, pode facilitar o trabalho de planeamento. O Alentejo já está num estádio em que se deve começar a preocupar com a “economia dos visitantes”, ainda que o processo seja muito assimétrico, porque as NUT III não são iguais.

O Alentejo e o Ribatejo não é um território muito extenso para ser “vendido” em conjunto?

Sim, acredito que sim. Por isso defendo uma autonomização estratégica deste território no âmbito da Área Regional de Turismo, através da adopção de uma planificação de marca diferenciada, suportada por recursos específicos (humanos, organizacionais, físicos, nomeadamente através da abertura da sede do Turismo do Ribatejo), e por um programa de acção dinâmico e participado que eleja a organização da oferta como uma das prioridades, devidamente articulado com a comunidade intermunicipal (CIM), os municípios e o trade empresarial da Lezíria. É um grande objectivo que temos para os próximos cinco anos e iremos pô-lo em prática.

A região Ribatejana é repleta de potencialidades a nível do turismo. Mas, quais são as carências identificadas e o que precisa de ser trabalhado?

A baixa estruturação do produto. Os recursos de base territorial são valiosos, mas na maior parte dos casos não estão ligados a uma lógica de venda. Precisamos de atrair DMC [Destination Management Company] e outra tour-operação que se interesse por montar negócios no Ribatejo. E vendê-los.

Atenção que há produtos turísticos de relevo no território e empresas muito dinâmicas a operar, e várias delas com sede comercial na Lezíria, mas não chega, é a tal escala de que eu falava atrás.

Os eventos têm um grande potencial, porque estão ligados à imagem e aos recursos do território, mas necessitam de aumentar a sua marca turística. Isto tem muito a ver com a programação do evento, a data, a dinâmica de comunicação.

De nada serve investir milhares de euros num evento, quando depois não consigo ganhar uma linha de texto nos media relevantes e que impactam o público. Temos de apoiar os municípios e outros organizadores dos eventos nesta área.

Na BTL de 2024 teremos a apresentação, de forma integrada, do calendário de eventos do Ribatejo e procuraremos com a agência regional que faz a promoção nos mercados externos, garantir a sua disseminação, em tempo, aos compradores estrangeiros.

A falta de alojamento é um dos grandes problemas da região do Ribatejo. O que é que a ERTAR poderá fazer para ajudar a contrariar esta condicionante?

Sim, a posição da região nesta variável é muito residual. É um tremendo handicap para o desenvolvimento do turismo no Ribatejo. A nossa ideia é avançar para a promoção dos Roteiros de Investimento por Concelho e falar com as cadeias hoteleiras e outros grupos de turismo. O mercado é muito dinâmico e inventivo, acredito sempre que há investidores prontos a avançar.

Mas temos de fazer o matching entre as oportunidades e as possibilidades que cada concelho pode oferecer. Sinto os Senhores Presidentes de Câmara muito disponíveis para este trabalho.

Temos de promover as oportunidades de investimento. Há presidentes de Câmara deste território que já o estão a fazer. A nossa obrigação é ajudá-los. É o que pretendo fazer a partir de Julho. Costumo dizer que o nosso projecto é marcadamente ‘probusiness’, tem de ser capaz de promover um contexto propício à aceleração de ideias, informação sobre soluções de financiamento, facilitação

de contactos e promoção do acesso a redes e

parceiros na estruturação dos negócios. Bem,

em resumo, diria que temos aqui, no Ribatejo,

um excelente desafio para essa área.

Vem aí mais uma nova geração de fundos

estruturais da União Europeia e que podem

ajudar os empresários, quer na modernização

dos alojamentos existentes – o que é muito importante

– quer na implementação de novos.

Estaremos também atentos a isso. Aliás, estive

directamente envolvido na apresentação

da proposta para a criação de um domínio de

especialização estratégico para o Turismo no

programa regional de fundos. E que vai ajudar

na avaliação de mérito dos projectos.

Que medidas pretende implementar para

aumentar a qualidade e diversidade da oferta

turística na região?

A criação de novos produtos turísticos é

fundamental. Turismo Equestre, Enoturismo&

Gastronomia, Cultural. Pelo menos para

estas três motivações, queremos avançar com

medidas operacionais de desenvolvimento.

É um trabalho para cinco anos, mas ao

fim de três iremos começar a ver resultados

práticos com mais negócios turísticos nestes

segmentos de oferta e uma procura mais qualificada.

Aqui, o trabalho é sinalizar ao sector privado

quais são as principais apostas do sector

turístico no território.

Tem de haver também um trabalho de qualificação

territorial muito profundo, através

do qual os Municípios apoiem a envolvente

externa ao Turismo (requalificação urbana,

combate a focos de poluição visual, entre outros),

isso também facilitará o investimento.

Que estratégias poderão ser desenvolvidas

para incentivar o turismo sustentável

na região?

Como já referi, temos de actualizar e relançar

a estratégia de certificação do Turismo

Sustentável. Isso passa pela implementação

de um plano director com medidas muito claras

para as empresas. Teremos de actuar em

articulação com outras estruturas relevantes,

como a AHRESP, NERSANT, CVT, as associações

comerciais.

Queremos também avançar na certificação

dos restaurantes e com o projecto dos Santuários

Eno-Gastronómicos do Ribatejo. Sabemos

o que fazer, teremos der ter a capacidade

de o executar. O Turismo pode dar o exemplo

nesta área.

Que papel atribui às tecnologias digitais

no desenvolvimento do turismo na região?

Digo sempre: ‘digital first’. Mas, digitalização

não se resume apenas a ter um site. Pelo

contrário: deve ser uma dimensão estruturante na organização do destino. Por isso apostamos muito no conceito de Smart Destination, que é uma das principais prioridades do nosso programa de acção.

Iremos ter equipas próprias a trabalhar neste domínio. O nosso programa de acção 2023-2028 já aponta algumas linhas de intervenção. Queremos liderar este domínio de acção em Portugal.

Na área da comunicação precisamos de modernizar o nosso sistema de promoção e nesse campo queremos desenvolver uma nova app de experiências para o Ribatejo, através da qual o consumidor possa rapidamente comprar os serviços turísticos e afins.

Tenho consciência que estagnamos nesta área. Vamos ter de trabalhar muito para recuperar caminho.

Como candidato à presidência da Entidade de Turismo do Alentejo e Ribatejo, quais são os principais projectos que pretende implementar?

A implementação do plano director de sustentabilidade turística, transversal a toda a região. No Ribatejo, mais especificamente, a criação do roteiro Viagens pelo Ribatejo, materializada na edição de um Guide Book e no desenvolvimento de uma APP, a dinamização dos Roteiros de Investimento Concelhio, a elaboração do Catálogo de Experiências – ligado ao património cultural imaterial -, o lançamento de um programa de comunicação do Enoturismo, a organização e divulgação de uma agenda de eventos e a recuperação do processo de certificação dos restaurantes.

Defendo, também, uma maior visibilidade do território do Ribatejo nas dinâmicas de promoção internacional, mas para isso precisamos de mais músculo empresarial.

O Ribatejo é uma região com muita história e tradições culturais únicas. Este aspecto deve, na sua opinião, ser potencializado?

Sem dúvida. A identidade da região é fortíssima. A minha ideia é criar um Catálogo de Experiências do Património Cultural Imaterial. Trata-se de um produto para nichos de mercado de alto valor, inclusive para clientes estrangeiros. Temos, hoje, já importantes tour-operadores, mesmo nacionais, a operar nestes produtos.

Temos de potenciar melhor o excelente trabalho que alguns municípios estão a desenvolver em estratégias de valorização do seu património, por exemplo e sem querer injusto para os demais, Salvaterra de Magos. Não só com a Falcoaria, que atingiu o reconhecimento mundial, mas também mais recentemente com os Bordados da Glória.

Mas há também dinâmicas interessantes em Benavente com a valorização do Fandango, assim como no Cartaxo. Precisaremos de dois anos para desenvolver este trabalho. Aqui, podemos beneficiar da experiência do Alentejo.

Depois, temos a dimensão gastronómica da Região que é enorme. Temos de a capitalizar mais, essa marca tem de gerar maior notoriedade para os concelhos e, claro, fluxos de visitantes. O interesse dos portugueses à volta do turismo gastronómico de Santarém e Almeirim é impressionante. Na Azambuja temos de avançar de vez com a certificação do Torricado.

A minha ideia é apresentar uma candidatura global ao Programa Regional Alentejo 2030 para financiar toda esta intervenção.

O turismo rural é uma parte importante do sector do turismo na região do Ribatejo. Que medidas poderão ser tomadas para apoiar e desenvolver este tipo de turismo?

O forte aumento de capacidade verificado ao nível do Turismo Rural tornou esta tipologia responsável por quase metade da oferta turística da Lezíria do Tejo. Este aspecto não pode ser descurado. Elegeria cinco medidas: a certificação sustentável das unidades; o apoio à sua tematização; a inclusão desses empreendimentos em roteiros de visitação que queremos promover (Road Trips, entre outros); um programa de mentoria para os empresários deste subsector; apoio à criação de uma rede de oferta colaborativa e um programa de comunicação para o Enoturismo, do qual creio que as unidades de turismo rural muito poderão beneficiar em termos de noites vendidas.

Qual é a sua visão geral para o futuro do turismo na região do Alentejo e Ribatejo, e como pretende alcançá-la?

Crescer. Temos de crescer. Em quantidade e em valor. No Alentejo, posso ver a questão mais numa lógica de valor, mas no Ribatejo precisamos de progredir em número de turistas e de dormidas.

Todas as projecções o indicam. O turismo continuará a crescer em termos mundiais. O Ribatejo tem de disputar a sua parte no todo nacional e de ganhar maior expressão no interior da própria área regional de turismo do Alentejo, na qual só vale 7%.

Veja-se a extraordinária capacidade de recuperação do Turismo, após a pandemia, que nalguns segmentos já recuperou para os níveis de 2019. E note-se que na Lezíria do Tejo isso já aconteceu, ou seja já tivemos no ano passado mais dormidas do que em 2019. Crescer está ligado à internacionalização.

O Ribatejo necessita de se internacionalizar e de se ‘vender’ lá fora. Como é sabido, a ERT não tem a competência da promoção externa, essa está contratualizada entre o Turismo de Portugal e as Agências Regionais de Promoção Turística. Por isso, digo sempre, sobre esta matéria, que é fundamental criar as condições para a que a agência do Alentejo, que também promove o Ribatejo nos mercados externos, se possa focar exclusivamente neste domínio, este é o seu core-business e a ERT tem um papel muito importante nesse apoio.

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