Vítor Varejão, presidente da Associação de Ginástica de Santarém (AGS), em entrevista ao Correio do Ribatejo classifica o impacto da paragem forçada no desporto equivalente “a um murro no estômago”. O dirigente assinala que a maioria das competições a nível distrital na modalidade foi suspensa pois durante a pandemia ocorriam grande parte delas. Também a nível financeiro o impacto foi grande. As questões desportivas e económicas estão a ser apuradas em parceira entre a AGS e a Federação de Ginástica de Portugal havendo já algumas medidas tomadas no seio dos clubes.

Que impactos tem esta paragem forçada na Ginástica da região? 
O impacto foi transversal a todos os sectores de actividade no País e no Mundo. Na Ginástica tendo em consideração que é uma modalidade desportiva individual, de pavilhão onde os ginastas têm de adquirir novos elementos gímnicos, criar memória motora dos mesmos através de muitas repetições, tentando obter uma performance perfeita, rapidamente se conclui que todo este trabalho espalhado um pouco por todo o distrito em mais de mil ginastas que a recuperação será dura. Mas nada a que os ginastas não estejam habituados.
Para além do aspecto técnico, do ponto de vista das organizações a nossa Associação Distrital realizou cerca de 1/5 do seu calendário distrital. Todos os eventos estão suspensos desde os treinos, torneios, campeonatos ou saraus.
Duas deslocações da selecção distrital de trampolins à Holanda e à Suécia foram anuladas e uma das principais competições europeias de trampolins, organizada pelo Gimno Clube de Santarém, foi também anulada, estando reagendada para 2021. Acresce ainda que só 10% dos nossos clubes filiados têm instalações próprias. Todos os restantes treinam em instalações cedidas por municípios ou escolas, e só poderão regressar aos treinos após autorização dessas entidades. Podemos dizer que o impacto foi equivalente a um murro no estômago mas também o foi para as inúmeras pessoas que perderam o seu emprego, as empresas que fecharam ou as pessoas que infelizmente adoeceram ou perderam a vida.

Que competições tiveram de ser suspensas devido a esta pandemia?
A AGS administra toda a actividade gímnica no distrito de Santarém por delegação de competências da Federação de Ginástica de Portugal através do estabelecimento de um contrato programa, do qual resulta que devemos seguir as orientações da Federação Nacional e por sua via do IPDJ.
Por isso e até na Federação Nacional, todo o quadro competitivo está suspenso desde a 1ª quinzena de Março. E era precisamente na 2ª quinzena de Março, Abril e Maio que iriam decorrer o grosso das competições distritais, sendo que das mesmas resultariam apuramento dos ginastas para os campeonatos nacionais. Inclusive como já referi anteriormente as participações das selecções distritais estão suspensas e já havia alguns ginastas de clubes do distrito apurados para representar Portugal em Campeonatos da Europa agora suspensos.

A formação também parou. Considera que isto atrasa o crescimento dos atletas?
A Ginástica é uma modalidade muito exigente, pois para além da força mental os ginastas ainda têm de ter qualidades técnicas, muita força e muita flexibilidade. Este equilíbrio só se consegue com muito treino e muitas repetições dos exercícios. Repetir até à perfeição. Recordo que no nosso distrito temos ginastas que ainda estão a dar os primeiros passos, outros que estão numa fase intermédia e outros que são regularmente chamados às selecções nacionais tendo já obtido muitas medalhas e títulos para o Distrito e para Portugal.

Quais os impactos financeiros que esta paragem provocou aos clubes?
São muitos e significativos. Temos um pouco de tudo no distrito, temos clubes que são exclusivamente clubes de ginástica, clubes com várias modalidades desportivas e clubes que para além das actividades desportivas têm agregadas a si, actividades ligadas à música, dança, e outras.
O montante da factura ainda está por apurar e é de difícil previsão. Se grande parte dos ginastas/pais continuam solidariamente a pagar as mensalidades, outros há que por terem perdido o emprego ou estarem em situação financeira difícil não o têm podido fazer. Daqui resulta que os clubes podem ficar sem possibilidade de pagar aos seus treinadores, cuja esmagadora maioria continua a manter a forma física dos seus ginastas através de aulas online. Muitos destes treinadores são professores de educação física ou têm outra actividade, mas alguns são exclusivamente treinadores e é com estes que estamos fortemente preocupados pois, se tiverem de procurar outra actividade de subsistência representam um activo técnico distrital de reconhecida qualidade que se perde para outra actividade por causa desta pandemia.

Já algum clube da região manifestou preocupação com as dificuldades financeiras?
Sim e estamos a acompanhar as situações que nos têm sido reportadas através de um gabinete criado pela Federação de nome COVID-19, com um grupo criado na internet para divulgação das diferentes linhas de apoio criadas pelo Governo, esclarecendo todas as dúvidas legais e processuais

Que acções tem a Associação de Ginástica de Santarém previstas para apoiar os clubes agora no regresso?
A primeira acção já decidida é prolongar para este ano uma medida que já vem de anos anteriores e que têm a ver com o apoio directo ao pagamento das inscrições de todos os ginastas em todas as provas da Associação e que, para ter uma ideia, no ano anterior foi de cerca de 21 mil euros. Este valor é superior à dotação anual que a nossa Associação recebe da Federação Nacional, para ter uma ideia da dimensão do apoio.
Pretendemos, caso hajam condições para regressar ao calendário competitivo distrital organizar esse calendário em parceria com os clubes, dando a possibilidade aos mesmos de fazerem toda a receita de publicidade e apoios das juntas de freguesia, municípios e stakeholders.
No entanto, repito só com a reabertura dos espaços de treino se poderá equacionar a melhor forma de apoiar o regresso da actividade. No entanto os clubes, treinadores, dirigentes, juízes e ginastas têm a plena consciência que podem contar com a sua Associação de Ginástica de Santarém, para colocar o melhor dos seus meios e do seu esforço para minimizar os impactos negativos que esta situação está a causar ao desenvolvimento e à prática das diferentes disciplinas gímnicas do nosso distrito.

​A Associação tem estado em contacto com a Federação para planear o regresso da Ginástica à região?
Sim. A Federação e todas as Associações Territoriais têm reunido mensalmente, através do Conselho Consultivo da Federação, na qual têm assento os Presidentes das Associações e o grupo de coordenação da Federação Nacional designado COVID-19.
A Federação tem estado em contacto quer com o IPDJ, com a União Europeia de Ginástica e com a Federação Internacional de Ginástica, para assim que, quer a Organização Mundial de Saúde quer a Direcção Geral de Saúde e o Governo de Portugal entendam estar reunidas as condições, possamos regressar aos treinos. Daí até ao regresso às competições, só quando existirem condições, um bom plano de contingência e reuniões com todos os clubes do distrito. Aliás como fazemos todos os anos no início de todas as épocas. Neste aspecto, o modo de intervenção da Associação é sempre o mesmo: planear as actividades, incrementar as actividades, analisar e voltar a planear no ano seguinte. Simples mas sempre com resultados excelentes que nos permitiram chegar pelo segundo ano consecutivo a 1ª Associação do País.

Que apoios podem dar também a Federação de Ginástica de Portugal aos clubes e em concreto à Associação de Ginástica de Santarém?
A estrutura federativa foi, como todos, apanhada de surpresa por esta pandemia, mas com a resiliência que caracteriza a família gímnica saberemos encontrar os melhores caminhos para o retomar de todas as actividades.
A Federação criou o grupo COVID-19 a que já aludi anteriormente e que esclarece todas as dúvidas que os clubes possam ter e já informou as Associações Distritais do valor da sua dotação. Por solicitação das Associações Distritais nas reuniões mantidas em Conselho Consultivo com a Federação foi solicitado e concedido que todos os ginastas mantivessem o mesmo escalão etário até ao final de 2020 ao invés de mudarem no mês de Setembro. Todos os Ginastas que obtiveram o estatuto de ginasta elite poderão mantê-lo por mais um ano e todos os juízes nacionais e internacionais poderão manter o seu brevet que caducaria em 2020, validado até Dezembro de 2021. Estes são alguns exemplos da preocupação constante entre as diferentes entidades gímnicas.

Considera que as autarquias têm de olhar mais para estas modalidade e menos para o futebol?
Na nossa perspectiva, as autarquias devem olhar todas as modalidades por igual.

Que mensagem gostaria de deixar aos atletas, treinadores e clubes da região?
A mensagem que a AGS quer deixar é uma mensagem de esperança. Estamos habituados a trabalhar muito para chegar a um nível que tínhamos antes da pandemia. No entanto, queremos deixar uma coisa muito clara para todos os dirigentes, treinadores, juízes, mas principalmente aos pais e ginastas, que nenhum campeonato vale uma Vida. Só estaremos seguros a 100% quando houver uma vacina para a COVID-19. Contudo, temos consciência de que a vida não pode parar mas que só regressaremos à actividade depois de autorizados pela Federação, com um plano de contingência muito bem definido e depois de ouvidos todos os Clubes nossos filiados.
Juntos somos mais fortes e todos seremos poucos para que todos e cada um possam dar um contributo para que sejam retomadas todas as actividades e de todas as formas criarmos as necessárias condições para a saudável prática da ginástica e a retoma no prazo possível, e ultrapassada a crise sanitária.

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