Pedro Canavarro celebrou os seus 88 anos com um gesto de silêncio e criação: o lançamento do livro “O Infinito à Cabeceira”, um conjunto de poemas escritos na intimidade da sua casa natal, em Santarém, onde vive só e onde espera morrer. Num jardim banhado pelas memórias da sua linhagem liberal, o autor acolheu dezenas de amigos e figuras públicas para a apresentação da obra, que teve lugar na Casa-Museu Passos Canavarro no dia 9 de Maio, data em que se assinala também o Dia da Europa.
Publicada pela Caleidoscópio, a nova obra reúne textos poéticos marcados pela meditação, pela depuração da linguagem e por uma espiritualidade que atravessa a memória, o tempo e o infinito. Guilherme d’Oliveira Martins, antigo governante e responsável pela apresentação do livro, descreveu a obra como “uma criação silenciosa e luminosa”, e sublinhou o papel do autor como pensador livre e vigilante da cultura portuguesa.
Num discurso profundamente comovido, Pedro Canavarro partilhou as motivações íntimas por detrás da escrita, evocando a importância do silêncio, o valor da diferença e o privilégio de contemplar, todas as manhãs, a paisagem ribatejana como ponto de partida para a criação. O livro junta-se a uma vasta bibliografia que cruza o ensaio, a política e a poesia, e afirma a continuidade de uma vida dedicada à palavra, à cultura e à preservação da memória.
No dia 9 de Maio, data em que se assinala também o Dia da Europa, Pedro Canavarro reuniu amigos, familiares e admiradores no jardim da Casa-Museu Passos Canavarro, em Santarém, para celebrar os seus 88 anos de vida com o lançamento de mais uma obra literária. Intitulado “O Infinito à Cabeceira”, o novo livro de Canavarro, publicado pela editora Caleidoscópio, apresenta-se como um conjunto de poemas marcados pela meditação, pelo silêncio e pelo sentido da eternidade.
A sessão contou com a apresentação de Guilherme d’Oliveira Martins, antigo governante e deputado, que destacou o contributo do autor para a cultura portuguesa e sublinhou o carácter espiritual da obra: “O infinito é de todos, há os que o escolhem para já viver, há os que o sentem para já crer… o infinito acontece, é um grande silêncio em Deus”, afirmou.
A cerimónia decorreu num ambiente intimista e simbólico, com vista para o Tejo e ladeada pelas árvores e flores do jardim da Casa-Museu, espaço profundamente ligado à história da família Canavarro e ao legado do liberal Passos Manuel. Estiveram presentes autarcas, autoridades religiosas, académicos, representantes do meio cultural e associativo, além de numerosos amigos do autor.
No prefácio da obra, Adelino Ascenso observa que os poemas de Pedro Canavarro “pulam do seu interior com um impulso indomesticável”, traduzindo um gesto de entrega meditativa e orante. “No Infinito à cabeceira é o grande silêncio em Deus”, resume o poeta, evocando o tom de recolhimento e transcendência que perpassa os versos.
Entre temas como o tempo, a memória, a morte e a beleza da natureza, o livro revela uma escrita depurada, atravessada por referências à cultura japonesa – país onde Canavarro viveu e leccionou – e ao Ribatejo, paisagem espiritual e física da sua vida. No texto introdutório, o autor escreve: “Se nasci olhando o Poente, quero morrer olhando o Nascente”, sugerindo o equilíbrio entre ocidente e oriente, fim e recomeço.
Pedro Canavarro: “A casa onde nasci, onde vivo só, e onde espero morrer”
Nesta sessão de lançamento, Pedro Canavarro abriu o coração e a alma perante dezenas de amigos, familiares e convidados reunidos na Casa-Museu Passos Canavarro, em Santarém. Ao apresentar o seu mais recente livro de poemas, “O Infinito à Cabeceira”, o autor partilhou um testemunho raro de lucidez, sensibilidade e gratidão — pela vida, pela casa e pelo silêncio que o acompanha há três anos.
“Eu tinha 85 anos e disse: é a altura de voltar à casa.” A decisão de abandonar o último compromisso oficial enquanto académico da Academia Nacional de Belas-Artes, em 2022, marcou o regresso definitivo ao lugar onde nasceu, cresceu e onde escolheu viver o tempo que ainda tem por diante: “Esta casa, onde eu nasci, onde vivo só, onde espero morrer, tem sido uma casa fantástica.”
O silêncio surge como um dos grandes protagonistas do discurso de Canavarro. Ao deixar para trás o ruído das obrigações institucionais, encontrou uma nova forma de liberdade criativa: “Descobri a criatividade do silêncio. E o prazer do silêncio é uma coisa extraordinária.”
Numa confissão de maturidade espiritual, afirmou: “Hoje em dia é uma paz enorme. Não receio. Se acontecer qualquer coisa, é porque tem que acontecer.” E acrescentou: “Essa liberdade de aceitar é uma aquisição destes três anos de silêncio.”
Todas as manhãs, Pedro Canavarro realiza um gesto simples, mas carregado de simbolismo: “Abro as janelas todas da casa. É um acto de uma alegria extraordinária.” A visão do Tejo, da lezíria, das nuvens e do céu transforma-se num motor de contemplação e resistência: “É um estímulo. Há uma acção contra a corrente. Ser diferente.”
Essa paisagem dá sentido e impulso à escrita: “O partido que eu tiro todos os dias é lutar contra a corrente. Se achas que tens de ser diferente, sê”, reflectiu.
O jardim claustral e o infinito à cabeceira
Ao descrever o jardim interior da casa como um espaço “fechado pelos quatro muros ferrados, com uma torre que se nos empresta à maneira japonesa”, Canavarro estabelece um paralelo entre a sua vivência no Japão e a sua introspecção actual em Santarém. É neste espaço interior e simbólico que nasce “O Infinito à Cabeceira”.
“Oito é o infinito. E os oitenta e oito anos apresentam-se como tal. Todos nós nascemos com o infinito à cabeceira”, disse.
O discurso terminou com gestos de reconhecimento a amigos e colaboradores que enriqueceram a Casa-Museu com ofertas significativas — da planta da casa a peças de arte oriental, passando por uma evocação especial a Manuela Gouveia, que ali irá oferecer um concerto de piano e violino, aberto a um público restrito.
Entre sorrisos e afectos, Canavarro encerrou com simplicidade: “Agora seremos muito mais amigos com o copo na mão e a ver o entardecer sobre o Tejo. Vamos a isso?”
Ao longo da sua vida, Pedro Canavarro construiu uma trajectória notável como historiador, professor universitário, político e defensor do património cultural. Trineto de Passos Manuel, preside actualmente à Fundação que leva o nome do seu antepassado e dirige a Casa-Museu Passos Canavarro, espaço que se mantém como polo activo de cultura em Santarém.
“O Infinito à Cabeceira” junta-se, assim, à vasta produção ensaística, poética e memorialista do autor, reafirmando a sua vitalidade intelectual e o seu olhar sereno sobre a finitude e a beleza. No dia do seu aniversário, Canavarro ofereceu palavras, memórias e versos — devolvendo à cidade que o viu crescer a herança da contemplação e da arte.
Uma vida ao serviço da cultura
Pedro Manuel Guedes de Passos Canavarro nasceu em 1937 e construiu uma carreira plural e singular: historiador, professor universitário, político, diplomata, ensaísta e defensor do património. Licenciado em História e com formação em Museologia, leccionou na Universidade de Lisboa e foi leitor de Português no Japão. Na política, destacou-se como deputado e dirigente do Partido Renovador Democrático, além de vereador em Santarém.
Trineto de Passos Manuel, figura central do liberalismo português do século XIX, Pedro Canavarro preside actualmente à Fundação que perpetua a memória do seu antepassado, tendo sido também o principal responsável pela Casa-Museu Passos Canavarro, inaugurada em 2011, hoje considerada um dos mais importantes espaços culturais privados da cidade.
Ao longo das últimas décadas, tem promovido exposições, colóquios, edições e iniciativas ligadas à arte, à história e à reflexão sobre o papel de Portugal no mundo. Recebeu distinções nacionais e internacionais — como a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a Ordem do Sol Nascente, atribuída pelo Imperador do Japão.