Nas últimas crónicas referimos a diversas formas de destruição de fortalezas e cidades, que aconteceram no nosso antigo Império, originados por bombardeamento e explosões, causadores de morte, caos e ruína.

Vejamos hoje algumas dessas explosões em navios de guerra, fossem elas provocadas por bravura ou desleixo e que também trouxeram caos e morte. Se para aqui trago o tema faço-o pela complexidade tecnológica e custo de uma embarcação de guerra e o seu grande papel enquanto instrumento bélico. Vejamos dois casos onde imperaram a bravura e a coragem (século XVII) e um terceiro, a desordem ou cobardia (século XIX).

1. Em Novembro de 1608 vai-se registar um grave confronto entre portugueses e japoneses, estes marinheiros numa embarcação do “daimio” Arima Hanurobu, e causadores de graves distúrbios, ofensas, agressões e roubos pelas ruas de Macau. O Capitão-Mór André Pessoa, prontamente mobilizou a guarnição militar da praça por modo a restaurar a ordem pública na cidade sob sua autoridade. Aos homens de Arima, juntam-se outros japoneses oriundos de diversas outras embarcações então aí ancoradas.

A 30 de Novembro de 1608, após violentos combates nas ruas, André Pessoa promete poupar a vida dos que se rendessem.

Poucos o fizeram e a larga maioria dos insurrectos acabou morta. Em 1610, o navio comandado por André Pessoa, o “Nossa Senhora da Graça” é fretado para ir a Nagasaki. Chegado ao porto japonês, o daimio Arima Hanurobu, reconhecendo a embarcação portuguesa, ordena uma inspeção com o propósito de lhe confiscar a carga a título de compensação pelas vidas dos seus servos mortos pela guarnição portuguesa de Macau dois anos antes. André Pessoa recusa veementemente toda e qualquer atribuição de responsabilidades pelos incidentes então verificados. Reportado este incidente ao “shogun” Tokugawa, este ordena a Arima Harunobu que prenda o Capitão e a sua embarcação. Procurando evitar um confronto de consequências imprevisíveis e potencialmente desastrosas para ambas as partes, o Capitão Pessoa zarpa para Sul, tendo ficado imobilizado ao largo da costa de Fukuma devido aos fracos ventos que se fizeram

sentir. As forças de Arima, de um milhar de homens, que partem em sua perseguição, vai atacar mas sem sucesso devido à superioridade dos canhões do “Nossa Senhora da Graça” que, apesar da enorme desproporção de meios humanos em confronto, facilmente repeliu todas as investidas das embarcações de Arima. Porém, o “Nossa Senhora da Graça” acabaria por se danificar na sequência da explosão acidental de uma granada portuguesa no próprio convés da nau no terceiro dia de batalha e quando os portugueses já se davam por vitoriosos. A deflagração da granada não só danificou gravemente o navio como matou e feriu alguns dos portugueses.

Apercebendo-se da impossibilidade de salvar a sua nau e da certeza do seu fim e dos seus homens nas lâminas das “katanas” japonesas, André Pessoa desce ao paiol munido de uma tocha e dirigindo-se ao paiol faz explodir a embarcação. Este evento terá, à época, causado grande impressão entre os japoneses que interpretaram no gesto de Pessoa um acto de grande bravura e nobreza, passando o afundamento do “Nossa Senhora da Graça” a integrar o folclore de Nagasaki, no festival tradicional “Nagasaki Kunchi”, celebrado todos os anos entre os dias 7 e 9 de Outubro (1).

2. Em Agosto de 1511, pela sua posição estratégica face às rotas mercantis entre os oceanos Índico e Pacífico, Afonso de Albuquerque, vai ocupar Malaca, derrotando o sultão Mahamud Shah. É aqui que os portugueses contactam pela primeira vez com os chineses. Vitorioso, inicia a construção da fortaleza denominada Formosa. Acabara de conquistar o terceiro e último ponto-chave para firmar solidamente a lusa presença no Oriente: Ormuz, Goa e Malaca. Esta tornou- se um centro político-administrativo de onde irradiou a acção económica e religiosa portuguesa no Extremo Oriente. Na segunda metade do século XVI, a reacção à captura de Malaca ditou um clima de guerra permanente com os sultões malaios, principalmente com os de Johor, Japara (Java) e Achém, que promoveram cercos constantes à cidade, todos bem defendidos. No cerco de 1582, quando a armada do sultão de Achém, de mais de cem navios, bloqueava Malaca causando um enorme dano à cidade, Nuno Monteiro, após rude combate, faz explodir a sua galé no meio da armada de Achém, levando ao afundamento de muitos navios, o que leva aquela a levantar o cerco e retirar-se. Em Janeiro de 1641 os holandeses aliados às forças dos sultanatos de Achém e de Johor conquistam Malaca após cinco meses de cerco. Da força lusa restavam 260 homens. Durara 130 anos a soberania portuguesa (2).

3. A fragata D. Maria II era a mais imponente fragata da marinha portuguesa do século XIX. Em 1849 largou para a Índia, com escala por Moçambique. Na sequência do assassinato do governador Ferreira do Amaral, em Macau a 22 de Agosto de 1849 por cidadãos vindos da China, é para lá enviada em missão de soberania. No dia 29 de Outubro de 1850 já se encontrava nas águas do forte da Taipa, em Macau. Acalmada a situação e quando se preparava para regressar a Goa, uma violenta explosão a bordo destruiu todo o navio, naquele que foi considerado o mais trágico acidente da história da marinha portuguesa.

A tragédia ocorreu cerca das duas da tarde, pouco depois da execução de salvas (comemorava-se o aniversário do rei) por parte dos vários navios de guerra que estavam ancorados ao largo da baía da Praia Grande, no chamado ancoradouro da Taipa.

A versão dos sobreviventes é que a explosão se deveu a um acto de vingança do guarda do paiol de munições, pessoa dada ao vinho, muitas vezes punido por embriaguez e negligência, pois muitos o tinham ouvido ameaçar deitar fogo ao paiol. Outra versão, que não colheu consenso, foi o de ter sido um acto de sabotagem da parte dos chineses, os mesmos que haviam assassinado o Governador Ferreira do Amaral (3).

[C. Boxer (1) LF Thomaz (2), J. Botas (3). Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico. Imagem de https://www.marinha.pt/pt/media-center/efemerides].

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