Quinze escolas da zona de Lisboa receberam o projecto “O pinto vai à escola”, dinamizado por investigadoras do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) com o objectivo de contribuir para a conservação das raças de galinhas portuguesas.

Inês Carolino, investigadora no pólo de Santarém do INIAV, disse à Lusa que o projecto, que decorreu entre Março e maio últimos em 15 escolas, “foi um sucesso”, dado o entusiasmo com que foi vivido por alunos e professores que, ao longo de um mês, acolheram uma incubadora e 20 ovos e viram nascer os pintos das quatro raças autóctones portuguesas.

A trabalhar desde 2012 com a Associação de Criadores de Bovinos de Raça Barrosã (AMIBA), entidade detentora dos quatro livros genealógicos das raças de galinhas portuguesas, para evitar a extinção deste “património histórico e cultural” do país, Inês Carolino decidiu arrancar com um projecto que ajudasse a cumprir a função do Estado de garantir a conservação e contribuísse para a divulgação das raças autóctones.

“Há não só uma distância grande entre o campo e a cidade, mas sobretudo pouca informação sobre o que se come, como é produzido, como nascem e vivem os animais”, disse, salientando a obrigação do Estado em divulgar e dar condições para a conservação das raças autóctones e a preocupação da União Europeia de educar para a alimentação.

Incentivada pelo entusiasmo de uma professora de Lisboa que comprou algumas galinhas destas raças para o seu quintal, conquistando o interesse de uma aluna muito curiosa sobre o processo de incubação, a investigadora colocou uma incubadora na escola e a forma como decorreu o processo até ao nascimento dos pintos levou-a a querer alargar a iniciativa.

Contactado o programa educativo ambiental Eco-Escolas e feito o convite a 20 escolas de Lisboa, acabaram a ser 30 a inscrever-se, sendo que as que ficaram de fora na primeira fase serão as primeiras a receber as incubadoras no início do próximo ano lectivo.

O projecto começa com uma apresentação em que Inês Carolino fala das raças e de detalhes que a maioria das pessoas desconhece, como os pintos poderem ser pretos ou amarelos ou que há ovos incubados que não chegam a eclodir, e desfaz “mal-entendidos” sobre a produção animal, que “está mal conotada” pela ideia de que “se trata mal”, ou sobre os ovos que se comem (que não são galados, logo “não são pintos”).

Com todo o equipamento cedido pelo INIAV, o projecto, que inclui os 21 dias de incubação, dura em cada escola até à primeira semana de vida dos pintos, altura em que estes regressam às instalações da Fonte Boa, em Santarém.

“Mesmo assim já há uma grande ligação das crianças aos pintos. Dão-lhes nomes, choram, querem levá-los para casa. Gera-se uma emoção enorme”, disse, salientando que esse momento é também aproveitado para explicar como vivem estes animais e o que é necessário para os ter.

Duas das escolas arranjaram capoeiras e ficaram com alguns animais, sendo esta uma possibilidade se forem garantidas “todas as condições”, disse.

O projecto, que para já terá uma duração de cinco anos, poderá ser alargado para o Sul e vir a realizar-se também a Norte, através da AMIBA, estando a ser ponderada uma candidatura a financiamento através da Sociedade Portuguesa de Recursos Genéticos Animais (SPREGA), instituição sem fins lucrativos que tem fornecido os ‘posters’ de divulgação das raças, adiantou.

Sem qualquer custo para as escolas – que só têm que indicar um(a) professor(a) responsável pelo projecto -, além do equipamento necessário, é fornecido, graças ao apoio de uma unidade de rações de Ferreira do Zêzere, um saco de alimento para a primeira semana de vida dos animais, salientou.

Segundo dados de 2018 da AMIBA, os animais com as características exemplares das quatro raças portuguesas não chegam aos 5.000, o que leva a que se encontrem em risco de extinção.

Das quatro raças existentes – Amarela, Branca, Pedrês Portuguesa e Preta Lusitânica -, a Branca é a que apresenta um menor número de efectivos (com apenas 900 reprodutoras em todo o país).

Esta situação esteve na origem do protocolo de colaboração com a Estação Zootécnica Nacional (EZN), entidade do INIAV responsável pela investigação e desenvolvimento experimental em produção animal, detentora do Banco Português de Germoplasma Animal, para a constituição de um núcleo, na Fonte Boa, no Vale de Santarém, para garantir a preservação das quatro raças.

Esta parceria permitiu a realização de vários estudos, nomeadamente, para registo de dados biométricos e a caracterização genética das quatro raças, percebendo as diferenças entre elas, salientando Inês Carolino o papel destes animais na agricultura familiar.

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