José Arruda assumiu recentemente a presidência da Delegação de Santarém da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, a única, além da sede nacional em Lisboa, a dispor de instalações próprias. Determinado a reforçar o debate cívico e estratégico no distrito, José Arruda propõe-se dar continuidade ao trabalho iniciado por Salomé Rafael, apostando numa direcção e num Conselho Consultivo que integrem personalidades de várias gerações e sectores de actividade. Entre as prioridades para o mandato, destaca-se a promoção de temas estruturantes como o ensino, o desporto, a imigração, a agricultura, a cultura e a comunicação social, com o objectivo de reflectir sobre os caminhos de desenvolvimento da região.
Consciente da falta de peso político do Ribatejo no panorama nacional, o novo presidente da delegação pretende afirmar a SEDES como um espaço independente de reflexão crítica e de mobilização cívica, contribuindo para a construção de lideranças regionais e para a valorização do território. A aposta no envolvimento dos jovens, através do projecto “SEDES Jovem”, é vista como um instrumento fundamental para garantir a renovação de ideias e o futuro da participação democrática. Defensor de uma regionalização efectiva, José Arruda acredita que este é o tempo de pensar o distrito em todas as suas dimensões, colocando temas como o rio Tejo e a gestão da água no centro do debate público.
O que significa, para si, assumir a presidência da Delegação de Santarém da SEDES e quais foram as motivações que o levaram a aceitar este desafio?
Assumir a presidência da Delegação de Santarém da SEDES significa, acima de tudo, dar continuidade a um trabalho de reflexão e debate sobre as grandes questões nacionais e regionais que a associação tem vindo a impulsionar desde há 55 anos. A SEDES é reconhecida pelo seu papel de relevo na análise crítica e construtiva das políticas públicas, contribuindo activamente para as reformas necessárias ao país.
A criação destas delegações regionais surgiu com a presidência nacional de Álvaro Beleza, há cerca de cinco anos, com o objectivo de descentralizar a reflexão e permitir uma abordagem mais próxima das realidades locais. Desde então, integrei a primeira direcção da SEDES Santarém, liderada por Salomé Rafael. Quando ela anunciou que não pretendia continuar na presidência, senti que podia dar um contributo positivo e decidi avançar com a minha candidatura, assumindo esse compromisso publicamente durante a última iniciativa que realizámos em conjunto.
A actual direcção tem grande continuidade em relação à anterior, tendo mudado apenas três elementos. Uma das minhas prioridades foi criar um Conselho Consultivo forte, com participação activa na definição estratégica da região. Foi nesse sentido que convidei para este órgão os presidentes dos dois institutos politécnicos do distrito – Santarém e Tomar –, a directora do ISLA, e outras personalidades representativas das diferentes áreas de actuação regional, reforçando também a participação de elementos do norte do distrito, anteriormente pouco representados.
Outro passo significativo foi convidar Isaura Morais para presidir ao Conselho Consultivo. Trata-se de uma figura com uma reconhecida carreira política, tanto a nível autárquico como parlamentar, e acredito que a sua liderança trará peso institucional e entusiasmo ao nosso trabalho. A sua experiência será essencial para garantirmos que este mandato fique marcado por um forte dinamismo na promoção do debate e reflexão sobre os principais desafios que a região enfrenta.
A Delegação de Santarém é, a par da sede nacional em Lisboa, a única com instalações próprias, inauguradas precisamente no dia 22 de Abril. Que importância atribui a este facto e que simbolismo tem, no fundo, para a região?
A inauguração das instalações próprias da Delegação de Santarém da SEDES tem, para mim, uma importância muito especial. Na cerimónia de abertura, sublinhei junto do presidente nacional, Álvaro Beleza, que somos a primeira delegação no país a dispor de um espaço físico próprio, o que só foi possível graças ao apoio imprescindível da Câmara Municipal de Santarém. Este facto não é apenas simbólico: representa uma afirmação clara da relevância da SEDES no contexto regional e reforça a capacidade que teremos de dinamizar acções concretas, abertas à comunidade e ao diálogo cívico.
Desde que anunciei a minha candidatura à presidência até ao momento da tomada de posse, já conseguimos captar mais de 25 novos associados no distrito, um número que comprova o interesse crescente da sociedade civil pelo nosso projecto. Queremos reunir pessoas de referência nas diversas áreas e com elas reflectir profundamente sobre os desafios e o futuro da região.
Vivemos actualmente um momento particularmente crítico, em que o distrito parece ter atingido um ponto limite. Falta-nos peso político efectivo a nível regional, e sentimos claramente essa ausência de liderança. A nossa missão passa por combater este vazio através da promoção do debate e da reflexão estratégica. É precisamente com esse objectivo que organizámos já uma primeira grande iniciativa, em Tomar, envolvendo os cabeças de lista às eleições legislativas de 18 de Maio.
É urgente ouvir os partidos sobre aquilo que verdadeiramente pretendem para o distrito, porque tradicionalmente o debate público centra-se exclusivamente na escolha do próximo primeiro-ministro, deixando totalmente de lado as necessidades e aspirações específicas da região. Queremos inverter esta tendência. É tempo de discutirmos as propostas concretas que diferenciem positivamente o Ribatejo face a outras regiões e que permitam impulsionar o seu crescimento sustentado. Precisamos urgentemente de líderes regionais comprometidos com a defesa dos interesses colectivos do distrito e estamos determinados a trabalhar para que isso aconteça.
Quais são as grandes prioridades para este mandato? E que áreas considera estratégicas para o desenvolvimento do Ribatejo?
As prioridades para este mandato assentam, desde logo, numa ampla abrangência de temáticas consideradas estratégicas para o desenvolvimento regional, envolvendo personalidades de várias gerações e com diferentes perspectivas. Essa diversidade ficou clara desde o início na composição dos órgãos directivos da delegação, quer na direcção, quer no Conselho Consultivo.
Destaco, em particular, a recente adesão de Miguel Botas Castanho, uma figura reconhecida a nível nacional e regional, com quem pretendemos dar uma atenção especial ao tema do ensino e da academia. Queremos aprofundar o debate sobre as respostas necessárias ao ensino profissional e politécnico na região, pois consideramos esta área absolutamente fundamental para o futuro.
Outra das áreas prioritárias é o desporto. Contamos, na nossa equipa, com Luís Arrais, presidente da Associação de Ginástica de Portugal, e com Ricardo, do Instituto Português do Desporto e Juventude. Pretendemos trazer à discussão o papel do desporto como factor de desenvolvimento económico, social e cultural, reconhecendo a sua importância para a região.
Além disso, procuraremos debater temas históricos e culturais relevantes, e analisar o fenómeno da imigração e das migrações, tentando compreender o impacto real que estas dinâmicas têm no distrito. Trata-se de questões que têm estado relativamente ausentes do debate público regional e que importa agora aprofundar.
Continuaremos igualmente a dar especial atenção à economia regional, retomando as boas experiências que tivemos no passado recente, nomeadamente com Salomé Rafael. Pretendemos debater a fundo o potencial agrícola da região, área em que contamos com a colaboração de Nuno Russo, um reconhecido especialista neste sector, actualmente na direcção. No domínio da cultura, destacamos a presença de Nuno Domingos, que contribuirá para uma reflexão séria sobre a valorização cultural do Ribatejo.
Por último, é nossa intenção abrir um amplo debate sobre o papel estratégico da comunicação social na região, sublinhando a importância de termos órgãos de comunicação social independentes e livres. Queremos perceber o real impacto que os media têm actualmente no distrito, e de que forma podem contribuir ainda mais eficazmente para uma cidadania informada e participativa.
Um dos projectos inovadores anunciados é o “SEDES Jovem”. De que forma pretende envolver os mais novos na vida cívica e na reflexão sobre o futuro da região? Como é que surgiu este projecto?
O projecto “SEDES Jovem” surgiu como um desafio lançado pelo presidente nacional da associação, Álvaro Beleza, que destacou o trabalho relevante que esta iniciativa tem vindo a desempenhar a nível nacional, promovendo um espaço aberto e construtivo para o debate de ideias entre os jovens. Este movimento nacional tem demonstrado que é possível mobilizar eficazmente as novas gerações para a reflexão e a intervenção cívica.
No contexto da Delegação de Santarém, pretendemos implementar este projecto com uma dinâmica própria e adaptada às especificidades da nossa região. O primeiro passo será identificar um responsável distrital para o “SEDES Jovem”, uma figura-chave que tenha proximidade e sensibilidade às questões que mobilizam os mais novos, sendo capaz de liderar acções concretas destinadas a este público.
Estamos conscientes de que os jovens têm um papel absolutamente decisivo na construção do futuro da nossa região. Não os podemos deixar à margem da reflexão sobre os grandes desafios que enfrentamos. Por isso, pretendemos organizar diversas iniciativas direccionadas aos jovens do distrito, criando condições efectivas para que possam participar, debater e influenciar activamente o futuro das suas comunidades.
É urgente e essencial trazer esta nova geração para o centro da vida pública, dando-lhes voz, espaço e protagonismo. Só desta forma será possível renovar ideias, estratégias e soluções que vão determinar o desenvolvimento sustentável da região nos próximos anos.
Que mensagem gostaria de deixar aos cidadãos da região que ainda não conhecem a SEDES ou que possam ter uma ideia desactualizada sobre o seu papel na sociedade portuguesa?
Gostaria de deixar uma mensagem clara e mobilizadora aos cidadãos do Ribatejo sobre o papel fundamental que a SEDES tem desempenhado, desde a sua fundação, na sociedade portuguesa. A SEDES nasceu há 55 anos, ainda antes do 25 de Abril, graças a um grupo notável de personalidades cujo objectivo central era promover a reflexão séria e profunda sobre as grandes questões nacionais. Na época, este movimento destacou-se, entre outros aspectos, pela defesa da integração de Portugal na então Comunidade Económica Europeia (CEE).
Após o 25 de Abril, muitos associados da SEDES assumiram responsabilidades políticas de grande relevo e desempenharam um papel crucial na governação e na definição de estratégias nacionais estruturantes. Esse espírito pioneiro e crítico mantém-se vivo até hoje, continuando a SEDES a promover o debate e a análise rigorosa dos desafios que Portugal enfrenta, com um compromisso firme com a democracia e o desenvolvimento económico e social.
Agora, chegou o momento de aplicar esse espírito à nossa realidade regional. A Delegação de Santarém da SEDES pretende colocar na agenda pública temas vitais para o Ribatejo, frequentemente esquecidos ou negligenciados. Dou como exemplo a recente iniciativa dedicada ao debate sobre o rio Tejo e à gestão sustentável da água, temas que precisam urgentemente de ser discutidos com rigor e profundidade, pois são determinantes para o futuro da região.
É necessário envolver as pessoas nestes debates, incentivando uma cidadania mais activa e participativa. Estamos convictos de que só através deste esforço colectivo conseguiremos impulsionar um desenvolvimento regional efectivo e sustentável. É também minha profunda convicção que a regionalização se tornará inevitável no nosso país, e nesse contexto, a SEDES terá um papel decisivo na preparação e no estímulo desse debate essencial.