O Rancho Folclórico do Bairro de Santarém, Graínho e Fontainhas realizou, no passado sábado (dia 25 de Junho), a 36.ª edição do Festival de Folclore, que decorreu junto ao Centro Cultural, nas Fontaínhas, e contou com a participação de cinco Grupos.
De âmbito nacional, o festival deste ano contou com as participações dos ranchos folclóricos Típico de Pombal, da Casa do Povo de Arouca, da Ribeira de Celavisa (Arganil), do Bairro de Santarém, Graínho e Fontainhas e do Grupo Regional de Moreira, da Maia, todos associados da Federação do Folclore Português.
Os ranchos participantes no Festival foram recebidos pelo vereador da Cultura da Câmara Municipal de Santarém, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, na tarde de sábado, tendo Nuno Domingos sublinhado ser “com uma enorme satisfação que voltamos a receber os grupos que participam neste festival de folclore, após dois anos de interregno por causa da pandemia”.
Marcaram presença na cerimónia, para além do vereador, Lucilia Santos e Ludgero Mendes, em representação da Federação do Folclore Português; da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, Vladimiro Matos; Margarida Pinto, da União de Freguesias da Cidade de Santarém; do Centro Cultural e Recreativo Fontaínhas e Graínho, Luis Ferreira; Jorge Luis, do Rancho do Bairro de Santarém; e Rui Rosa, administrador do W Shopping.
No decorrer do Festival os grupos presentes proporcionaram uma apresentação das tradições das suas gentes, momento muito apreciado por todos os presentes.
Ainda no decorrer do Festival, como é habitual nos Festivais que o Rancho do Bairro organiza, o grupo apresentou cenários alusivos aos sabores de antigamente, tendo apresentado, entre a actuação de cada grupo participante no Festival, várias representações dos usos e costumes das gentes das aldeias das Fontaínhas e Grainho, como passamos a descrever:
Dia-a-dia
Bem cedo, antes do amanhecer, iniciava o dia. Antes de sair para o campo, quer por conta de outrém, quer para trabalhar nas suas próprias terras, era necessário alimentar o corpo.
Para a mesa era levada uma saladeira com favas, feijões, batatas, que tinham ficado da refeição anterior; tudo regado com azeite, acompanhado com pão e vinho ou água, para quem não tivesse idade para o vinho.
Assim era a refeição do levantar em muitas casas dos lugares do Grainho e Fontainhas. No dia a dia, comia-se aquilo que a terra dava – feijão, grão, chícharos, batatas, tomate, couves e outras verduras; favas, ervilhas (…) – e na sua própria época ou, caso a habilidade e a experiência de vida permitisse, fora da época porque se conseguia secar e conservar.
A carne e o peixe eram escassos. As famílias eram numerosas e o porco, criado pelos próprios, tinha que durar para todo o ano. O bacalhau e as sardinhas (frescas ou salgadas) custavam dinheiro. Quem nunca ouviu contar histórias de uma sardinha para três ou de um pedaço de toicinho, como se de um dedo mindinho se tratasse para untar uma panela de couves?
Quem nunca provou couves com feijão? Feijão com arroz? Batatas inteiras? Uma saborosa tomatada? Sopas e batatas? Açorda de alho? Pão torrado com azeite e alho? Arelhos, cardos com feijão, caracóis com batatas?
Eram estes alguns dos gostos de antigamente, que alimentavam o corpo e a alma e que ainda hoje comemos, de vez em quando.
No campo
Trabalhava-se no campo de sol a sol. A distância entre a casa e o campo era percorrida a pé e o trabalho era manual e rude. Para suportar o esforço diário, era necessário alimentar o corpo.
Alguns caldeiravam. Com a fogueira acesa e a caldeira dependurada na burra de ferro, cozinhavam massa com batatas e bacalhau, arroz de bacalhau, umas batatas inteiras, um molho de tomate, uma açorda e o nosso tão típico mangusto, amassado com o giribalde.
Se não havia possibilidade de caldeirar, então qualquer tomate migado, temperado com sal e azeite, umas fatias de pão torrado com azeite e alho, um naco de pão com azeitonas, bacalhau seco desfiado, toucinho salgado, pepino aberto em quatro com sal, alguma coisa se haveria de arranjar para comer.
Com estes sabores, uns goles de vinho, umas cantigas e algumas brincadeiras, alimentava- se o corpo e a alma para suportar o dia no campo, por vezes, debaixo de chuva, outras a ter de suportar um sol escaldante.
Dias alumiados
Se era dia alumiado – Natal, Páscoa, Carnaval – se houvesse possibilidade a comida também era melhorada.
Matava-se e amanhava-se uma galinha ou um coelho, que era guisado com o que havia na horta – batatas, ervilhas, feijão verde e, por vezes, também com arroz ou massa.
Não podemos esquecer que também podia ser dia de se deliciarem com uma canja aromatizada com hortelã, seguida de arroz doce, de fritos e, no Natal, com fritos lêvedos.
Já no dia da Senhora das Candeias, dia 2 de fevereiro, data muito respeitada pelos nossos avós e dia de alumiar os olivais, era hábito fritar em azeite, nem que fosse uma fatia de pão ou um ovo, porque se acreditava que tal prática traria uma boa safra.
Dia da Adiafa
No final da azeitonada, era da praxe o patrão oferecer uma festança aos trabalhadores – a Festa da Adiafa. Ofertada a bandeira ao patrão, o rancho de trabalhadores era convidado a entrar. Era-lhe oferecida uma refeição, muitas vezes uma sopa aporcalhada – couve, batata, grão, massa ou arroz e carne de porco saída das salgadeiras – uma sopa farta e reconfortante, regada com um bom vinho.
Contratava-se um tocador e, no decurso ou final do baile,eram servidos coscurões e café quente.
Já na parte final da actuação do Rancho do Bairro e da apresentação das suas danças, foi proporcionado aos presentes, entre eles, antigos componentes, elementos de outros grupos, amigos e as várias entidades presentes a participação na dança a Dois Passos, havendo alegria e boa disposição neste reencontro após os dois anos de interregno.
Por último, de salientar a apresentação de novos elementos do Rancho do Bairro que se estrearam no Festival deste ano: Alexandre Sousa, Rute Tomé, João Soeiro Lopes, Santiago Silva e Flávio Alhada. Uma constante integração de jovens para que as tradições se mantenham vivas.