As obras de requalificação da Fonte de Nabais, na União de Freguesias de Achete, Azoia de Baixo e Póvoa de Santarém (UF) foram inauguradas este sábado, 7 de Maio, numa manhã festiva que incluiu lavadeiras, gastronomia e a actuação do Rancho Folclórico do Verdelho.

As obras só foram possíveis graças ao apoio do Município de Santarém que concedeu dois apoios financeiros à UF para a concretização das obras, nomeadamente, 14.841,10€ para a requalificação da Fonte de Nabais e 1.000€ correspondente ao valor em falta com a elaboração do projecto de requalificação do Largo da Torre do Bispo.

Para Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara de Santarém, “este tipo de apoio é essencial para as freguesias intervirem localmente e concretizarem projectos de interesse para a população. Os trabalhos desenvolvidos na Fonte de Nabais, permitiram a recuperação e melhoramentos na fonte e nos lavadouros, disponibilizando aos cidadãos um espaço público renovado e com melhores condições para se tornar também um espaço de lazer”, afirmou o autarca.

Manter a tradição

A recuperação e beneficiação do espaço público, limpeza de lavadouros e reutilização da fonte e respectiva linha de água, permite que a população continue a usufruir desta importante infraestrutura, mantendo a tradição da lavagem de roupa no tanque, para além do fornecimento de água.

“É um reviver o passado. Na nossa União de Freguesias [de Achete, Azoia de Baixo e Póvoa de Santarém] temos 14 fontes, oito fontanários e três poços. Por isso temos em curso um projecto para a criação de duas Rotas das Fontes. Em Achete a Rota de Santa Maria, padroeira, e a Rota Alexandre Herculano, correspondente a Azoia de Baixo e Póvoa de Santarém”, explicou ao ‘Correio do Ribatejo’ Guida Botequim, presidente da UF.

O Município apoia o projecto já submetido à APRODER no final do ano, com o contributo do Gabinete de Apoio às Freguesias do Município de Santarém.

Um projecto que Guida Botequim considera “muito importante” para a freguesia e que surge com o objectivo de “valorizar o património e, com isso, criar pontos de interesse na freguesia”.

“Esta requalificação, em Nabais, vem felicitar as lavadeiras porque continua a ser a única fonte que as tem. Não são muitas, mas são algumas e de várias idades. Há uma rapariga aqui de Nabais que ainda nem tem 40 anos e vem aqui todas as semanas lavar a roupa”, conta.

“Esta fonte de Nabais continua a ser uma fonte com vida”, enfatiza.

Na área da UF as fontes estão quase todas requalificadas. A próxima será a fonte da Igreja, em Achete.

“A Rota das Fontes é um primeiro passo para se criarem novos pontos culturais de interesse na freguesia”, admite Guida Botequim. A autarca pretende envolver as empresas, criando parcerias que ajudem “a dar vida a estes equipamentos”.

“Neste momento está a haver procura de casas para reabilitação nestes meios rurais, o que fará que ganhemos no futuro mais vida, um facto que a alteração do PDM também vem ajudar,” salientou ao ‘Correio do Ribatejo’ a presidente da UF de Achete, Azoia de Baixo e Póvoa de Santarém.

“Somos uma das freguesias com 50 Kms2 que mais fontes temos, elas fazem parte dos nossos valores. Quem não foi já muito feliz numa fonte?”, interroga.

Lavadeiras de ontem e de hoje

A inauguração das obras de requalificação da fonte de Nabais contou com lavadeiras – entre as quais a própria presidente da UF – que reproduziram os diálogos e as cantigas de quem utilizava a fonte para lavar a sua roupa.

“É o nosso património. Fomos crescendo com as fontes. É o nosso Facebook do antigamente”, reconheceu Guida Botequim.

As pessoas sabiam as novidades todas pelo convívio que tinham nas fontes. Isso mesmo foi confirmado por Maria Antónia Mendes, 84 anos, que garantiu ao ‘Correio do Ribatejo’ que era assim que se fazia dantes.

“Por vezes andávamos à lambada por causa da água suja do tanque”, recorda, garantindo ao ‘Correio do Ribatejo’ que “a filha e a neta ainda aqui veem”.

Já Maria Emília, 86 anos, vinha de “muito longe”, da Fonte da Pedra, lavar a roupa ao tanque de Nabais. Natural de Casal da Gouveia, Achete, garante: “aqui aparecia de tudo… Era uma regateirice pegada. Aquele namora aquela, deixou a outra, era dessas coisas que se falava enquanto se esfregava a roupa na pedra”, recorda.

“A gente não se juntava em mais banda nenhuma. Era aqui ou no baile, mas aqui é que era o tribunal [género de acerto de contas na própria fonte para se apurar a verdade do que se dizia em público]. Fulana deixou aquele, fulana está grávida, era aqui que tudo se sabia”, comenta.

Por sua vez, Maria Júlia, 72 anos, assegura que sempre lavou a roupa no tanque de Nabais enquanto recorda o espaço antes das obras: “Havia aqui uma cerejeira, isto não era nada assim. Era um tanque grande e a água quando estava negra é que era despejada”, recorda.

Contou ao ‘Correio do Ribatejo’ que chegou a ir a tribunal, porque um homem que andava a vender fruta chegava a casa de noite e apitava sempre à porta. “Ele quando chegava a casa apitava para os amigos da mulher saírem de lá”, julga. A frase caiu mal e foi ver o sabão azul pelo ar e a roupa também… Uma desgraça”, refere.

Maria Júlia lembra ainda que a roupa “tinha de ser corada, não havia cloreto, era posta ao sol em cima da erva”.

“A gente tinha que a estender para a ir pôr na cama depois da enxugar. Era sempre a mesma roupa que a gente punha. Andávamos no campo, passávamos lá a semana e de semana a semana é que se vinha a casa, lavar a roupa, enxugar e vestir para regressar de novo ao trabalho”, admite.

“Era assim a nossa vida, não havia gás, não havia nada, nem dinheiro. Eram as raízes das oliveiras já secas que trazíamos à cabeça para casa para fazer o lume para o comer”, salienta.

Folclore, bifanas e bolo de agrião

A festa, na manhã de sábado, foi animada pelo Rancho Folclórico do Verdelho que interpretou algumas danças do seu vasto reportório. Com o envolvimento de toda a comunidade, houve ainda bifanas e um bolo de agrião que também tem uma história.

Bem perto dos tanques, um canteiro de agriões faz as delícias da comunidade de Nabais, e não só, que os apanham para consumo.

“Os agriões existiram sempre aqui”, testemunhou ao ‘Correio do Ribatejo’ Maria Júlia. “Muita gente vem aqui apanhá-los. Isto faz muito jeito a muita gente, ainda hoje”, reforça.

Opinião partilhada por Guida Botequim: “Os agriões surgiram devido a um desperdício de água na fonte que tem água o ano todo. O que fizemos foi aproveitá-la para dar vida a um canteiro de agriões que estão á disposição de qualquer um. Quanto mais se cortam mais rebentam”, conclui a presidente da UF que agradeceu a toda a comunidade, executivo incluído, o seu contributo para o sucesso da iniciativa.

JPN

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