‘Rio Tejo – Património vivo’ foi o tema da iniciativa que os Amigos do Rancho Folclórico da Ribeira de Santarém promoveram no âmbito das Jornadas Europeias do Património, na manhã do passado sábado (26 de Setembro), junto ao Padrão da Santa Iria, na Ribeira de Santarém.
A iniciativa contou com a presença e intervenções do museólogo e historiador António Nabais e de Paulo Constantino, da proTejo, seguindo-se o encerramento da sessão por Manuel José Menino, em nome da organização.

Para Paulo Constantino o rio “não é apenas água, é cultura viva, a espinha dorsal e o eixo das terras e das aldeias por onde passa”, referiu.
Para o porta-voz da proTejo, “as populações ribeirinhas apenas terão a sua vida e o seu património salvaguardados quando agirem para fortalecer os pilares da vida do rio: água em quantidade com a existência de verdadeiros caudais ecológicos; água em bom estado ecológico; e a ausência de barreiras que bloqueiem os fluxos hidrológicos e a dinâmica dos ciclos da água e dos nutrientes, essenciais à manutenção dos ecossistemas que sustentam a vida”, sustentou.

“A preservação ecológica do rio Tejo é um tributo que devemos oferecer para a sustentabilidade da vida e para a conservação do seu património, sendo hoje urgente defender um rio Tejo vivo e livre com dinâmica fluvial pela rejeição dos projectos de construção de novos açudes e barragens – Projecto Tejo e a Barragem do Alvito – e pela exigência de uma regulamentação adequada para as barreiras que já existem”, prosseguiu o dirigente do Movimento pelo Rio Tejo.

Paulo Constantino considera “extremamente importante” manter os últimos 150 quilómetros de um rio Tejo “vivo e livre” com uma dinâmica fluvial que mitigue o impacto da subida do nível médio das águas do mar, que garanta o equilíbrio ecológico da Reserva Natural do Estuário do Tejo, a conservação dos ecossistemas, habitats e biodiversidade, e que valorize o património que alicerça as actividades de subsistência das populações ribeirinhas e o fomento de um turismo de natureza e cultural associado ao rio Tejo.

Por isso, concluiu, “temos o dever de estender uma mão aberta para criar uma corrente de vontade e de intencionalidade, que seja capaz de esclarecer quem decide e que exija um tratamento ecologicamente sustentável para o rio Tejo”.

Por sua vez, António Maia Nabais, salientou a “cultura do Tejo”, uma “cultura própria”, assente nas suas gentes e num vasto património, da pré-história até à actualidade, “de um rio fortemente humanizado” onde são bem visíveis a arte rupestre tagana, testemunhos fenícios, romanos e árabes; castelos (Ródão, Belver, Amieira, Abrantes, Almourol, Santarém, Lisboa); igrejas e conventos; azenhas, moinhos, noras, máquinas agrícolas; paços reais e solares; embarcações tradicionais, estaleiros navais; pesca; diques e barragens; pontes metálicas; caminho de ferro; fábricas; portos; canal da Azambuja; fotografia, cinema, pintura (Silva Porto, Almada Negreiros. …); literatura: L. de Camões, Gaspar Frutuoso, Cervantes, F. Rodrigues Lobo, F. de Almeida, F. Pessoa, Alves Redol, Almeida Garrett, Alexandre O’ Neill, entre outros.

Segundo o historiador, a actual situação do Tejo deve-se a vários factores: “abandono das actividades tradicionais, impedimentos de continuar a desenvolver as práticas tradicionais que deram vida ao rio, durante séculos, a criação de dificuldades na navegabilidade, os assoreamentos, abandono da limpeza das margens dos rios e valas da bacia hidrográfica do Tejo, a poluição das águas, a autorização para a execução de intervenções que reduziram os recursos do rio, tais como, barragens sem eclusas, a Ponte das Lezírias (Carregado) sem respeitar a altura dos mastros das embarcações à vela, a apanha ilegal das enguias-bebés (meixão), a burocracia existente para a utilização de actividades tradicionais, nomeadamente a navegabilidade das embarcações tradicionais”, referiu.

Para o museólogo, a intervenção no rio Tejo exige a participação de instituições públicas e privadas, de autarquias, estabelecimentos de ensino, nomeadamente das universidades, museus e outros organismos do património cultural, órgãos de comunicação social, CCDR’s, ministérios e institutos.

As JEP – Jornadas Europeias do Património, lançadas em 1985, são uma iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia que envolve mais de 50 países, no âmbito da sensibilização dos povos europeus para a importância da salvaguarda do Património.

A ideia base da iniciativa é promover o acesso aos monumentos e sítios, convidando à participação activa na descoberta de uma herança cultural comum, implicando o envolvimento dos cidadãos europeus com o património cultural.

Os objectivos principais são reforçar os sentimentos de identidade cultural, de memória colectiva e de afirmação de um património comum cuja riqueza reside na sua diversidade.

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