Corria o ano de 1962 quando, na pacata Cidade de Santarém, um grupo de cidadãos se juntou ao final da tarde de uma segunda-feira, para jantar no respeitável Hotel Central. O convite partiu do Dr. Vasco Salgueiro Antunes, médico veterinário e investigador na Fonte Boa. O grupo incluía algumas personalidades do Movimento Rotário, nomeadamente elementos afetos aos Clubes de Lisboa e Caldas da Rainha. De entre os convidados scalabitanos, não terão sido muitos os aderentes.
Ao longo do jantar, os rotários convidados foram explicando a natureza e objetivos do movimento, criado pelo advogado Paul Harris em Chicago, no ano de 1905.
O Movimento Rotário entrara em Portugal em 1925-26, com a constituição do Rotary Clube de Lisboa, apadrinhado pelo Rotary Clube de Madrid. Foram ainda prestados alguns testemunhos pelos rotários presentes, que responderam ser problema a todas as questões colocadas. Ficou claro, para os presentes, que o Movimento Rotário nada tinha a ver com política, religião, maçonaria ou racismo. Foram explicadas aos locais algumas finalidades e obrigações. O jantar terminou com algumas promessas de adesão por parte dos scalabitanos presentes, e o processo de criação do Rotary Clube de Santarém seguiu o seu curso.
Em formato mais restrito, as reuniões já se tinham iniciado em 1961. No entanto, a formação do Clube foi difícil e morosa, pois muitos tinham receio de aderir por poderem ser considerados progressistas e virem a ser incomodados pela PIDE. Valeu nessa altura a intervenção do Governador Civil, Brigadeiro Lino Dias Valente, a pedido do Dr. Francisco Viegas. Depois de ultrapassado este problema, as reuniões tornaram-se mais frequentes e mais frequentadas.
Finalmente, a 17 de maio de 1963, foi solicitada a adesão do Rotary Clube de Santarém a Rotary International, através de documento subscrito por 32 membros fundadores. Entre estes, estava a elite da sociedade Scalabitana: Alfredo Ferreira, António Alfaiate, António Schiapa Pietro, Carlos Pereira Ribeiro, Carlos Romão, Edmundo Vaz Mourão, Fernando Guerreiro Nunes, Fernando Pires de Carvalho, Fernando Veríssimo, Francisco Leitão, Francisco Viegas, Hermenegildo Campeão, Jaime Figueiredo, João Botelho Falcão, Joaquim Martinho do Rosário, Joaquim Temudo Batista, Joaquim Vicente Serrão, José Coelho dos Reis, José Manuel Nogueira, José Roque Dias, José Silva Lico, José Sousa e Silva, José Sousa Rafael, Luis Bruto da Costa, Luis Eugénio Ferreira, Manuel Mendes Martinho, Manuel Pereira Branco, Manuel Temudo Batista, Manuel Violante, Vasco Salgueiro Antunes, Vitor Tavares e Xavier Pereira da Silva.
Advogados, agricultores, bancários, comerciantes, farmacêuticos, hoteleiros, industriais, médicos, professores e quadros da administração pública, a amplitude profissional do novo Clube Rotário era impressionante.
Em 20 de setembro de 1963, o Rotary Clube de Santarém recebeu a sua Carta Constitucional, passando a partir daí a ser membro de pleno direito do Movimento Rotário internacional. A cerimónia decorreu na Casa do Campino, gentilmente cedida para o efeito por Celestino Graça, que viria depois a ser o primeiro Sócio Honorário do Clube. A partir deste momento, tão marcante na história de qualquer clube rotário, a vida quotidiana do Rotary Clube de Santarém entrou em velocidade de cruzeiro.
Desde a sua fundação, o Rotary Clube de Santarém tem desempenhado um papel fundamental na promoção dos valores humanitários. Ao longo destas seis décadas, o nosso Clube Rotário tem desenvolvido toda uma série de ações notáveis, demonstrando um compromisso inabalável com o serviço à Comunidade, no apoio à educação e no reconhecimento da excelência.
Entre as inúmeras iniciativas, destacam-se os prémios escolares e as bolsas universitárias anuais, as distinções profissionais anuais (profissional do ano e prémio carreira) e a doação de equipamentos essenciais à Comunidade como, por exemplo, a corporações de Bombeiros e a diversas IPSS do nosso Concelho. Tal é o caso da entrega de um autotanque aos Bombeiros Voluntários de Santarém em 2003, oferecido pelo saudoso Companheiro e Past-Governador José Manuel Cordeiro e transformado pelo também saudoso Companheiro Manuel Serra. Por outro lado, a importância que alguns dos nossos Companheiros alcançaram na estrutura rotária nacional, como é o caso de José Manuel Cordeiro (Governador 1985-86 e Presidente da Fundação Rotária Portuguesa entre 1988 e 1992) e de Mário Rebelo (Governador 2009-10), reflete a relevância que o Rotary Clube de Santarém tem alcançado no Movimento Rotário Português.
Em 2014, a inauguração do Marco Rotário na entrada sul da Cidade e a atribuição do nome Rotunda do Rotary Clube de Santarém àquela via, trouxeram maior visibilidade e entrosamento do Clube com a Comunidade Scalabitana. Mais recentemente, durante trágica pandemia covid-19, O Rotary Clube de Santarém apoiou 26 IPSS do Concelho de Santarém, com equipamentos num valor total de 5.200 euros. Estas ações ressoam como testemunhos do impacto transformador que o Rotary Clube de Santarém tem tido na vida dos cidadãos e da Comunidade em que se insere. Como disse um dia o Dr. Francisco Viegas, “Os Clubes são sempre o reflexo do valor rotário dos seus membros e do dinamismo dos seus Conselhos Diretores. A eles compete a dinâmica do Rotary na sua localidade e a sua contribuição para o Distrito e para Rotary International.”
Mas o Rotary Clube de Santarém não se confina ao Clube em si. Assim, a 17 de julho de 1990 foi criada a Casa da Amizade, uma entidade formada pelas esposas dos Companheiros Rotários, que desempenhou papel fundamental nas ações sociais e humanitárias do clube, numa parceria excecional e num exemplo brilhante de solidariedade, compromisso e amor ao próximo. Uma das iniciativas mais notável e duradoura da Casa da Amizade do Rotary Clube de Santarém foi a entrega anual de enxovais no Serviço de Pediatria do Hospital Distrital de Santarém. Anos mais tarde, a Casa da Amizade veio a transformar-se no Núcleo Rotário de Desenvolvimento Comunitário.
Depois de mais de 25 anos inativo, o Rotaract Club de Santarém reabriu em 2016, com uma nova geração que trouxe consigo uma nova dinâmica. Com o espírito ativo e global que hoje carateriza a juventude, o Rotaract Club de Santarém coloca o foco no apoio aos necessitados, seja por doença, pobreza ou outros motivos, em Portugal, Moçambique ou noutras geografias.
Este apoio é sobretudo prático, quer seja pelo co-financiamento de bolsas de estudo ou outros projetos, quer seja pela participação física em eventos. De uma forma ou de outra, os rotaractistas scalabitanos fazem jus ao lema “somos pessoas em ação”.
Mas a mais recente novidade da Família Rotária Scalabitana são os dois clubes Interact, para jovens entre os 12 e os 18 anos, constituídos em 27 de maio de 2022. O Interact Clube de Santarém e o Interact Clube Escola Sá da Bandeira reúnem cerca de 25 jovens, unidos pela Amizade, dinamismo, disponibilidade para a ação e vontade de mudar o mundo para melhor.
Ao celebrar estes 60 anos do Rotary Clube de Santarém, não esquecemos os nossos Companheiros Fundadores e todos aqueles que nos antecederam. Muitos já não estão entre nós, mas a sua Obra vive na nossa memória e na nossa motivação. Foi pela mão de Homens como José Manuel Cordeiro, José Júlio Eloy, Francisco Viegas, António Palma, José Antunes Pereira, Manuel Serra, Vasco Salgueiro Antunes, António Faia e muitos outros, Homens Bons de Santarém, que o nosso Rotary Clube chegou até aqui. Agora é redobrar a força, porque os tempos assim o pedem e porque, nas sábias palavras do nosso saudoso Companheiro José Júlio Eloy, “Se não pudermos, sozinhos, realizar obra de vulto, procuremos a colaboração inter-clubes, a ação conjunta e coordenada. O que não podemos é continuar a comer e a conversar cá dentro, quando lá fora precisam de nós. Temos de Agir.”
António Freitas, António Valente e José Alberto Pereira
Rotary Clube de Santarém
