A primeira fase das obras de requalificação da Igreja Matriz do Sardoal, em avançado estado de degradação, arranca na terça-feira, num processo que o presidente da Câmara Municipal classificou como “uma luta tremenda” devido às dificuldades em obter financiamento.

Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara do Sardoal (Santarém), Miguel Borges, disse hoje que a candidatura a financiamento para as obras só foi possível após a celebração de um contrato de comodato entre o município e a Igreja, proprietária do imóvel, que permitiu à autarquia assumir a responsabilidade pela obra e, assim, aceder a fundos comunitários.

As obras, adjudicadas por ajuste direto após dois concursos desertos, começam oficialmente na terça-feira, embora já decorra há algumas semanas um trabalho preparatório de remoção e preservação de peças do património religioso.

Nesta primeira fase, o investimento ronda os 700 mil euros e terá como prioridade a intervenção estrutural ao nível da cobertura, tetos, vãos e combate a infiltrações e humidades, bem como a recuperação do altar-mor.

O prazo previsto de duração da obra é de um ano.

O financiamento para a empreitada envolve 200 mil euros de apoio direto do município, 375 mil euros da afetação de fundos dos investimentos territoriais integrados (ITI) ao projeto, a que se juntam 125 mil euros da Igreja, obtidos através da “generosidade da comunidade” local.

Miguel Borges disse ainda acreditar que “a comparticipação europeia poderá aumentar ao longo da execução”, reduzindo o esforço financeiro local.

Também em declarações à Lusa, o pároco de Sardoal, António Castanheira, lembrou que as obras de requalificação da Igreja Matriz correspondem a um “desejo antigo” da comunidade, “motivado pela necessidade de preservar o principal monumento histórico do concelho”, datado do século XVI e que guarda no interior obras do Mestre de Sardoal e outras peças de grande valor cultural.

Segundo o sacerdote, o templo apresenta graves problemas estruturais, como infiltrações, degradação do forro em madeira da cobertura, além de danos nas paredes interiores e exteriores.

A intervenção, indicou, vai incluir a substituição da cobertura, reparação de portas e janelas, drenagens no exterior e consolidação do retábulo da Capela-Mor, em talha dourada.

António Castanheira destacou ainda que esta é apenas a primeira fase de uma “obra essencial para travar a degradação” do templo religioso, deixando para fases futuras a recuperação completa de outros elementos patrimoniais, nomeadamente a recuperação de frescos, pinturas e azulejos, garantindo uma requalificação mais completa do património.

Devido às obras, a última celebração na Igreja Matriz será em 28 de Setembro, passando as missas a realizar-se provisoriamente em dois locais: ao sábado na Misericórdia Velha e ao domingo na Igreja de Santa Maria da Caridade.

A igreja, construída nos finais do século XIV ou século XV, possui elementos de várias épocas, desde o gótico ao renascimento, do barroco ao neoclássico.

Do século XVI, os elementos mais importantes são as tábuas do Mestre do Sardoal, com o altar-mor em talha dourada do período barroco joanino. Outro elemento importante são os painéis de azulejos de Gabriel del Barco.

A Igreja Matriz da Paróquia de São Tiago e São Mateus possui três naves, com a Capela lateral dedicada ao Sagrado Coração de Jesus a acolher as Tábuas do Mestre do Sardoal, deixadas por Vicente Gil e Manuel Vicente, sendo uma das mais importantes heranças culturais e artísticas do concelho.

A importância da oficina do Mestre do Sardoal para a História da Arte Portuguesa centra-se na transição do estilo gótico para o renascentista, designados por “Primitivos Portugueses”.

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