O mundo precisa de amor e de humor.

A necessidade de amor e de compreensão entre as pessoas reveste-se de uma importância fundamental no panorama mundial atual. E se bem que essa necessidade seja intemporal, no contexto atual, a amizade, o amor, a solidariedade, o humanismo e a compaixão são os fatores que podem acalmar e pacificar um mundo em guerra. Um dado estatístico relevante é que nos últimos dois anos, no planeta Terra, no século XXI (!!), milhares e milhares de crianças foram mortas, mutiladas ou deslocadas, sozinhas e entregues à sua sorte, em resultado dos conflitos no mundo. Crianças! Crianças inocentes – sejam elas israelitas ou palestinianas, ucranianas ou russas, nigerianas ou sírias – que deviam estar a aprender a ler ou a jogar à bola, foram forçadas a aprender a sobreviver a tiros e bombardeamentos!

Depois de um período de relativa acalmia que se seguiu à II Grande Guerra, a indústria bélica voltou a reclamar o seu lugar de destaque nas economias dos países. E tudo se subjuga a isso. De todos os quadrantes acontecem apelos ao armamento e o mundo voltou a ser, todo ele, um teatro de guerra. E o que está em cena é uma tragédia humanitária sem precedentes. Há locais em que a morte parece mais normal do que a vida e as pessoas convivem com isso. É o novo normal.

Num mundo assim, cuja realidade é trágica, problemática e conflituante, há, muitas vezes, necessidade das pessoas se afastarem dela e construírem realidades paralelas que proporcionem momentos de descontração e de sorrisos. As piadas só podem ocorrer num solo fértil de problemas em que se satiriza essa realidade.

A humanidade sempre teve o humor como companhia, especialmente nos momentos mais difíceis. Lembro-me das rábulas radiofónicas de Raul Solnado, um humorista de excelência, sobre guerra, “A História da minha ida à guerra de 1908”. Esta rábula satirizava a guerra. Era uma guerra das nove às cinco que fechava as suas portas e reabria só quando os homens queriam. Nada mudou quanto a este particular.

Na Idade Média, nenhuma festa se realizava sem a intervenção do cómico.

Ao longo da história, o discurso humorístico teve momentos de maior aceitação e outros em que foi considerado maldito e proibido. Uma boa piada faz-nos rir, ou chorar a rir, e é capaz de envolver multidões, inquietar, perturbar e interessar. 

O humor oferece uma nova visão do mundo, do homem e das relações humanas, totalmente diferente do mundo oficial, sério. Permite a construção de um segundo mundo e uma segunda vida. Um mundo onde ninguém se leva a sério e tudo é divertido, mas em que as mensagens subliminares não deixam de passar e de ser impactantes, cumprindo a sua função de criticar políticas, poderes instituídos, pessoas, comportamentos e práticas sociais. Por isso, Jimmy Kimmel, um americano com piada, um dos mais conhecidos humoristas, foi censurado. O seu programa foi suspenso pela Casa Branca. Não se brinca com coisas sérias, terá pensado alguém. Como se fosse para levar a sério a desfaçatez, a prepotência, a ignorância, a maldade, a sobranceria e a estupidez. 

Num mundo à beira da terceira guerra mundial – alguns politólogos e analistas defendem mesmo que já a estamos a viver – formulam-se as mais variadas questões em torno do que pode ser este novo conflito à escala mundial, uma vez que a ameaça nuclear é uma realidade. 

Atualmente, uma dezena de países possuem armas nucleares e a ameaça de que não hesitarão em carregar nos botões vermelhos leva-nos a pensar que a III Guerra Mundial poderá ser o caos, ou seja, a humanidade poderá descer às profundezas da desgraça, reduzida a carne humana amontoada em estações de metro e outros subterrâneos, sem amor nem humor.

Encontrei no cartoon que ilustra esta crónica uma pincelada de humor que me fez sorrir, apesar da mensagem fortíssima e preocupante que é passada. Perante a pergunta inocente, mas conscienciosa, de uma criança, ao ver notícias sobre a guerra – que acompanham os nossos jantares, diariamente -, a resposta não podia ser mais desprovida de sentido: “Não digas nada à tua mãe, porque ela começa logo a dizer que não tem roupa para a ocasião.”

Todos os leitores são livres de interpretar o significado deste cartoon. Aliás, é apenas tão só isso que pretendo com estas minhas cogitações: chocalhar mentes para que não adormeçamos.

No entanto, não me escondo e não abdico de dar a minha opinião.

A mim, o disparate e o absurdo deste curtíssimo diálogo suscitam-me algumas reflexões. Desde logo, interrogo-me se a maioria dos jovens de hoje tem consciência do mundo em que vivemos – pela instrumentalização da (des)educação – ou se têm a capacidade de pensar. Mas há os que têm e serão muitos. A esses as respostas que os adultos têm para lhes dar são similares à deste pai cuja preocupação se centra no ridículo, no fútil, no superficial, no lado ilusório das coisas. Como reagirá a mãe a um acontecimento para o qual está intimada a estar presente, sem um trapinho adequado para se apresentar na hora do juízo final?!

Outra questão que este boneco me suscita é: será que este é um tempo em que a vontade de poucos se sobrepõe, natural e obrigatoriamente, à vontade de muitos que perderam a voz? Ou será que as guerras e o desnudar dos homens dos seus valores e princípios, pondo a nu as suas vergonhas maiores, é da vontade da maioria?

Se for, então preparemos os melhores vestidos, mandemos os fatos à lavandaria, façamos barba e cabelo – bem escanhoados – no Baeta, porque estamos, todos, convidados para a festa do fim do mundo.

Se é para morrer, que seja a rir!!!

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