Milhares de pessoas são esperadas em Sardoal para as celebrações religiosas da Semana Santa, tradição de grande envolvência comunitária e que resiste ao tempo unindo moradores e instituições do concelho na recriação de cenários de fé e cultura.

“É o momento mais alto da nossa vida comunitária, são as festividades da Semana Santa. É o momento mais alto da Igreja Católica, mas também para os sardoalenses. Mesmo aqueles que não são crentes, ninguém fica indiferente a todo este tempo pascal que vivemos durante este período que começa no dia 17 com a Procissão dos Passos do Senhor e vai até ao dia 31 com o Domingo de Páscoa propriamente dito e com um conjunto de cerimónias religiosas”, disse hoje à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal de Sardoal, Miguel Borges.

Até domingo de Páscoa, 19 igrejas e capelas do concelho vão estar enfeitadas com pétalas de flores e haverá recreações teatrais, música e exposições alusivas à época, ao mesmo tempo que decorrem várias procissões, como a dos Ramos, no dia 24, ou a dos Fogaréus, na noite de Quinta Feira Santa, em 28 de março, que costuma ser a mais participada.

“No dia 28 é a altura em que as capelas abrem as portas com os tapetes de flores, feitos pela população. No dia 28 é também Quinta Feira Santa e a Procissão dos Fogaréus, aquela procissão mais emblemática, chamemos-lhe assim, uma procissão diferenciadora em relação às cerimónias da Semana Santa. É o nosso ex libris”, disse Miguel Borges.

Envolta em ambiente de algum misticismo, refletido no silêncio da multidão ao longo de todo o percurso, na Procissão do Senhor da Misericórdia (ou Fogaréus) a eletricidade da rede pública é desligada nas artérias por onde passa o cortejo, apenas iluminadas pela luz de velas, archotes e candeias.

Centenas de lanternas de vidro são colocadas acesas nas janelas das casas, varandas e sacadas ao longo do percurso e milhares de lamparinas de azeite e cera seguem ao compasso das marchas fúnebres da Filarmónica União Sardoalense.

A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia do Sardoal conduz o cortejo envergando capas negras e os seus membros seguram painéis com imagens que representam cenas da Paixão de Cristo e grandes archotes a que chamam, pela sua antiguidade, fogaréus.

Depois da Procissão do Senhor da Misericórdia ou Fogaréus, no dia seguinte decorre a Procissão do Enterro do Senhor.

As Irmandades da Vera Cruz, ou dos Santos Passos, e a do Santíssimo Sacramento participam nesta celebração, que termina com o Enterro de Cristo, na Igreja Matriz.

O Domingo de Páscoa é dedicado à Procissão da Ressurreição, dia em se vive a “alegria pelo triunfo de Cristo Ressuscitado”, sendo a Igreja Matriz “decorada com muitas flores como sinal da felicidade” sentida.

Neste dia, a Filarmónica União Sardoalense acompanha a procissão com “músicas que evidenciam a alegria de Cristo Ressuscitado”.

Durante a Semana Santa, as ruas da vila são atapetadas com flores e verduras e nas janelas de muitas casas são penduradas colchas, criando um ambiente solene e festivo, numa secular tradição que recebeu em 2023 o estatuto de Património Cultural Imaterial.

“Este ano, com muito orgulho, podemos dizer que é o primeiro ano em que a nossa Semana Santa, todas estas festividades a que chamamos Semana Santa, e também a Festividade do Bodo, foram classificadas como Património Cultural Imaterial pela publicação em Diário da República do dia 29 de dezembro de 2023”, notou.

Para o autarca, no entanto, e “acima de tudo isto, está a essência daquilo que é a Semana Santa e todas as festividades e manifestações de cultura popular no âmbito da “fé e da religiosidade” e “à qual ninguém fica indiferente, sendo crente ou não sendo crente”.

Questionado sobre o número de visitantes aguardados para a Semana Santa, o autarca disse que o número “varia sempre de acordo com as condições climatéricas”, mas que “são milhares as pessoas que visitam o Sardoal nesta altura”.

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