Um consórcio artístico de Leiria está a desenvolver um espectáculo original com teatro, música e multimédia para sensibilizar populações da região Centro sobre comportamentos de risco que provocam fogos florestais.
Intitulado “Sob a terra”, a produção está em fase de ensaios, afinando uma máquina que junta várias artes. Em Setembro e Outubro será apresentado em oito aldeias dos distritos de Santarém e Coimbra.
Responsável pela criação, encenação e coordenação entre parceiros, Frédéric da Cruz Pires explica que o pretendido é “minimizar os comportamentos de risco das comunidades para diminuir os fogos rurais”.
“Já estive nos sítios onde vamos actuar e há aldeias no meio da floresta. Queremos alertar para o perigo de queimadas ou para o risco da utilização de máquinas agrícolas” através de “um ‘murro’ no estômago”, diz o director do Leirena Teatro, para que a mensagem “fique no pensamento e na memória das pessoas”.
Sem recurso a fogo ou fumo, “Sob a terra” vai criar tensão dramática pela poética, musicalidade e corpos dos actores, com “uma ameaça sempre latente”: a possibilidade de fogo.
“Queremos que as pessoas se identifiquem e que sejam mais proactivas. Se virem alguém a fazer algo que não deva, que comecem a dizer para não o fazer. Queremos que sejam agentes activos na prevenção”, reforça.
Além do Leirena, a peça envolve a companhia Manipulartes, a produtora Casota Collective, a compositora Surma, o realizador Álvaro Romão, o artista plástico Nuno Viegas e o dramaturgo Luís Mourão, a par de ranchos, filarmónicas e associações dos locais onde será apresentado.
O texto foi desenvolvido através de um processo colaborativo recheado de liberdade, revela Luís Mourão.
“Foi um bocadinho diferente do habitual, porque foi feito a partir de improvisações”.
A intenção é sugerir “uma leitura mais interessante do que já existe na rádio ou na televisão, o ‘não faça isto ou não faça aquilo’”, a partir da liberdade dada aos actores.
“Desta forma, há a vantagem da ligação ao texto e às ideias que foram sendo transmitidas ser mais forte, porque foi vivida na improvisação e trabalhada depois”, acrescenta.
Luís Mourão deseja levar ao público “um corpo harmónico, uma coisa orgânica” que seja “muito mais interessante e enriquecedora” e “mais eficaz a nível do discurso”.
O projecto “Sob a terra” foi um dos vencedores do concurso “Não brinques com o fogo” na região Centro, promovido pelo Ministério da Cultura e Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) visando a alteração de comportamentos das populações em relação aos incêndios rurais.
A primeira apresentação é em 25 de Setembro, em Espite, Ourém. Dias 26 e 27, “Sob a terra” vai às freguesias Rio de Couros e Urqueira, respectivamente, também no concelho de Ourém.