Com o Alentejo e o Ribatejo distinguidos como Destino Nacional Convidado da BTL 2025, a região prepara-se para um dos momentos mais importantes da sua estratégia de promoção turística. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, José Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR), sublinha a oportunidade única que esta distinção representa para reforçar a notoriedade do Ribatejo, um destino que “tem tanto para contar”. A aposta passa por uma comunicação mais agressiva e diversificada, destacando a autenticidade do território, a riqueza patrimonial e a crescente oferta de turismo de natureza e sustentabilidade.
Na BTL, a ERTAR aposta numa presença marcante, com activações de marca, passatempos, uma nova imagem promocional e um foco especial no enoturismo e na gastronomia, dois sectores estratégicos para a valorização da região. A candidatura de Santarém a Cidade Criativa da UNESCO na área da gastronomia e a criação da Tejo Wine Route 118 são exemplos do compromisso em estruturar uma oferta turística mais robusta e atractiva.
Apesar do crescimento do turismo na região e do aumento do número de dormidas, José Santos identifica desafios estruturais, como a necessidade de reforço da oferta hoteleira e a criação de novos produtos turísticos, nomeadamente ligados ao património cultural e literário. A possibilidade de um roteiro turístico dedicado à tauromaquia, integrando visitas a ganadarias, coudelarias e museus, surge como um potencial projecto a explorar.
A estratégia de captação de mercados externos também será reforçada, com acções específicas para atrair visitantes de Espanha e do Brasil, aproveitando a proximidade a Lisboa como uma vantagem competitiva. A BTL será um momento-chave para consolidar estas iniciativas, com um forte investimento na promoção da marca Ribatejo junto de operadores internacionais e do público nacional.
O Alentejo e o Ribatejo foram distinguidos como Destino Nacional Convidado da BTL 2025. Que significado tem esta distinção para a estratégia de promoção turística da região?
É um momento alto para o Alentejo e Ribatejo. Trata-se de uma distinção muito prestigiante que recebemos com orgulho e responsabilidade.
É sem dúvida uma chancela que nos abre um espaço adicional e muito significativo de promoção do Alentejo e do Ribatejo.
Tivemos oportunidade de em conjunto com a equipa da BTL escolher os melhores canais e momentos para corporizar esse protagonismo em acções concretas que tragam maior notoriedade e negócios ao nosso turismo e empresas. Creio que as escolhas foram as mais acertadas. Estamos agora a trabalhar para concretizar com sucesso essas perspectivas. Para mim, o ponto alto será o encontro com os operadores internacionais.
Para o Ribatejo, que é um destino menos conhecido, é uma oportunidade muito interessante na fase de crescimento em que a Região se encontra, tendo em 2024 registado o melhor ano turístico de sempre com mais de 280 mil dormidas.
Quais são as principais novidades e destaques que a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo levará à BTL este ano?
Vamos ter muitas iniciativas, no stand e um pouco por toda a BTL, nomeadamente activações de marca, oferta de merchandising, o passatempo “Descubra o Ribatejo”, a apresentação de um grupo infantil de Fandango. Iremos ter actores a corporizar os principais produtos da Região e muitas outras iniciativas dos municípios e das empresas.
O Ribatejo vai também como Alentejo patrocinar a conferência da CNN/BTL e o jantar com os operadores internacionais.
Iremos ter uma comunicação agressiva, no bom sentido, entenda-se, divulgando o Ribatejo junto dos profissionais e do público.
O facto de ser destino convidado dará ao Ribatejo uma maior notoriedade e visibilidade em toda a comunicação da BTL e no próprio espaço da feira.
Manteremos um stand do Ribatejo e estrearemos uma nova imagem, mood fotográfico e filme.
Queria também registar a parceria estabelecida com a Rádio Observador que nos permitirá no dia 13 passar conteúdos de divulgação sobre a Região.
Na promoção do Ribatejo, optaram pelo conceito “Descubra o Ribatejo. Um destino com tanto para contar”. Como pretende a ERTAR consolidar esta narrativa e atrair mais visitantes para a região?
Quisemos apresentar a ideia de um destino com muitos segredos, com muita história, mas que está aqui, perto dos portugueses, acessível. É um destino que nos vai conquistando, um destino que num lugar tem tanto para dar.
E assim optamos pelo conceito “Descubra o Ribatejo. Um destino com tanto para contar”, procurando explorar a diversidade de pontos de oferta que se concentram em apenas onze concelhos.
É esta a mensagem que vai passar na semana da BTL na grande Lisboa em vários mupies digitais e com o call to action para visitar o stand do Ribatejo na BTL de 12 a 16 de Março.
O turismo de natureza e sustentabilidade surge como aposta para a promoção do Ribatejo. Quais são os principais activos da região neste segmento e como se pretende valorizá-los?
É uma aposta para esta BTL.
Quisemos apresentar um Ribatejo mais verde, mais sustentável, mais ligado à natureza, não perdendo de vista a ligação à ruralidade, ao campo e ao cavalo.
E temos fantásticos spots que corporizam esses novos argumentos de oferta aos quais pretendemos dar mais visibilidade.
Por exemplo, o EVOA, um magnifico espaço de observação de aves, a Companhia das Lezírias, que também está a ajustar a sua comunicação para trabalhar a sustentabilidade, a Reserva Natural do Paul do Boquilobo, que é considerada pela UNESCO como Reserva da Biosfera, a Reserva Natura do Cavalo Sorraia.
Em termos de produto poderemos eleger o turismo pedestre, o cycling e outras actividades ligadas ao outdoor.
Acreditamos que estas motivações experimentam maior ligação àquilo que são hoje as tendências e as preferências dos mercados.
Mas claro que no Stand do Ribatejo promoveremos igualmente os outros produtos, com o enoturismo em destaque.
A gastronomia e o enoturismo continuam a ser uma grande aposta para o Alentejo. No caso do Ribatejo, como vê o potencial desta oferta e de que forma poderá ser melhor aproveitada para atrair turistas?
No que diz respeito à gastronomia é fundamental promover melhor este valioso recurso e é isso que estamos a fazer com o nosso Ribatejo & Alentejo Food Love Fest que este ano ganhou maior expressão na Região.
Há um ambiente muito interessante à volta da gastronomia e da restauração no Ribatejo. Já apresentei a ideia da candidatura de Santarém a Cidade Criativa da UNESCO na área da gastronomia.
Os recursos estão cá, há muita criatividade e também a Escola Superior Agrária de Santarém, que pode ser um parceiro muito importante.
Para a nossa campanha de promoção em Espanha queremos elaborar um roteiro gastronómico do Ribatejo. Por exemplo, Coruche e Alpiarça estão a fazer um trabalho muito interessante na investigação e recuperação e valorização do receituário tradicional, que se pode combinar com uma dimensão mais contemporânea.
Quanto ao Enoturismo, o papel que pode ter na estruturação do turismo do Ribatejo é muito significativo e vai além do próprio sector, podendo experimentar sinergias intersectoriais numa lógica de fileira. Por isso elegemos este produto como o recurso endógeno de excelência da nossa estratégia de desenvolvimento PROVERE
Este PROVERE prevê a implementação de um modelo de governação em rede, garantindo a participação activa dos municípios, das unidades produtivas, das associações do sector vitivinícola, dos operadores turísticos e das instituições científica do Ribatejo e do Alentejo O foco na concertação estratégica entre os diferentes agentes permitirá optimizar investimentos, infra-estruturas e recursos, promovendo um ecossistema enoturístico competitivo e sustentável.
Um dos projectos estratégicos que elegemos para este PROVERE é o desenvolvimento da Tejo Wine Route 118.
Quais são os desafios específicos que o Ribatejo enfrenta na afirmação como destino turístico face ao Alentejo e a outras regiões do país?
O primeiro é sem dúvida o crescimento do parque de alojamento. Em quantidade e em qualidade. Sem isso será difícil consolidar uma estratégia de crescimento e de afirmação turística. Lançamos o ano passado os roteiros de investimento começando por trabalhar oportunidades de novos alojamentos em Santarem, Coruche e Alpiarça. Acredito que foi uma iniciativa que dará os seus frutos. A capacidade de oferta instalada na Lezíria do Tejo vai duplicar no médio prazo, não tenho dúvidas sobre isso.
Veja que a falta de alojamento limita muito a capacidade de trazer para a região convenções internacionais e outros eventos corporativos.
Em segundo lugar, precisamos de ligar mais e melhor a oferta. Precisamos de mais produto privado, que possa ser vendido, nomeadamente alojamento, como referi atrás, mas também de valorizar e estruturar activos públicos ligados à gastrónoma, ao literário e ao turismo de natureza. Tudo isso já começou a ser feito com acções efectivas nos últimos dezoito meses.
Por último e em terceiro lugar, temos, mesmo com as insuficiências na oferta, intensificar a promoção do Ribatejo
Este ano e para além das campanhas de promoção, vamos levar a cabo em Maio uma grande acção de promoção do Ribatejo em Lisboa, com uma dimensão de publico e outra para profissionais.
A BTL tem um forte impacto na captação de operadores internacionais. Que estratégias estão a ser desenvolvidas para potenciar esse impacto, especialmente no mercado externo?
Bem, vamos ter um encontro específico com os quase duzentos operadores estrangeiros que virão à BTL. E isso só é possível por sermos destino convidado.
Nesse evento teremos a possibilidade de apresentar o Alentejo e o Ribatejo com os seus recursos e produtos.
Por outro lado, os operadores do Ribatejo com modulo no nosso stand vão poder agendar as suas reuniões bilaterais com esse trade internacional que estará em Lisboa.
É um momento de contacto B2B, por excelência da BTL.
Num momento de contacto com estes operadores e agentes de viagens, os designados Hosted Buyers, vamos ter um momento de promoção dos vinhos do Tejo com oferta de merchandising do Ribatejo que vamos estrear na BTL.
Alguns desses operadores irão depois fazer um pós-tour pela Região, a seguir à BTL
Estas visitas terão de incorporar, cada vez mais, o Ribatejo, situação que pretendo trabalhar quando assumir a presidência da Agência Regional de Promoção responsável pela divulgação internacional da região.
O crescimento do turismo na região tem sido expressivo, com um aumento de dormidas de residentes e turistas internacionais. Que expectativas existem para 2025 e quais os principais mercados emissores que a ERTAR pretende captar?
O mercado nacional continuará a ser preponderante na nossa área regional de turismo e no Ribatejo a sua expressão ainda é maior.
O trabalho de promoção no mercado nacional continuará a crescer. Veja que desde que iniciámos funções em Julho de 2023 já lançamos três campanhas para a promoção da região ribatejana. O mercado espanhol é outro foco importante e acredito que o seu potencial de crescimento para a o Ribatejo é interessante, mas não tem sido trabalhado. Vamos este ano iniciar a promoção no mercado transfronteiriço através de uma estratégia especifica e pela primeira vez iremos colocar com notoriedade conteúdos e ofertas do Ribatejo nas nossas acções de divulgação.
À medida que a oferta se for qualificando, poderemos atrair DMC´s e operadores que trabalhem o mercado brasileiro e norte-americano. A proximidade a Lisboa, mais do que uma ameaça, é uma oportunidade. O vinho e o enoturismo são, sem dúvida, a âncora para estes mercados, mas ainda será necessário ganhar maior músculo e consistência na oferta.
A cultura poder ser igualmente um trunfo importante para a atractividade do turismo do Ribatejo.
Temos património, criadores culturais, bons museus, recursos, falta uma melhor organização da oferta turística. Estamos a preparar um guia de viagens sobre o Ribatejo que irá ficar pronto no próximo ano e que terá como objectivo dar ao visitante um roteiro claro do que pode fazer numa semana na Região da Lezíria do Tejo.
O investimento na oferta hoteleira está a crescer no Alentejo. No Ribatejo, há projectos em curso para reforçar a capacidade de alojamento e melhorar a experiência dos visitantes?
Sim. Destacaria o projecto do grupo Vila Galé para a recuperação da Quinta da Cardiga na Golegã, num investimento superior a 20 milhões de euros. Creio que este grupo estará interessado em outros activos em Santarém.
À data há um hotel em construção em Santarém, mas também gostaria de destacar a remodelação de activos já existentes, como o Benavente Hotel ou o Lusitano, na Golegã.
Abriu também o ano passado uma nova unidade no Couço, em Coruche, por sinal um projecto de grande qualidade.
Temos acompanhado outras dinâmicas ligadas a resorts e projectos mais exclusivos, por exemplo em Benavente e Rio Maior.
Outra tendência que noto e que está a ganhar expressão, é a modernização das adegas para a finalidade de enoturismo e a vontade de alguns promotores em criar alojamento exclusivo nas suas quintas. Começa a sentir-se essa procura. Ainda há duas semanas acompanhei com o Luis Castro da CVR Tejo dois importantes produtores vitivinícolas que pretendem investir em turismo.
Temos também importantes equipamentos para trabalhar os congressos e incentivos, como o CNEMA e agora o IVV – Imóvel de Valências Variadas – Multiusos de Almeirim, mas não temos alojamento, o que é um paradoxo.
Pouco a pouco, a oferta vai crescer, e o Ribatejo afirmar-se-á como um destino, mas é um processo que leva o seu tempo.
Que eventos ou iniciativas se destacam em 2025 como oportunidades-chave para consolidar a atractividade do Alentejo e do Ribatejo no panorama turístico nacional e internacional?
Destacaria no Alentejo, a Cidade do Vinho 2025 e no Ribatejo, e a Gala do Guia Repsol que se realizará no 7 de Abril, em Santarém, processo que estamos a acompanhar de perto. Esta gala poderá ser uma oportunidade única para promover o Ribatejo e Santarém em Espanha, utilizando as centenas de postos de abastecimento daquela marca espanhola. Já lançamos esse desafio ao Município e à Repsol e contamos com o apoio do Turismo de Portugal. Mas a própria Entidade Regional de Turismo lançou os seus próprios eventos ligados à gastronomia e ao turismo literário que têm sido importantes para aumentar a notoriedade da região do Ribatejo. Este ano o festival Alentejo & Ribatejo Food Love Fest já chega a perto de uma dezena de restaurante da região e com o premiado chef Rodrigo Castelo vamos ainda projectar mais a gastronomia do Ribatejo através de um evento especial que juntará uma chef espanhola que ostenta igualmente uma estrela Michelin.
O ano passado apoiámos o Festival Nacional de Gastronomia de Santarém, a Feira do Cavalo, na Golegã, o Festival do Arroz Carolino e o Festival de Balonismo de Coruche, entre outros. A programação cultural do Museu Diocesano de Santarém, que considero de inegável interesse turístico, mereceu também um apoio financeiro da nossa parte.
Mais uma vez iremos na BTL deste ano apresentar o Calendário de Eventos do Ribatejo, que a exemplo do ano passado, irá ser alvo de uma campanha de promoção especifica.
A Tauromaquia é uma tradição enraizada no Ribatejo e um elemento identitário da região. Existe a possibilidade de desenvolver um roteiro turístico dedicado a este património, integrando visitas a ganadarias, coudelarias e museus? Que impacto poderia ter esta aposta na atractividade turística do Ribatejo?
Acredito que sim, mas confesso que ainda não pensámos nisso de uma forma estruturada.Não tenho dúvidas que se trata de um património valiosíssimo e que pode gerar afinidades com alguns nichos de mercado.
FM