A PróToiro – Federação Portuguesa de Tauromaquia divulgou na passada semana relevante informação estatística que consolida o cruzamento dos dados da Associação Nacional de Toureiros e da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide. Este tipo de análises permite um retrato da actividade tauromáquica em Portugal, porém, sujeita a um critério que filtra os números gerais, na medida em que toureiros que não sejam “sindicalizados” não são considerados e em alguns casos também não são contabilizadas todas as actuações além-fronteiras.

Os elementos estatísticos que a Inspeção Geral das Actividades Culturais (IGAC) divulga no final de cada temporada, pecam, por sua vez, por apenas reflectirem dados referentes ao território continental português, posto que ao nível dos Açores a entidade licenciadora é de âmbito regional e rege-se por legislação própria. Daí resulta uma natural discrepância entre os números adiantados por cada uma destas entidades.

Em nenhum dos casos os dados são completos e absolutamente fidedignos, pois ao nível dos espectáculos que não são abrangidos pelo Regulamento Taurino – como as corridas de Barrancos e os espectáculos com recortadores, entre outros – não há qualquer referência. Enfim, é o que temos, mas esta radiografia já nos permite ter uma noção quantitativa do que aconteceu no nosso país no ano que agora se está a finar.

Acrescendo aos valores relativos aos espectáculos taurinos formais, deverá, igualmente, ter-se em conta as manifestações de tauromaquia popular, dita de rua, que para além de assumirem uma grande expressão numérica, são, outrossim, determinantes para a preservação do imaginário popular da população portuguesa. Segundo a informação da PróToiro, realizaram-se cerca de 2.000 eventos de tauromaquia popular pelo país, entre os quais as largadas de toiros, as capeias arraianas e as touradas à corda, aspecto em que a temporada representou também uma grande recuperação.

2022 – Ano da retoma…

No primeiro ano pós-pandemia o número de espectáculos tauromáquicos cresceu 58% em relação a 2021, passando de 121 para 191 corridas, e o público aumentou 105%, subindo de 182.600 espectadores em 2021 para 375.200 em 2022.

Estes números analisados duma forma absoluta permitem-nos concluir que a Festa, mau grado tantas vicissitudes, continua viva e recomenda-se. Se foi possível atingir estes números numa conjuntura ainda desfavorável e num tempo em que também não se regista a desejada cooperação entre todos os agentes envolvidos, imagine-se o que seria com todos a puxarem para o mesmo lado.

Acresce o facto de atravessarmos um período de grandes dificuldades para os portugueses, pautado por uma inflacção galopante e por uma expressiva redução do seu poder de compra, do mesmo modo que não poderemos deixar de considerar que o público dos espectáculos tauromáquicos continuou a ser discriminado com a incidência imoral de uma taxa de 23% de IVA nos bilhetes, quando a taxa incidente nos demais espectáculos culturais é de 6%. Esta situação prejudica não só a recuperação do sector, mas também as instituições de solidariedade social que dela dependem. Recorde-se que as Misericórdias são proprietárias de cerca de metade das praças de toiros do país.

O tom positivo deste balanço é confirmado por Luís Capucha, Presidente da Associação de Tertúlias Tauromáquicas de Portugal, que considera que esta foi

“Uma temporada de recuperação, com os aficionados a dizerem “presente”, o que mostra a forte adesão dos portugueses à tauromaquia, como expressão única da cultura portuguesa”.

Por sua vez, para Armando Jorge Carvalho, representante da União das Misericórdias, “o desempenho do sector nesta temporada é uma boa notícia para as Misericórdias proprietárias de praças de toiros que puderam estabilizar as receitas oriundas dos arrendamentos à tauromaquia para benefício das suas obras sociais, promovendo a cultura portuguesa e dignificando o sector social em Portugal.”

Outro dado relevante é o facto de, analisando só as corridas de toiros, estas terem aumentado 11% face a 2019 (de 138 em 2019, para 153 em 2022), superando o número anterior à pandemia. Para isso contribuiu o reforço do número de corridas nas principais praças, mas também o aumento da actividade nas praças de toiros desmontáveis pelo país, recuperando a actividade em diversos concelhos, representando 20% dos espectáculos face aos 13% de 2019. No que diz respeito à média de ocupação em corridas de toiros esta foi de 2.174 espectadores, uma subida de 35,7% face aos 1.602 espectadores por corrida em 2021.

Ricardo Levesinho, Presidente da Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos e representante da empresa “RACG, Lda.”, indica que 2022 “Foi um ano muito intenso com um número de espectáculos muito próximo ao período antes da Covid, que na altura contemplava temporadas normais em Albufeira e em Lisboa. A infeliz redução nessas praças foi absorvida por aumentos de espectáculos espalhados pelo país, o que é um óptimo sinal. Evidenciou-se uma excelente procura pelos espectáculos de qualidade e de reconhecida importância o que demonstra um grande interesse por parte do público, não obstante continuar a ser discriminado com uma taxa de 23% de IVA”.

Vila Franca de Xira foi a cidade com mais espectáculos tauromáquicos (13), seguida de Angra do Heroísmo (7), de Moita e Alcochete (6), Montijo, Nazaré e Évora (5), e Coruche, Campo Pequeno, Mourão e Barrancos (4). A Monumental “Celestino Graça”, de Santarém, mau grado a sua potencialidade, apenas abriu as portas em três circunstâncias, o que parece escasso para uma praça da sua categoria.

Quanto aos Produtores de Espectáculos (empresas e empresários) o ranking é liderado pela “RACG – Sociedade Comercial, Lda.”, com 28 espectáculos realizados, seguindo-se a “Ovação e Palmas, Lda.” (20), a “Toiros e Tauromaquia, Lda.” (15), José Charraz e Tiago Graça (10), “Tertúlia Óbvia, Lda.” (9), Luís Pires dos Santos, Rafael Vilhais, “NEPE, Lda.” E “Toiros com Arte, Lda.” (6), e “Doses de Bravura, Lda.”, “Sociedade das Campinas, Lda.” e António Pedro Vasco (5).

Ganadarias em franca de recuperação

No balanço do ano as ganadarias portuguesas voltaram a contribuir positivamente para a balança comercial de bens e serviços, tendo as exportações atingido as 456 reses bravas (432 para Espanha e 24 para França), num aumento de 143% face às 187 de 2021. Foram importados somente 13 toiros. No total foram lidados em Portugal 1.206 toiros nas praças nacionais em 2022, face aos 740 de 2021, um aumento de 63%.

As ganadarias que mais toiros lidaram em Portugal foram Passanha (91), Palha (76), Murteira Grave (69), Canas Vigouroux (60), Santa Teresa (59), Couto de Fornilhos (54), Passanha Sobral (49), Veiga Teixeira, Nuñez de Tarifa e Guiomar Moura / Luís Terrón (45), Casa Prudêncio (36), e Paulo Caetano e Francisco Romão Tenório (35).

As ganadarias que exportaram mais toiros em 2022 foram as de Santa Teresa (56), Guiomar Cortes Moura (48), Couto de Fornilhos e Nuñez de Tarifa (45), Passanha Sobral (30), Murteira Grave (28), Santa Maria (24), Francisco Romão Tenório (20), David Ribeiro Telles (18) e Álvaro Nuñez, Voltalegre e Condessa de Sobral (17).

Em linha com os objectivos da Conferência das Nações Unidas sobre a biodiversidade, realizada em Montreal, que pretende manter, melhorar e restaurar ecossistemas, incluindo deter a extinção de espécies e manter a diversidade genética, os ganadeiros portugueses continuaram o seu trabalho de “gestores ecológicos”, promovendo a biodiversidade e a mitigação das alterações climáticas em cerca de 70 mil hectares de lezíria, montado e espaços endémicos nos Açores, dedicados ao toiro bravo, preservando este tão valioso património genético.

O Dr. João Santos Andrade, Presidente da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, destaca o facto de “a temporada de 2022 registar um desempenho muito positivo nos resultados de venda e exportação das ganadarias face a 2021, a caminho dos valores pré-pandemia.”

Marcos Bastinhas O mais activo!

Marcos Bastinhas liderou o ranking de actuações dos cavaleiros tauromáquicos em Portugal (45), seguido de Luís Rouxinol e João Salgueiro da Costa (27), de Luís Rouxinol Júnior (24), Miguel Moura (22), Juan Andrés Romero e Manuel Ribeiro Telles Bastos (21), João Moura Júnior (20), e João Moura Caetano, João Ribeiro Telles e Rui Salvador (19).

Quanto aos cavaleiros praticantes António Ribeiro Telles (Filho) liderou o ranking dos jovens cavaleiros com 21 actuações, seguido de Tristão Ribeiro Telles (20) e Paco Velasquez (13), Joaquim Brito Paes e Mara Pimenta (11), Diogo Oliveira (7), António Núncio (4), Duarte Fernandes (3) e Paulo D’Azambuja (1). Contabilizando as actuações no estrangeiro o cavaleiro Rui Fernandes somou 28 actuações (4 em Portugal e 24 no estrangeiro), Ana Rita rubricou 25 actuações em Espanha, e David Gomes actuou por 15 vezes, a maioria das quais também no país vizinho. Duarte Fernandes, que recebeu a alternativa de rejoneador em Arles, em 12 de Setembro de 2021, realizou 15 actuações (3 em Portugal e 12 no estrangeiro).

No ano que termina tomaram a alternativa de cavaleiro (pro­fissional) Joaquim Brito Paes (21 Julho, no Campo Pequeno, em Lisboa) e António Núncio (15 Agosto, em Reguengos de Monsaraz). Joaquim Ribeiro “Cuqui” e João Silva “Juanito” (6) lideraram o ranking de actuações dos matadores de toiros, seguidos por Manuel Dias Gomes (4) e António João Ferreira (Tojó) e João Diogo Fera (3). António Ferrera, Emílio Laserna e Morante de la Puebla (2), e Álvaro Lorenzo, Curro Diaz, Daniel Luque, David Miranda, El Dani, El Juli, José Garrido, Manolo Escribano, Manuel Perera, Michel Lagravere, Oliva Soto e Pepe Moral (1). Todavia no escalafón espanhol “Juanito” é referido como tendo actuado em 13 corridas em Espanha, pelo que é, indiscutivelmente, o matador de toiros português mais activo na actualidade.

Diogo Peseiro foi o líder entre os novilheiros (2), seguido de João D’ Alva (1) e Gonçalo Alves (5) e Filipe Martinho (2) foram os únicos novilheiros praticantes referidos nesta estatística.

O ranking dos bandarilheiros foi liderado por Duarte Alegrete (58) seguido por Pedro Paulo “China” (54), Diogo Malafaia (52), João Bretes e João Filipe Oliveira (49), Ricardo Alves “Págá” (45), Nuno Oliveira (44), Miguel Batista (43), Gonçalo Veloso (42) e Jorge Alegrias (41) (mais duas no estrangeiro). Quanto aos bandarilheiros praticantes Miguel Maltinha liderou o respectivo escalafón (34), seguido por Fernando Fetal (30), Francisco Honrado (28), Francisco Marques “Robleño” (18), Diogo Fernandes (17), Luís Silva e Sérgio Nunes (12), Mariano dos Santos (11), Rodrigo Recatia (8) e Diogo Damas (4).

Na temporada em análise, Miguel Maltinha passou à categoria de bandarilheiro pro­fissional, e ascenderam à categoria de bandarilheiro praticante Francisco Honrado, Rodrigo Recatia, Diogo Fernandes, Mariano dos Santos e Guilherme Cruz. Analisando a temporada tauromáquica de 2022, Nuno Pardal, Presidente da Associação Nacional de Toureiros, refere que “Neste ano pós-pandémico temos de enaltecer a resiliência dos artistas tauromáquicos que tanto sofreram com a paragem forçada. O ano de 2022 aproximou- se da normalidade e os toureiros,  finalmente, puderam superar as di­ficuldades e criar a sua arte, sem condicionantes”.

O Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca, em ano de comemoração do seu 90.º aniversário, foi o mais activo (24), seguido pelos Grupos de Montemor e Ribatejo (18), Évora, S. Manços e Moura (17), Coruche (16), Santarém (14), Académicos de Elvas (13) e Alcochete, Aposento da Moita e Monsaraz (12).

Para Diogo Durão, Presidente da Pró-Toiro (Federação Portuguesa de Tauromaquia) e da Associação Nacional de Grupos de Forcados, o “ano de 2022 mostrou uma grande resiliência do sector tauromáquico e, terminadas as limitações na realização de espectáculos, registou-se um grande crescimento no número de espectáculos e de público, que voltou a acorrer em massa às corridas de toiros, o que mostra bem o apego dos portugueses à cultura tauromáquica”.

O “relatório” da PróToiro também faz referência à actividade dos emboladores mais activos na temporada ­ finda, entre os quais constam Luís Campino (56 corridas), Mário Domingos (29), José Alcachã o (19), Carlos Simões (18), António Estorninho (12), António Ventura, Luís Afonso Campino e Luís Leitão (10), Vasco Campino (8) e Vítor Pinheiro (5).

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