O compositor Fernando Lopes-Graça é evocado, em Tomar, a partir do próximo dia 17, por ocasião dos 115 anos do seu nascimento nesta cidade, onde iniciou a carreira como pianista, no cinema local.
A primeira etapa destas comemorações ocorre precisamente no Cine-Teatro Paraíso, num concerto pela Orquestra Sinfónica Tomarense, sob a direcção musical de Simão Francisco, intitulado “Inspirações”, com início marcado para o próximo dia 17, às 21:30.
“O título deste concerto traduz um programa constituído por obras com mais ou menos ligações a Fernando Lopes-Graça”, afirma em comunicado a câmara municipal, que divulgou as iniciativas das comemorações.
Do programa deste concerto consta igualmente a peça “Ma mère”, de Nelson de Jesus, uma encomenda da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, “uma peça em forma contínua, embora dividida em três partes distintas, cada uma baseada numa canção de embalar”, acrescenta o texto de apresentação.
A peça será apresentada e comentada pelo compositor.
O programa completa-se com o Minueto da Sinfonia n.º 100, “Militar”, de Joseph Haydn, e a “Sinfonieta (Homenagem a Haydn)”, de Fernando Lopes-Graça, que foi uma encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian. A obra teve uma primeira apresentação pública em 1980, tendo sido revista em 1985, “na forma em que será ouvida neste concerto”.
A evocação de Fernando Lopes-Graça, assim como a apresentação e comentários destas duas obras, contarão com o maestro António de Sousa, do coro Canto Firme, que conviveu com o compositor de “Canto de amor e de morte”
No dia seguinte, pelas 11:00, a Casa Memória Lopes-Graça, na rua Dr. Joaquim Jacinto, onde o compositor nasceu, é inaugurada “uma pequena exposição temporária com alguns objectos do seu acervo”, enquadrando a a sessão de apresentação do livro que aborda o período de juventude do compositor, “O Meio musical de Lopes-Graça – I. Memórias Musicais de Tomar – 1900-1931”, de António de Sousa.
António de Sousa é autor de outras obras sobre o compositor, designadamente “A construção de uma identidade – Tomar na obra de Lopes-Graça” (2006).
A obra, refere a edilidade, conta com dezenas de fotografias tomarenses do início do século XX, “abordando as instituições, os espaços, os músicos e os programas musicais de então que enquadraram, de alguma forma, a formação e actividade musical do futuro compositor Fernando Lopes-Graça”.
“O ponto de partida deste livro foi uma exposição organizada na Casa Memória, em 2009, ‘A Divina Arte em tempo de Mudança’, devidamente alargada e complementada com mais fotografias, documentos e ainda textos de António de Sousa”, coordenador deste equipamento camarário.
No dia 19, pelas 17:00, na Sociedade Banda Republicana Marcial Nabantina, haverá um concerto pelo Canto Firme.
Lopes-Graça foi feito “sócio-honorário” desta colectividade tomarense, fundada em 1874.
O Coro Canto Firme vai apresentar um programa constituído por obras corais do compositor, canções regionais e heróicas, a par de algumas canções de câmara, interpretadas por Âzadéh Éhssán (canto) e Tiago Santos (piano).
Uma das últimas obras corais de Lopes-Graça, “Tomar”, foi dedicada ao Canto Firme.
Fernando Lopes-Graça, quando menino, teve lições particulares de piano e, aos 13 anos, já frequentava os serões de música de câmara da família Mota Lima que habitava a casa que pertencera aos priores da Ordem de Cristo, extinta no século XIX.
António de Sousa defende na obra “A construção de uma identidade – Tomar na obra de Lopes-Graça”, que a cidade foi sempre uma retaguarda do compositor, permitindo explicar certas opções suas, políticas e até estéticas.
Nascido a 17 de Dezembro de 1906, em Tomar, o pianista, compositor e pedagogo Fernando Lopes-Graça foi uma figura emblemática do Século XX português, tendo-se destacado pelo desenvolvimento de uma intensa actividade cultural, artística, pedagógica e cívica.
Em 1944, inscreveu-se no Partido Comunista Português, ainda na clandestinidade.
A sua oposição à ditadura do Estado Novo, impediu-o durante muitos de dar aulas e de obter reconhecimento público pelo seu trabalho.
Fundou e dirigiu durante mais de 40 anos o Coro da Academia de Amadores de Música, em Lisboa, para o qual escreveu centenas de arranjos de canções tradicionais, grande parte das quais recuperada à tradição oral, em viagens pelo “Portugal profundo”, numa colaboração com o etnólogo Michel Giacometti.
Como compositor, criou uma extensa obra que percorre vários géneros musicais e lhe mereceu reconhecimento nacional e internacional.
Fernando Lopes-Graça morreu em 1994 e doou o seu espólio ao Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades Faria, no concelho de Cascais, localidade onde viveu os seus últimos anos.
A obra de Lopes-Graça caracteriza-se pela influência das correntes modernistas a que conciliou a recuperação da tradição musical portuguesa.