A festa dos Tabuleiros, em Tomar, apresentou no dia 31 de Julho, o inventário científico para integrar o Património Cultural Imaterial (PCI) nacional, sendo este “o primeiro passo” para candidatar-se a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, disse à Lusa fonte da Câmara de Tomar.

“Esta festa está enraizada há vários séculos na comunidade tomarense, é uma festa única no país e no mundo e que tem a partilha na sua essência, sendo do povo, feita pelo povo e para o povo, pelo que hoje foi dado com grande entusiasmo o primeiro passo em direcção ao grande objectivo da autarquia que é obter o reconhecimento mundial do trabalho, da genuinidade da Festa dos Tabuleiros e da identidade cultural das suas gentes, dando também outra visibilidade ao município e ao seu potencial patrimonial, arquitectónico, natural e cultural”, disse à Lusa Anabela Freitas (PS), presidente do município de Tomar, no distrito de Santarém.

Com origem pagã, simbolizando a época das colheitas, a Festa dos Tabuleiros adquiriu carácter religioso na Idade Média, com a Rainha Santa Isabel, sendo os tabuleiros da festa de Tomar únicos com esta forma nas tradicionais festas do Espírito Santo que se realizam um pouco por todo o país.

Tendo feito notar que o processo para o reconhecimento mundial “há décadas que é falado” mas que “só este executivo decidiu passar das palavras à prática”, Anabela Freitas lembrou que 2019 é o ano para trabalhar no sentido da Festa dos Tabuleiros integrar o Património Cultural Imaterial nacional, “condição obrigatória para avançar a partir de 2020 para a próxima fase, que é a de preparar a candidatura a Património Imaterial da Humanidade da Unesco”.

O registo de inventariação da Festa dos Tabuleiros de Tomar no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial hoje apresentado contempla dois tipos de informação, nomeadamente sobre “a manifestação de PCI, de carácter histórico e etnográfico, que ateste obrigatoriamente a dinâmica actual da prática social, assim como, com a profundidade temporal possível, o devir histórico e as dinâmicas que a tradição conheceu no âmbito da sua génese e transmissão ao longo das gerações”, disse à Lusa André Camponês, do Instituto de História Contemporânea (IHC), que coordena cientificamente o projecto de candidatura.

Para além desta, notou o investigador e antropólogo, o documento “apresenta resposta ao pedido de proposta de medidas de salvaguarda, articuladas entre si e exequíveis, quer por parte da entidade proponente da inventariação, quer no âmbito de articulação desta com outras entidades”, tendo Camponês dedicado os últimos meses a recolher informações, depoimentos e documentos sobre a Festa dos Tabuleiros, a que foram aduzidas propostas de salvaguarda como sejam os registos vídeo e fotográficos de profissões em vias de extinção, como o latoeiro ou o cesteiro, para que possam ser replicados no futuro, ou a criação de um Centro Interpretativo da Festa, que a autarquia já aprovou em sede de executivo.

Tendo feito notar que “não é possível ligar a Festa dos Tabuleiros às “eventuais” origens pagãs, tendo em conta a ausência de provas documentais e iconográficas que o atestem”, André Camponês disse à Lusa que a data mais antiga que documenta a existência da Festa dos Tabuleiros (então designada Festa em Honra do Divino Espírito Santo) é de 1844, informação obtida no livro de Actas e Contabilidade da Academia Philarmónica Tomarense (já desaparecida), e que o testemunho mais antigo da Festa do Espírito Santo (vulgo Festa dos Tabuleiros) em Tomar, é a Coroa da Asseiceira de 1544.

Segundo a vereadora da Cultura, Filipa Fernandes, o processo de candidatura ao inventário nacional hoje apresentado em Tomar “serve de base” para a futura candidatura de uma “festa com grande carisma” a Património Imaterial da Humanidade e inclui um “levantamento rigoroso de inventariação histórica e científica” da centenária Festa dos Tabuleiros, processo que está a ser trabalhado com “muito entusiasmo” há vários meses em parceria com o investigador do IHC para ser “submetido na plataforma” do inventário nacional depois de aprovado pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).

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