Natural da Golegã, Laura Oliveira apresenta na Galeria João Pedro Veiga, no Equuspolis, a exposição “Da minha Terra”, patente até 26 de Setembro. Trata-se de um trabalho sensorial e profundamente pessoal, que mergulha na paisagem natural da vila e nas memórias de infância no Paul do Boquilobo. Valorizando a experimentação e a superação de limites criativos, a jovem artista recorre à cerâmica, ao vidro e a elementos naturais como o algodão cru e os pigmentos das plantas para dar corpo a uma narrativa íntima. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, fala-nos do processo que a levou a transportar a sua terra natal para o espaço expositivo — e da vontade de continuar a aprender, criar e explorar novos caminhos na arte contemporânea.
Como nasceu a exposição “Da minha Terra” e que motivações pessoais ou artísticas estão na sua origem?
Esta exposição surgiu no contexto de levar um pouco de mim para Lisboa, a cidade onde estudo. A Golegã é conhecida pelas suas ligações à tauromaquia, assim como pela Feira do Cavalo, portanto quis criar uma nova abordagem. Creio que criar uma narrativa diferente relacionada à vila foi um processo que me demorou tempo, mas gratificante.
De que forma o território da Golegã e a paisagem do Paul do Boquilobo influenciaram o seu processo criativo?
Cresci junto ao campo da Golegã e, em algumas alturas, visitei muitas vezes o Paul do Boquilobo de bicicleta, com o meu irmão. Penso que aquilo que influenciou mais o processo criativo nem foi tanto o lugar em si, mas sim a memória que me acompanhou até hoje. Uma das coisas que mais gosto da Golegã é a natureza e poder “agarrar” num pouco de cada canto da vila permitiu-me ter uma complexidade de processos criativos que, no final, resultou na exposição. O meu objectivo era trazer as minhas memórias de criança até à actualidade e penso que a melhor forma foi através das cores, dos cheiros e das texturas.
O visitante sente uma ligação sensorial forte entre arte e natureza. Que materiais e técnicas utilizou para criar essa ponte?
Fico feliz por conseguirem fazer essa ligação! Ao longo do meu trabalho enquanto artista, nunca me prendi a um único suporte ou técnica – tento sempre experimentar o máximo que consigo na altura. Porém, para este projecto, o tecido de algodão cru foi crucial, assim como as próprias plantas. Foram elas que permitiram que as cores aparecessem – são os seus pigmentos da forma mais crua e natural. Além disso, pretendi criar um pouco a ideia de musgo com as peças de cerâmica, uma referência bastante importante do Paul do Boquilobo em época de Inverno. O vidro foi igualmente importante para criar esta “pintura intemporal” das plantas existentes no Paul. Cada material foi pensado de maneira a conseguir transmitir o máximo possível dos aspectos naturalistas deste trabalho e penso que foi bem conseguido.
Há uma dimensão autobiográfica na exposição, apesar da abordagem naturalista. Pretendeu também contar a sua história?
Na realidade não foi o meu objectivo inicialmente, mas até certo ponto, toda a obra de um artista tem uma parte pessoal. No entanto, acabei por contar uma história ligada aos meus caminhos por estes lugares, e a peça “Os caminhos que percorri até chegar aqui” é a representação disso mesmo. Foi um período de um ano em que caminhei todos os fins-de-semana para a Golegã, com o objectivo de manter o máximo contacto possível com a minha musa. Iniciei este projecto com o Paul, de seguida Alverca e, posteriormente, o campo – apesar de ter andado de um lado para o outro constantemente!
O que espera que o visitante leve consigo depois de visitar esta exposição?
O meu objectivo é mostrar uma versão diferente da Golegã, talvez um pouco da minha versão. Nunca me identifiquei com a tauromaquia, com a feira ou com outros aspectos muito relacionados com a vila, e mostrar este lado pessoal daquilo que eu vejo nesta terra é aquilo que pretendo igualmente que o visitante leve consigo.
Um título para o livro da sua vida?
Pensamentos de uma jovem confusa
Uma viagem marcante?
Viagem a Taizé, França, em Março de 2020.
Uma música que nunca a abandona?
Saudade, de Dillaz.
Quais os seus hobbies preferidos?
Criar arte, sudoku, ler e ouvir música.
Se pudesse alterar um facto da História, qual escolheria?
Queria mudar vários, mas o genocídio que está a acontecer, assim como o aumento da Extrema-Direita em Portugal, são dois deles.
Se tivesse de entrar num filme, que género preferiria?
Provavelmente um filme de comédia.
O que mais aprecia nas pessoas?
A compreensão e o respeito.