Idalina Januário Carvalho Pires e Manuel Pires Nazaré celebram, no próximo dia 17 de Fevereiro, um marco raro e precioso: 60 anos de casamento. Assinantes de longa data do Correio do Ribatejo, visitaram recentemente a nossa redacção, por mero acaso, para renovar a sua assinatura anual, mas a sua história de amor revelou-se tão singular que não poderíamos deixar de a partilhar, especialmente por se entrelaçar tão bem com o espírito do Dia de São Valentim que hoje, dia 14 de Fevereiro, se celebra.
O destino tratou de cruzar as suas vidas de forma curiosa: Idalina, natural de São João da Ribeira, tinha uma irmã casada com o irmão de Manuel. Foi essa ligação familiar que, por obra do acaso e da proximidade, deu início a um namoro que superaria o teste do tempo e da distância.
“Por uma mera coincidência, fui dar aulas para a terra dele, Alcobertas. Quando lhe escrevi para contar, ele respondeu a dizer que tinha nascido lá. Foi um momento especial”, recorda Idalina, com um sorriso terno.
O casamento aconteceu a uma quarta-feira de 1965, mas a lua-de-mel foi adiada indefinidamente. Apenas três dias depois, Manuel embarcava para Moçambique, cumprindo a primeira de três comissões na guerra colonial. Seguiram-se anos de separação forçada, com Manuel em Moçambique, Guiné e Angola, enquanto Idalina mantinha o lar em Santarém.
“Foram tempos muito difíceis. Estive nove anos sem ele, entre idas e vindas de comissões no Ultramar… sobretudo na da Guiné, que foi terrível”, partilha Idalina, com um brilho nos olhos que revela tanto a dor como a força daqueles anos.
Manuel descreve com serenidade as memórias da guerra: “Na Guiné, vivíamos em constante sobressalto. Tínhamos de dormir em abrigos subterrâneos, com ataques frequentes durante a noite. Foram tempos de grande sofrimento”.
Apesar dos desafios, o amor resistiu. A distância não quebrou o vínculo; pelo contrário, fortaleceu-o. A impossibilidade de ter filhos biológicos levou o casal a adoptar uma menina, que é hoje o maior orgulho dos pais.
Quando questionados sobre o segredo para uma relação tão duradoura, Idalina responde sem hesitar: “É o respeito, a sinceridade e o saber desculpar. O amor é importante, mas são estes valores que mantêm um casamento firme”.
Manuel concorda: “O importante é nunca esquecer o compromisso assumido e saber que, mesmo nos momentos difíceis, há sempre um caminho de volta para a harmonia”.
Hoje, reformados e com um percurso de vida repleto de memórias, o casal reflete sobre a simplicidade da felicidade: “O que mais importa é estarmos juntos, partilharmos o dia-a-dia e mantermos o respeito mútuo”.
No Dia de São Valentim, a história de Idalina e Manuel é um testemunho de que o amor verdadeiro se mede pela capacidade de resistir aos desafios da vida, crescendo em cada gesto de compaixão e partilha. Um amor que, tal como o diamante, é eterno e perdura.