Marta Gouveia dos Santos Carvalho, teve sempre, desde pequena, uma queda especial para diversas atividades: dança, ginástica, equitação, e até para a música no conservatório, mas os anos foram passando e a bicicleta e o ciclismo -a par do gosto pelo convívio que isso lhe proporcionava – foi ficando e falando mais alto.
O percurso nesta modalidade iniciou-se em 2012, no escalão de benjamim, através de um convite da Associação 20kms de Almeirim para integrar a então ainda recente equipa de ciclismo de BTT.
Foi o início de uma viagem, onde Marta deu os primeiros passos em pequenas provas: nestes escalões, os atletas ainda só fazem gincana, pequenos circuitos com obstáculos com regras definidas, onde quem fizer menos tempo a transpor esses obstáculos vence.
Claro que não era isso que mais alegria trazia à Marta, mas sim o convívio com crianças da mesma idade e, principalmente, olhar para os mais velhos e admirá-los nas suas façanhas.
“O meu pai praticava ciclismo amador e aos 6 anos de idade incentivou-me a andar de bicicleta fazendo umas provas por diversão, fui ganhando interesse e esse interesse foi crescendo até hoje”, conta, com um sorriso.
Marta iniciou-se no desporto com uma pequena bicicleta “Venus” comprada para lazer, nada apropriada para o efeito, mas o mais importante “era brincar e desfrutar do meio ambiente envolvente”.
Percorreu com a equipa várias provas do concelho e, nesse mesmo ano, foi trocando de bicicleta, pois a mesma era pequena para a mobilidade, assim foi palmilhando, melhorando a sua técnica e principalmente convivendo.
Em 2014, Marta Carvalho inicia-se num novo escalão, de iniciada, passando a fazer parte da equipa Escola BTT SFA 1º Dezembro de Alpiarça: neste escalão, as provas já eram compostas por tempo de gincana somado com uma prova em linha. Nos dois anos neste escalão conquistou diversas medalhas entres as quais o primeiro lugar no Troféu Norte Alentejano, três segundos lugares em encontros Inter-Regionais, mas o que trouxe o brilho aos seus olhos foi o primeiro lugar alcançado no Encontro Nacional de Escolas, vertente BTT, em Almeirim, a prova mais importante para os atletas de formação. Mas, como não só de corridas se faz uma atleta, nesse mesmo ano, como era habitual, a equipa participava no cortejo de Carnaval.
Em 2016 e 2017 há nova alteração de escalão para Infantil. Em 2016 Marta Carvalho esteve associada à equipa de BTT de Marinhais e, em 2017, teve a integração numa equipa de ciclismo inteiramente feminina “5Quinas de Albufeira” e a escolha de praticar ciclismo em duas vertentes: estrada e BTT.
“Eu pratico várias vertentes do ciclismo, BTT, Estrada e Pista, tento ser uma atleta versátil, para isso, juntamente com o meu treinador, tentamos não trabalhar apenas uma característica, mas sim várias para nas várias vertentes ter os argumentos necessários para ser competitiva”, explicita a atleta.
Nestes dois anos, entre as muitas conquistas, destaca-se o 1º lugar no Troféu Norte Alentejano, dois primeiros lugares em Inter-Regionais, dois segundos Lugares em Inter-Regionais de Estrada e o primeiro Lugar no Encontro Nacional de Escolas de BTT em Almeirim.
Os anos de 2018 e 2019 marcam nova subida, desta feita para o escalão de juvenis e, em 2019, Marta foi convidada a integrar a equipa ExtremoSul de Messines Algarve, onde iria ficar até 2023. “Senti-me muito bem integrada naquela equipa, onde tive as condições necessárias para a realização das provas nas várias vertentes e, o mais importante, a grande amizade entre colegas”, destaca Marta, acrescentando: “o ciclismo é um desporto mais solitário não é, por exemplo, como o futebol que precisam sempre de estar em equipa para treinar.
A minha equipa era do Algarve, mas encontrávamo-nos sempre para as corridas e davam todo o apoio necessário, transporte, alojamento, apoio técnico em prova, assim não fazia muita diferença estarmos mais afastados nos períodos em que era para treinar.”
No ano de 2019, a atleta dá início a uma nova vertente do ciclismo: além de Estrada e BTT, inicia a Pista e, nestes dois anos, vence a Taça de Portugal de Pista (constituída por três provas), dois Inter-Regionais de BTT e um Inter-Regional de Estrada, tendo também sido vencedora do Encontro Nacional de Escolas em Almeirim, na vertente BTT.
2020 e 2021 marcam nova alteração, para o escalão de cadete, escalão que já corresponde a competição. Na vertente de Pista, vence a Taça de Portugal (ano 2020 na disciplina de 500m e Scratch), é Campeã Nacional na disciplina de Pontos e, no ano de 2021, sagra-se vencedora da taça de Portugal (composta por dois dias) nas disciplinas de Scratch, Eliminação e Pontos).
“O ciclismo feminino em Portugal ainda tem algumas barreiras por superar, apesar de estar a evoluir. Começa a haver mais projectos envolvendo uma formação mais jovem com o objectivo de equiparar em termos de competitividade a um nível internacional”, analisa a atleta.
Já na BTT XCO, alcança diversos segundos lugares nas provas da Taça de Portugal e é Campeã Nacional da disciplina de XCE e XCC.
Em Estrada, é Campeã Nacional de fundo (2021) e vencedora da Taça de Portugal. Nos anos de 2022 e 2023, no escalão de júnior, Marta alcança diversos troféus de Pista: é Campeã Nacional nas disciplinas de Scratch, Eliminação e Pontos, consegue o 1º Lugar na Taça de Portugal de Pista (Scratch e Pontos) e, também o 1º Lugar Troféu Internacional Pista Artur Lopes (Scratch e Pontos).
Na Disciplina de Estrada (2022), é Campeã Nacional de Fundo e, em 2023, é Vencedora da Taça de Portugal e conquista a Camisola da Juventude na 3.ª Volta Portugal Feminina. Pela Selecção esteve presente em um Europeu de BTT XCO (Anadia), duas Taças do mundo /República Checa e Alemanha), dois Europeus de Pista, num deles 7º lugar na disciplina de pontos (Anadia).
Alcançou, ainda, a vitória em Estrada – V Trofeo Femenino Ayuntamiento de Estella / Lizarra (Copa de Espanha) e participa no Europeu de Estrada – Holanda. Este ano, 2024, Marta Carvalho decide mudar-se para uma equipa espanhola “RIO MIERA – CANTABRIA DEPORTE” inteiramente feminina de estrada, de forma a progredir na carreira.
“Começou a haver contacto e interesse depois da volta a Portugal de cadetes e sub-19, onde fui quarta à geral e venci a camisola de pontos. Foram bastante acessíveis, então foi fácil de chegarmos a um acordo, sem qualquer tipo de pressão, a ideia de um projeto de internacionalização e de ter também mais duas colegas portuguesas facilitaram a minha decisão. Estou de espírito aberto e com muita vontade de ajudar a equipa e aprender”, afirma.
Para lá da vertente física, a parte mental e o apoio da família têm sido decisivos na sua carreira: “tem de haver um equilíbrio de todas as partes, no desporto não é só a parte física que interessa também precisamos de estar bem mentalmente, pois a mente é que comanda o corpo. Se estivermos psicologicamente em baixo isso vai-se refletir no nosso desempenho.
Para mim, o apoio da família é essencial pois eles apoiam-me incondicionalmente e ajudam-me a ser resiliente, sem eles era complicado eu praticar este desporto pois também envolve custos bastante elevados”, confessa.
“A família e os amigos são bastante importantes, porque sem o apoio deles não chegaria até aqui, dão-me mais motivação e estão sempre comigo, sempre que possível acompanham as minhas provas, é importante para mim esse apoio”, diz ainda.
Questionada acerca dos seus maiores sonhos pessoais e desportivos, Marta é peremptória: “a nível desportivo, queria alcançar um título europeu ou mundial ou até mesmo conseguir ir aos Jogos Olímpicos. A nível pessoal, gostava de conseguir uma carreira no ciclismo, mesmo sabendo que é complicado, ou ir pelo plano B, ter uma boa carreira profissional numa área ligada à saúde.