Bruno Duarte Filipe, natural de Tomar, foi ordenado sacerdote no passado dia 18 de Junho, numa cerimónia que decorreu na Igreja de Santa Clara, em Santarém. Numa altura em que escasseiam as vocações, Bruno Duarte Filipe assume que decidiu optar pela via do sacerdócio porque quis sonhar a sua vida “no serviço a Deus e à Igreja”. Estudou na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, e frequentou o Seminário dos Olivais, também no Patriarcado.

Em que altura da sua vida descobriu a vocação do sacerdócio?
Foi por volta de 2013, estava eu no 3º ano da Licenciatura em Música quando começaram a surgir questões neste sentido: comecei a perguntar-me o que é que Deus tinha sonhado para mim. A certeza de qual seria, em concreto, a minha vocação surgiu ao longo do tempo de seminário.

O que é que pesou na escolha da sua opção?
Pesou fundamentalmente a felicidade que sentia por ser cristão e o querer que outros experimentassem essa mesma felicidade.

Alguma vez foi dissuadido a abandonar essa opção?
Dissuadido penso que não, contudo há sempre vozes que nos vão questionando sobre se vale a pena abraçar esta vida. Estava a acabar um curso quando tomei a decisão de entrar no seminário, nessa altura já dava aulas de música há cerca de três anos. É claro que causa estranheza em algumas pessoas abandonar um sonho que já havia começado a ser construído.

Qualquer jovem da sua idade aspira a uma boa profissão, a um sonho de vida. Esse sonho também se encontra na vocação que abraçou?
Sem dúvida. Eu sou padre porque quis sonhar a minha vida no serviço a Deus e à Igreja. Quis sonhar uma vida totalmente entregue para que muitos possam experimentar a vida que eu experimento: uma vida com Deus, uma vida verdadeiramente feliz. Não se trata de ser uma boa profissão ou não, trata-se de ser feliz.

Acha que ser-se padre no século XXI levanta mais preconceitos entre a juventude – de onde se espera que saiam mais vocações – que noutros tempos?
Não sei como foi noutros séculos, mas hoje sinto que há cada vez mais a dificuldade de nos comprometermos. Uma vocação, qualquer que seja ela – incluindo o matrimónio – implica um compromisso para sempre. Isso assusta muita gente. É preciso um olhar de fé para o que nos espera. Ser feliz dá trabalho, é preciso dedicarmo-nos a isso de corpo e alma todos os dias

Sente que o confinamento, em que a prática de religião ficou suspensa fisicamente, provocou algum estremecimento nos católicos que viam nas missas e noutras cerimónias religiosas uma certeza ao longo de toda a sua vida?
A época que vivemos é desafiante em muitas dimensões das nossas vidas. É-o também nesta dimensão religiosa. Como homens e mulheres que somos, precisamos de sinais concretos e palpáveis, que nos ajudem a viver e professar a fé, não dá para viver apenas de algo abstracto. A igreja foi tentando adaptar-se à nova realidade, mas as dimensões virtuais, ainda que ajudem a superar alguns obstáculos, não substituem a graça que é podermos tocar a realidade do outro que caminha connosco.

O impacto da crise pode levar a uma revisão do nosso modo de viver, a uma conversão ecológica e a uma sociedade e economia mais humanas?
É precisamente essa a minha esperança, somos responsáveis uns pelos outros, nada do que fazemos é indiferente ao resto da sociedade, as nossas acções têm repercussões em todo o mundo. É importante não esquecer que precisamos de cuidar da nossa sociedade, da nossa casa comum, como lhe chama o Papa Francisco.

Que mensagem gostaria de deixar para a comunidade católica de Santarém?
Sonhem, sonhem e sonhem. Mas não sonhem sozinhos. A beleza constrói-se com Deus e com as outras pessoas. Sozinhos conseguimos apenas uma vida confortável e aparentemente feliz, mas não aquela vida bela a que Deus nos chama.

Como vê a questão vocacional hoje?
Deus sonha para nós um modo de sermos cristãos. Cabe-nos a nós escutar o sonho que Ele tem para nos propor: seja como padre, como irmã ou irmão, como casal, como missionário ou como leigo consagrado.

Quais são as suas grandes preocupações?
Preocupo-me em ajudar as pessoas com quem me cruzo a perdoar. Preocupo-me em recuperar o entusiasmo de uma vida vivida com Deus: a fé não é algo que nos oprima ou que nos roube a liberdade. A fé é fonte de felicidade. Preocupo-me em valorizar o dom que é a vida de cada uma das pessoas que vive neste mundo. Precisamos de cuidar daqueles que tantas vezes são postos de lado e a quem é negada a possibilidade de viver uma vida digna. Preocupo-me em ajudar a sociedade a reaprender a sonhar uma vida digna e verdadeiramente feliz.

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