O União de Almeirim SAD entrou para a história dos campeonatos da Associação de Futebol de Santarém ao conseguir alcançar o maior número de triunfos consecutivos. O clube almeirinense superou o Samora Correia da década de 80 e CD Fátima de João Henriques, que agora orienta o Santa Clara. Ao somar 18 vitórias consecutivas, o clube igualou os feitos nacionais de FC Porto e Benfica. O recorde do guiness é do Ajax que entre 1971 e 1972, que estabeleceu um número de 27 vitórias consecutivas. O União de Almeirim SAD leva já neste momento um avanço de 13 pontos em relação ao segundo classificado, o Fazendense.

No comando dos destinos do clube está Jorge Ferreira da Silva, conhecido no mundo do futebol por Palhinha, antigo jogador internacional brasileiro, de 51 anos de idade, que após aprovação da criação da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) pelos sócios do clube, detém 90 por cento da SAD, tendo o clube ficado com os restantes 10 por cento. A empresa “Palhinha 9 Sports, Unipessoal Lda” ficou responsável pelo futebol sénior, pode utilizar as instalações do clube e ajudar na formação de jovens jogadores.

Palhinha começou no mundo do futebol no Venda Nova, pequena equipa de Belo Horizonte, aos dez anos. Formou-se até aos 18 anos no Santa Teresa, seguindo depois para o América Mineiro. Acabou emprestado em 1992 ao São Paulo, onde as boas prestações na Taça Libertadores lhe valeram um contrato em definitivo com os paulistas. Foi bicampeão da Taça Libertadores, em 1992 e 1993, e da Copa Intercontinental, no Japão, nos mesmos anos. Conquistou ainda o Paulistão de 1992, o bicampeonato da Recopa Sul-Americana, em 1993 e 1994, e a Supercopa da Libertadores, em 1993. Em 1997, voltou a vencer a Taça Libertadores pelo Cruzeiro. Jogou no Mallorca, de Espanha, em 1997, pelo Flamengo em 1998 e pelo Grêmio em 1999, onde se sagrou campeão gaúcho. Depois passou por vários clubes no Brasil, Perú e Emirados Árabes Unidos. Terminou a carreira de jogador no Guarulhos, em 2006.

Na Seleção Brasileira, Palhinha estreou-se me 1992, onde disputou dezasseis jogos e marcou cinco golos. Como internacional brasileiro partilhou balneário com Ronaldinho Gaúcho, Cafu ou Raí.
Iniciou a carreira de treinador em 2007, comandado as categorias de base do São Bernardo. Em 2013, foi para Los Angeles, nos Estados Unidos, comandar a academia de futebol do Corinthians naquele país. Foi também presidente do Boston City FC.

“No futebol, nunca nada está ganho”

Jorge Palhinha
Administrador da SAD

Primeiro de tudo, como é que surgiu a oportunidade de liderar o União de Almeirim SAD?
Fizemos várias visitas a clubes e conversamos com vários presidentes e directores. O União Futebol Clube de Almeirim (UFCA) foi o clube que, para nós, nos deu maior credibilidade para trabalhar. Demonstraram que têm a ambição de crescer, e crescer produzindo novos valores para o futebol português e também mundial e, por isso, seguimos em frente. Felizmente tudo correu bem ao constituir esta Sociedade Anónima Desportiva (SAD) com o UFCA.

Qual foi o investimento feito no clube?
Foram realizados investimentos grandes quer em termos de plantel, quer em termos de condições de treino. Realizámos, como é notório, melhorias ao nível do Estádio D. Manuel de Mello e, claro, também na vinda de jogadores para o clube.

Que objectivos é que estão definidos para o projecto?
O primeiro objectivo passou por conhecer como que funciona o futebol em Portugal e, concretamente, no Campeonato Distrital de Santarém. Este foi o nosso ponto de partida. Sabíamos que iria ser uma experiência nova e resolvemos iniciar por aí. Depois, o passo seguinte foi o de montar e estruturar uma equipa de trabalho profissional e ir aos poucos mudando a maneira de trabalhar, passando de uma competição distrital, amadora, para uma estrutura profissional. Ter atletas de qualidade foi também importante, para que entendessem que tínhamos que ter uma mentalidade profissional e ganhadora no dia-a-dia, para fortalecer o grupo, e, desta forma procurar o sucesso.

Atingiram recentemente um recorde nos campeonatos distritais com 17 vitórias em 17 jogos. Como é que se alcançam estes números?
A ideia foi sempre a de ter uma equipa forte para conquistar as vitórias pretendidas, e elas estão, de facto, a acontecer pelo bom trabalho dentro de campo. Mas, para estes resultados serem uma realidade, é preciso muito trabalho, um trabalho bem feito e profissional de dentro e fora de campo. As vitórias não vêm por acaso: vêm com a responsabilidade que conseguimos implementar nos treinos e nos jogos. Torna-se mais fácil se todos tiverem em sintonia e acreditem que é possível, mesmo jogando numa competição Distrital. Todos, na estrutura, são tratados como profissionais e procuramos dar-lhes essa condição. Os jogadores e equipa técnica percebem isso e correspondem a esta visão que temos para o clube.

O plantel é recheado de jogadores com muita qualidade. A vinda de jogadores estrangeiros é benéfica para atingir os objectivos?
Claramente. As contratações que efectuámos, de jogadores de muito nível, conseguem dar uma boa estrutura à equipa. Mas, claro, isto não é só trazer “estrangeiros”, temos de fazer tudo de uma forma correcta. Temos de os manter conforme são leis e condições adequadas para se viver e trabalhar em Portugal. A consequência de ter os estrangeiros na equipa leva-nos a pedir muito mais a cada um deles e, quando eles conseguem fazê-lo, as coisas tendem a sair bem.

Enquanto dirigente desportivo, qual o perfil preferencial na escolha de um treinador?
Que tenha a mente aberta para novos conhecimentos e desafios, que tenha prazer em trabalhar, que não fique preso às convicções próprias ou de costumes próprios, que tenha sempre o objectivo de querer melhorar e saber escutar os auxiliares para, dessa forma, poder dirigir melhor os trabalhos e gerir o grupo de uma forma mais eficiente. O treinador, na SAD, não pode fazer só o que ele acha correcto: tem de partilhar as ideias com todos antes da tomada das decisões. No futebol, o treinador nem sempre tem razão. Repito: as decisões têm de ser tomadas em conjunto. Quando assim não acontece, vários atletas que têm muita qualidade acabam mesmo por não progredir e isso prejudica a equipa.

Considera que o campeonato distrital de Santarém é competitivo?
Claro que sim. Na minha opinião, o que falta neste campeonato é divulgação noticiosa das equipas e, também, a valorização dos atletas e dos clubes. A imprensa – não toda, claro – não dá o devido valor que este campeonato merece: não valorizam o que têm em mãos.

A subida ao Campeonato de Portugal está praticamente garantida. A equipa tem condições para fazer mais numa competição com outro tipo de exigência?
Ainda não está nada definido. Temos ainda 13 jogos para fazer e, no futebol, nunca nada está ganho. Só quando os números o comprovarem, ou seja, assim que qualquer outra equipa já não tenha hipótese de nos alcançar, começaremos a pensar no próximo passo. Teremos, certamente, condições para competir nas provas que estiverem para vir. Claro que, se esse objectivo se vier a concretizar, teremos que mudar as nossas escolhas no plantel tendo em conta, precisamente, o perfil dessa competição.

Até onde sonha levar o clube?
Não escondo que o primeiro sonho pode ser já concretizado este ano, com a subida da equipa ao Campeonato de Portugal. Depois, vamos viver os sonhos a cada ano que passar. Para podermos sonhar, temos que fazer as coisas de uma forma consciente e bem estruturada, sempre respeitando as pessoas que fazem parte da estrutura do clube.

A formação no clube é ou não uma prioridade para o União de Almeirim SAD?
A SAD tem todo o interesse em que a formação do clube esteja bem, e estando bem, vai valorizar o clube, os atletas, a própria SAD e, até, outros clubes. A formação, no clube, precisa de ter melhores treinadores e melhores condições para que os atletas possam trabalhar, e isso serve para todas as equipas.

Que investimento é feito nesta área?
A SAD não realiza um investimento financeiro na formação porque essa é uma obrigação do clube e não da SAD, mas, no dia-a-dia apoiamos sempre todos os que fazem essa função.

As condições de treino em Almeirim são as ideais para os atletas?
As condições que SAD proporciona aos atletas seniores sim. Mas estamos sempre a procurar melhorar esse sector. O mais importante, neste aspecto, é termos profissionais capacitados em todas as áreas pois, assim, fica mais fácil passar os objectivos que nos propomos a trabalhar. Com isto, os atletas sentem-se mais estruturados e informados para realizar um bom trabalho.

A SAD fez algumas remodelações no Estádio D. Manuel de Mello. O investimento nesta área vai continuar?
É a nossa obrigação procurar melhorar as instalações desde que haja essa necessidade. Claro que vamos ter sempre que fazer mais coisas para melhorar as infra-estruturas. Esse tipo de trabalho praticamente nunca acaba, uma vez que há o desgaste natural das estruturas.

Qual é a relação da SAD com a população e poder local?
Pelo que temos visto e reparado, aparentemente é boa, apesar de não estarmos nos órgãos sociais e na direcção do clube. Os jogos da equipa sénior têm tido sempre bom público pelo que acredito que a população se sinta bem com a nossa orientação e apoia o trabalho que estamos a desenvolver.

O clube e a SAD do União de Almeirim estão em sintonia em termos de objectivos e projectos de futuro?
A nossa relação sempre foi óptima: conversamos, trocamos ideias e estamos sempre a procurar, em conjunto, aquilo que poderemos e temos de fazer no futuro. As questões são sempre partilhadas entre SAD e clube porque ao nos apoiarmos mutuamente vamos ter sempre muito mais condições para melhorar no futuro. Apesar de não estarmos a gerir o clube, penso que se as direcções da SAD e do clube tiverem um bom relacionamento, há grandes hipóteses do futuro ser risonho. No nosso caso, estamos sempre juntos na troca de informações e decisões e não temos tido nenhum problema. No caso de aparecer algum problema, resolvemos sempre em conjunto.

Se pudesse implementar alguma ideia ou mudar alguma coisa na organização do futebol português, o que seria?
Estou aqui apenas para aprender e fazer a gestão da nossa SAD. Aproveito tudo aquilo que aprendi e coloco o que vivi toda a minha vida dentro e fora do futebol para levar a bom porto este projecto desportivo.

Que objectivos tem para o seu futuro como dirigente desportivo?
Os de sempre: ser sempre honesto com todos e trabalhar para que todos possam ver que é possível fazer as coisas bem feitas, respeitando todos e esperando também ser respeitado.

“Coloco o colectivo sempre em primeiro lugar

João Palhoto
Capitão de Equipa

Como é que está o ambiente no balneário do Almeirim após esta sequência de vitórias?
Após esta sequência de vitórias e de termos alcançado o recorde de vitórias consecutivas nos campeonatos distritais da Associação de Futebol de Santarém (AFS), o ambiente que se vive é o mesmo nos levou a conseguir atingir esta sequência de vitórias no dia em que iniciámos a competição. Ambiente esse que é pautado pelo respeito, pelo compromisso, pela confiança, pela superação, pelo companheirismo, pela ambição e outros valores que levam uma equipa de futebol a ter rendimento colectivo de forma a tentar obter os melhores resultados. Todos nós estamos perfeitamente identificados e dedicados a querer ajudar o clube nesta sua nova fase desportiva, sabemos que as vitórias ajudam a que o ambiente seja de total confiança, o grupo tem a perfeita noção que ainda não conquistou nada e que existe um caminho bastante difícil para percorrer até aos objectivos finais. O nosso pensamento tem sido sempre ganhar domingo a domingo respeitando todos os adversários, mas sempre com uma enorme ambição de ganhar para no final da competição conseguir-mos atingir os nossos objectivos.

A equipa corre o risco de se deslumbrar ou nem se põe essa questão?
Todo o grupo sabe que o mais difícil é manter o rendimento que temos tido até ao momento. Todas as pessoas dentro do clube lutam para que a equipa mantenha este registo e temos a plena noção que não é com deslumbramentos que vamos conseguir manter a invencibilidade, o objectivo é trabalhar-mos para que nos jogos ao domingo sejamos melhores do que as outras equipas e consigamos conquistar a vitória.

Quais são as ambições que estão assumidas pela equipa este ano?
As ambições da equipa e do clube passam por tentar ganhar todas a competições da AFS onde estamos inseridos, ou seja, Campeonato Distrital 1ª Divisão, Taça do Ribatejo e posteriormente se conseguir-mos estar presentes tentar conquistar a Super Taça Dr. Alves Vieira.

Como capitão, como é que motiva os colegas para darem tudo em campo como tem verificado?
A forma como tento liderar e motivar o grupo de trabalho é através do exemplo, não me considero um capitão muito falador e a forma que considero mais eficaz de me expressar nessa função é ter um comportamento exemplar dentro do campo e fora dele. Aquilo que faço é ser um jogador que coloca o colectivo sempre em primeiro lugar, que luta dentro do campo pela camisola que veste e que tem uma ambição enorme de ganhar. Felizmente temos um grupo fantástico no qual eu tenho a felicidade de ser o capitão, mas considero-me apenas mais um elemento que está disposto a fazer tudo para que a equipa atinja os objectivos. Todos dentro do grupo devem-se comportar como capitães, pois todos têm responsabilidades e até momento todos têm correspondido da melhor forma.

“Podemos dizer que somos um símbolo da cidade

Agostinho Fernandes
Presidente do União Futebol Clube de Almeirim

Como é que está o panorama associativo do União Futebol Clube de Almeirim?
O União FC Almeirim tem uma história de 85 anos, a mais antiga colectividade da cidade, na qual teve momentos altos e momentos menos bons, mas sempre foi uma referência do desporto local e regional. Hoje em dia são provavelmente poucos os Almeirinenses, que não tenham tido uma ligação directa ou indirecta ao clube, quer pela prática desportiva, quer pelo dirigismo, quer pela participação associativa nas actividades. Neste momento a vitalidade do clube, demonstra-se pela quantidade de praticantes, pelas assistências aos jogos de todos os escalões e a participação noutras actividades, mas há sempre espaço para crescimento de participação de todos na vida associativa, quer no número de atletas, de dirigentes e de associados. Por isso podemos dizer que somos um símbolo da cidade.

Qual é a actual situação financeira do clube?
Seis anos depois conseguimos recuperar o clube de uma dívida astronómica, com muito rigor, muita dedicação, muito trabalho e com a colaboração de muita gente, neste momento somos um clube estabilizado, que organiza o seu orçamento de forma equilibrada, responsável e sustentável, com as dificuldades normais de uma época desportiva, mas com a certeza que não podemos gastar mais do que aquilo que podemos, para não comprometer o futuro.

Quais são as maiores dificuldades encontradas na gestão actualmente?
Neste momento as maiores dificuldades, são a falta de espaços para treinar. Com o crescente número de atletas masculinos e sobretudo femininos, os espaços existentes não dão resposta adequada a uma prática desportiva formativa e competitiva de qualidade, é nossa aposta a melhoria dessas condições.

Como é que avalia o sector da formação do União de Almeirim?
A formação do União FC Almeirim neste momento reflecte todo o trabalho que tem sido feito nos últimos anos e que representa duas equipas nos campeonatos nacionais; juvenis e seniores femininas, as iniciadas femininas no campeonato AF Lisboa a disputar a fase de apuramento de campeão, na AF Santarém as equipas de futebol 7, sub 10, sub 11 e infantis vão fazendo o seu percurso de evolução, os iniciados masculinos em 1º lugar a disputar a fase de apuramento de campeão, as iniciadas femininas em 1º lugar, os juvenis B com possibilidade de disputar a fase de apuramento campeão e os juniores em 1º no campeonato e nos quartos-de-final da taça do Ribatejo. Esta época estamos a lutar pelo titulo de campeão em iniciados masculinos e femininos e juniores o título de campeão e a Taça do Ribatejo. Mas tão ou mais importante que os títulos, é a nossa preocupação com a formação dos nossos atletas nas suas diversas vertentes e para isso o processo de certificação do clube como Entidade Formadora reconhecida pela FPF está a decorrer e estará concluído no final da época e a atribuição da Bandeira da Ética pelo IPDJ, como reconhecimentos pelas boas práticas da ética no desporto. Bons atletas hoje, melhores cidadãos amanhã.

Qual é a relação do clube com a SAD?
A relação do clube com a SAD, é uma relação normal, mas muito boa, desde o momento em que se começou a trabalhar na sua constituição, nos seus objectivos e nos objectivos do clube. A SAD representa uma parceria muito importante para o clube, na gestão da equipa sénior, quer pelos resultados desportivos, quer pela valorização dos nossos jovens atletas, que já fazem parte do plantel sénior quer dos nossos juniores que também já fazem parte das convocatórias e dos jogos seniores. A valorização da equipa sénior, valoriza a formação do clube, assim com o a valorização da formação beneficiará a equipa sénior, é esta a parceria que faz sentido.

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