A Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT) defendeu “medidas extraordinárias e imediatas” para a contratação de profissionais de saúde para os cuidados primários, sugerindo a criação de incentivos ou o recrutamento de estrangeiros.
José Manuel Soares, porta-voz da CUSMT, disse à Lusa que esta foi uma das questões abordadas na reunião realizada com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), a administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), a direção executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo e um representante dos autarcas, na sequência da petição com mais de 7.500 assinaturas entregue, em janeiro, pela comissão, no Ministério da Saúde.
A reunião realizou-se por iniciativa do presidente da ARSLVT, Luís Pisco, realçando Manuel Soares o consenso entre todos os participantes quanto ao essencial das preocupações levantadas no abaixo-assinado e das propostas avançadas.
Em particular, salientou o reafirmar das dificuldades atualmente existentes na contratação de médicos e enfermeiros, o que, sublinhou, torna mais urgente, “pensar-se, a curto prazo, em medidas, que podem ser temporárias, de incentivos ou de contratação de profissionais estrangeiros”, a exemplo do que já se fez no passado.
Como exemplo da carência de profissionais existente na região, Manuel Soares referiu o concelho de Vila Nova da Barquinha, onde as extensões de saúde estão encerradas quase há um ano e meio, funcionando apenas o Centro de Saúde.
O porta-voz da CUSMT salientou que, aos 22 médicos de família em falta na região é preciso juntar os 25 que atingem este ano a idade legal da reforma, sendo que os cuidados têm também sido afetados pelo conjunto de médicos infetados com o vírus que provoca a covid-19, ou que tiveram contactos de risco, ou ainda que foram afetos a serviços relacionados com a pandemia, para além dos casos de gravidez de risco e de licenças de parentalidade.
A CUSMT insistiu, igualmente, no cumprimento da promessa, feita em 2019, de instalação dos consultórios de dentistas nos centros de saúde e que só agora “estão a dar alguns passos”, nomeadamente em Abrantes, Entroncamento, Ourém, Sardoal e Mação.
Contudo, alertou, os quadros de pessoal do Serviço Nacional de Saúde (SNS) não prevêem a existência de dentistas, pelo que se está a recorrer a contratos temporários para responder ao que é “uma necessidade premente para grande parte da população”.
Uma das propostas avançadas foi a da realização de reuniões trimestrais entre as várias entidades, “no sentido de coordenar atividades, ganhar sinergias e poupar alguns meios”, afirmou.
Uma das situações a acompanhar é a das obras nas Urgência da unidade de Abrantes do CHMT, que a CUSMT gostaria que fosse acelerada, mas que reconhece ser preferível acautelar que não existam contestações ao concurso, de forma a garantir que “as obras começam, são bem feitas e no tempo determinado”.
A CUSMT insistiu, igualmente, na atribuição da urgência médico-cirúrgica a todas as três unidades do CHMT (Torres Novas, Tomar e Abrantes), acrescentou.
A questão da unidade de hemodinâmica, a necessidade do serviço de medicina física e de reabilitação na unidade de Tomar e as dificuldades de consultas de pedopsiquiatria são outros assuntos na ordem do dia, acrescentou.
Manuel Soares reafirmou a preocupação de uma efetiva promoção da saúde pública, considerando que uma aposta nos cuidados de proximidade, com a existência de extensões de saúde, unidades móveis, cuidados à comunidade, numa efetiva coordenação entre as diversas entidades, é fundamental para evitar que as pessoas fiquem doentes e “recorram, já em último caso, às urgências ou a consultas de recurso”.
“Um dos problemas da organização do SNS é que as diversas estruturas não conversem, não coordenem sua atividade”, disse, destacando a importância de reuniões como a que hoje se realizou em Torres Novas e dando o exemplo da prática adotada devido à pandemia, com reuniões regulares entre Segurança Social, Proteção Civil, Unidades de Saúde, permitindo, “bastantes vezes, dar resposta a uma série de situações que noutros casos não é habitual”.
“Propusemos que essa prática devia ser regular, de forma a identificar problemas no acesso aos cuidados de saúde e a tomar as medidas necessárias. As populações só teriam a ganhar”, disse, dando os exemplos dos transportes ou da utilização pelos cuidados primários de meios complementares de diagnóstico hospitalares, “alguns subutilizados”.