Nuno Serra, presidente do Rugby Clube de Santarém

Cerca de 240 jovens praticam a modalidade Rugby Clube de Santarém O presidente, Nuno Serra, destaca o trabalho feito na valorização das instalações no complexo da antiga Escola Prática de Cavalaria, mas fala na necessidade de se efectuarem mais algumas melhorias ao nível da iluminação, sede e balneários. Este ano, o emblema da cidade assinala os seus 25 anos, renovando a sua aposta na formação e ambicionando um lugar no topo da tabela para a sua equipa sénior.

Qual o panorama actual do rugby clube de Santarém?
O Rugby em Santarém está em pleno crescimento. Este ano, o clube assinala os seus 25 anos, e tem vindo a registar um crescimento muito grande, com base nele próprio, com os pais, dirigentes, treinadores e os próprios atletas que apoiam e dão tudo a este clube. Temos tido a sorte, também, de ter patrocinadores que acreditam no projecto. É um clube que representa aqui a zona centro, e isso dá-nos uma dimensão que poucos desportos têm.
Vamos tendo, também, esse reconhecimento por parte da Câmara Municipal de Santarém, e, neste momento, existe uma proposta para nos ajudarem a fazer os balneários e de nos criarem mais um campo de treino porque, com 240 atletas, já começa a ser difícil trabalhar só num campo.
Nos últimos anos, temos apostado muito na formação e tem sido esse o nosso grande foco: no ano passado, credenciámos dez novos treinadores, nas áreas dos escalões de formação, o que é muito significativo para o clube. Neste momento temos 18 treinadores.
Temos, este ano, cinco atletas nas Selecções Nacionais, e outros dois que foram convidadas para o estágio da Selecção, que também vai ter jogos internacionais. Estamos a crescer muito na formação e isso acaba por se reflectir nos escalões seniores.
Actualmente, contamos com duas equipas nos nacionais, os seniores e os sub- 16. Os sub-16 estão no top 12 nacional, o que é fantástico. Estão, aliás, em 6º lugar no campeonato. Temos, realmente, muito bons atletas, uma capacidade enorme de crescimento e, acima de tudo, um espírito que marcou sempre o Rugby em Santarém: um espírito de bravura, de esforço, que honra aquilo que é a cidade de Santarém.
Para nós, o grande orgulho é que quem joga aqui, e assume o papel de atleta, ou dirigente, ou treinador, possa ser um exemplo em termos de conduta na sua vida. Aqui, todos têm um papel importante: os jogadores para jogar, o árbitro para regular o jogo, e é preciso respeito e é isso que esperamos dos nossos atletas. Temos que ser íntegros, leais. No rugby, sem lealdade, não se é jogador, e, claro, acima de tudo, está a humildade. Não há vedetas, aprendemos que, como a vida, o rugby é um desporto de equipa.

Qual é a marca que queira deixar no clube?
Assumi a presidência em 2017. Vim substituir Jorge Stilwell e, em termos de ‘marca’ o que pretendo é dar continuidade a este importante projecto desportivo de Santarém. É, portanto, uma marca de continuidade. Nós vamos passando de geração em geração, de presidência ou direcção, a responsabilidade de manter sempre o que os outros fizeram. Tentamos melhorar o que está menos bom, e manter o que está bom. Acima de tudo, é a responsabilidade de não estragar o que foi feito antes. Temos é que incrementar, pôr um pouco mais naquilo que foi sendo construído e conquistado ao longo dos anos.
As direcções que vieram antes, foram fundamentais para criar esta infra-estrutura [novo campo de jogo, na ex-Escola Prática de Cavalaria] que deu uma capacitação enorme ao Rugby de Santarém. A nossa função, agora, é com estas estruturas, conseguir ter mais atletas, mais treinadores, mais adeptos, mais famílias envolvidas. Ter mais jogadores nas selecções nacionais. Continuar a merecer o reconhecimento da cidade.
Somos um clube aberto, abrangente e inclusivo. Incluímos, quer raparigas quer rapazes do Lar. E queremos, acima de tudo, que as pessoas se revejam no RCS: não só no desporto em si, mas no clube e nos seus valores.

Portanto, a ideia de que o rugby é um desporto elitista e fechado, cai por terra?
Sim, sem dúvida. Aqui, cabem todos. Temos cada vez mais atletas, filhos de pais que não tem nenhuma ligação ao rugby, e, inclusive, alguns acabam nas direcções, ou, pelo menos, completamente integrados: aqui, somos uma verdadeira família.
Temos, inclusive, dois jogadores estrangeiros na equipa senior, dois cidadãos oriundos do Brasil, que vieram para cá e hoje são da “família” de Santarém. Estão a trabalhar, têm as suas vidas. Já vieram também as mulheres deles, estão integrados e querem aqui criar raízes.

Rugby Clube de Santarém

Como perspectiva o clube daqui a cinco anos?
É minha convicção que temos que continuar a apostar na formação. A nossa capacidade competitiva nos nacionais e nos seniores está a crescer precisamente com a nossa competitividade na formação.
Até aos 12 anos, os atletas divertem-se, sem contacto físico: é quase um jogo da apanhada. Criam raízes para continuar, e cria os princípios básicos. E, depois, iremos colher esses frutos nos seniores.
Daqui a cinco anos, não tenho dúvidas, a equipa sénior continuará nos nacionais, mas tem oportunidade de subir de escalão. E teremos oportunidade, nos escalões mais baixos, de manter esta boa actuação que é a de continuar nos nacionais e nos top 12 nacionais. E, claro, vamos ter oportunidade de integrar mais jogadores nas selecções nacionais.

Como surge a sua ligação ao rugby?
Eu comecei a jogar com dez anos. Joguei na antiga Escola Superior Agrária. E o que acontece no rugby é que os amigos ficam para toda a vida: ainda hoje, os meus amigos de casa foram os que jogaram comigo com dez anos. O que passamos no campo, este respeito, esta integridade, fica para a vida.
Fiz parte das selecções nacionais até aos meus 16 anos. Nessa altura, não havia em Santarém o escalão acima desse e passei logo para os seniores. Quando saí daqui, fui para Braga, para a faculdade, onde ajudei a formar uma equipa de rugby. Cheguei a jogar lá pelo Arcos de Valdevez e outras equipas.
Quando voltei da faculdade voltei a jogar pelos seniores. Joguei também pelos veteranos. E com todo este percurso, as coisas acabam por surgir naturalmente, e acabam por ser uns a desafiar os outros a assumir as rédeas do clube e eu tenho o orgulho e a honra de ter sido desafiado pela anterior direcção, a quem agradeço tudo o que deixou e a oportunidade de poder hoje estar aqui. Este é o cargo que mais me honrou na vida, dos muitos que já tive.
Que o meu legado não seja mais do que contribuir para se manter este respeito e que o RCS seja cada vez mais reconhecido.

Quais são, actualmente, os grandes desafios do clube?
São vários os desafios, que são, em certa medida, transversais aos clubes amadores e que andam cá por amor à camisola. Dou um exemplo: nos nacionais, e só em transportes, temos custos aproximados de 12.000€/ano. Temos alguns treinadores que não recebem, temos muitos pais que ajudam. Para manter este campo, de relva natural, pagar equipamentos, é um esforço financeiro muito grande, mas é um esforço que compensa. Faltam balneários, mais locais de treino, mas a CMS já nos transmitiu que irá olhar para o rugby com outra atenção e temos muita espectativa naquilo que será o projecto que nos vão apresentar em breve.
Temos todas as condições para crescer mais, para continuar a ser um grande símbolo e uma das referências desportivas da cidade. Espero que assim continue e quem me vier substituir a seguir possa manter o legado.
Todos queremos que o clube cresça em dimensão, em solidez, em estrutura, em projecção regional e nacional. É óbvio que isso será sempre consequência dos resultados desportivos, e por isso é natural que se deseje que as nossas equipas continuem a ganhar como até aqui. É óbvio que gostaria que daqui a cinco anos o RCS estivesse a disputar o título de campeão nacional. Desde que não seja necessário renunciar aos seus objectivos principais.
Ou seja, o ganhar não me parece ser a ambição mais importante. O meu sonho pessoal é que os nossos jogadores sejam reconhecidos pela sua qualidade de jogo, a sua técnica, a sua bravura, a sua inteligência e pelo seu fair-play.

“O que pedimos é que os nossos atletas dêem o que têm para dar em campo”

Manel Inez, coordenador desportivo do RCS

Quais os projectos e objectivos que o Rugby de Santarém estabeleceu para a próxima época?
Temos sempre o objectivo, em termos da equipa sénior, de estar o mais próximo possível de subir à divisão de honra. Para isso, precisamos de alcançar um dos quatro primeiros lugares.
A equipa tem uma das médias de idades mais baixa do campeonato, e acusámos aqui alguma falta de experiência ao início. Na segunda volta, a equipa tem reagido muito bem e tem contrariado alguns resultados alcançados na primeira volta.
Tínhamos aqui dois elementos que fazem a diferença, os dois internacionais brasileiros – cada um joga numa posição distinta – e a verdade é que a experiência deles acrescenta muito à equipa. Um deles lesionou-se no início da época, e isso ainda não está completamente resolvido, mas que, de momento, não o impossibilita de jogar.
Nos sub-18 e sub-16 gostaríamos de ter as duas equipas nas primeiras divisões. Efectivamente, o rugby tem uma desvantagem em relação ao futebol: obriga sempre a uma formação. Não é tão fácil como no futebol, em que parece que os miúdos já nascem com a capacidade de ‘chutar’ uma bola. Aqui, é preciso muito trabalho vindo de trás de forma a aprimorar a técnica e dominar os aspectos do jogo.
Fizemos, por isso, um investimento muito forte em termos de formação e temos, inclusive, mais dez treinadores credenciados. E isso nota-se muito ao nível competitivo. Os treinos agora também são diferentes, mais rigorosos e objectivos. Nesse sentido, queremos alavancar mais os escalões não competitivos, as escolas, e criar mais condições para ter mais miúdos cada vez mais cedo para poderem, depois, potenciar os escalões mais velhos.

O balanço que se pode fazer da época, que termina agora em Abril?
O que dá mais visibilidade ao clube são os seniores e é com muita satisfação que vimos que, com esta média etária, de 19 anos, mesmo no limite, há muitas possibilidades de evolução. No clube, temos quatro atletas chamados a trabalhos de selecção, duas meninas nas selecções de sub-18, e dois rapazes, um nos sub-18 e outro nos sub-20. O facto de termos elementos constantemente chamados a trabalhos na selecção, que vêm de lá com essa endurance e hábitos de selecção, dá-nos aqui um grande estímulo e são eles próprios, um estímulo para os companheiros de equipa.

Como está o rugby em termos de apoios?
A nível estrutural, temos tido ajuda da autarquia, mas, efectivamente, todo o trabalho que aqui se pode ver foi feito por nós. A Câmara ajudou dentro do que era possível fazer na altura. Mas, face àquilo que o clube é hoje, pode-se dizer que se traduz em muito pouco. Efectivamente, para podermos crescer precisamos, como os outros clubes da cidade, de ser alavancados pelo Município.

A nível de infra-estruturas o que é que gostariam de ver melhorado?
O campo precisa, urgentemente, de ser alargado. Temos, também, que melhorar a iluminação e tudo o que está dentro do tapete de jogo tem que sair.
Ambicionamos dar continuidade ao alargamento da bancada – iniciado na anterior direcção – melhorar a parte do bar e limitar os acessos para o campo, para além de serem criados mais locais de treino. Precisamos também do campo mais nivelado, mas, de momento não temos máquinas para isso.
Nós não temos balneários próprios, temos que estar sujeitos à disponibilidade dos que existem no pavilhão. A construção dessa estrutura está programada e desenhada, balneários com sítio para refeições e ginásio. Mas a realidade é que essa estrutura só poderá ser feita com o apoio da Câmara Municipal.

Mesmo com estas dificuldades o rugby tem tradição na cidade e é um clube que mantém uma grande competitividade. Como é que um clube amador consegue alcançar e manter este nível?
Eu acho que tem tudo a ver com amor que temos por isto. Quando eu comecei na modalidade, o sonho de todos nós era ter um campo e, ao materializar-se este campo, aqui, na ex-EPC, foi um sonho tornado realidade. A partir desse momento, o sonho explodiu. Há também uma ideia errada que este é um desporto virado para as elites. E, se isso foi verdade em alguma altura, hoje não o é, e queremos acabar com essa imagem. O rugby é o desporto democrático por excelência e é uma pena que, por vezes, ainda se olhe para ele dessa forma. Aqui, em Santarém, e no RCS contrariamos essa ideia. É um desporto que tem espaço para os grandes, para os pequenos, para os rápidos os lentos, os fortes…há espaço para todos. O que pedimos é que os nossos atletas dêem o que têm para dar em campo.
Até aos SUB 14 não há competição mas, apesar disso, é raro o fim-de-semana sem actividades. Estamos sempre a receber convites para convívios, até fora do país. Agora, nas Festas da Cidade [19 de Março], vamos ter um dia dedicado ao rugby. Ainda não sei quantas equipas irão estar presentes, mas estamos a falar de 300 ou 400 atletas. Tudo isto, demonstra que o rugby tem força em Santarém e que é uma modalidade muito acarinhada.
Os resultados alcançam-se com amor, dedicação e esforço: todos trabalhamos em regime de ‘pro bono’, ninguém recebe nada. Eu até acho que a questão do amadorismo acaba por fortalecer os laços entre nós. Se fosse pelo dinheiro, as pessoas não se entregariam tanto.

Quais os valores que este desporto transmite aos atletas?
Eu acho muito importante a lealdade: o rugby é um desporto leal e salvaguarda valores que o futebol, por exemplo, não consegue. Basta assistir a um jogo para perceber que existem diferenças abismais. Dentro de campo, é um desporto de contacto, por vezes mais forte, mas há regras, e é tudo feito dentro dessas regras e com total lealdade. É um desporto de solidariedade, fomentamos muito o ‘ninguém fica para trás’. Não deixamos ninguém cair.
Por isso, há um enorme respeito por todos e um compromisso assumido com a equipa com o clube, com os pais e com eles próprios. E é para levar até ao fim.
O respeito é daqueles valores que, efectivamente, é obvio: dentro dos jogos, há contacto, por vezes mais intenso, alguns atletas acabam por reagir, mas, depois, o árbitro apita para o final, e acabou ali. Vem tudo para a “3ª parte”, para o convívio e camaradagem, que é célebre. Acho que é o único desporto onde isto acontece. Se for preciso, até lhe mordem nas orelhas dentro de campo, mas apita para o final, cai a realidade, vão tomar banho, e encontram-se todos no bar. Não vejo isso em mais lado nenhum.
Uma coisa muito importante é passar estes valores aos miúdos: são valores importantes, cada vez mais, até. É um gozo enorme ver que são miúdos educados, respeitadores, acatam decisões dos mais velhos, dos capitães e dos árbitros. Há aqui um registo de formação pessoal onde, eu acho, que o rugby é rei.

“Quando o árbitro apita para acabar o jogo, deixam-se as rivalidades em campo”

José Martins, responsável da formação do Rugby Clube de Santarém

Qual é o panorama da formação no Rugby Clube de Santarém?
A formação do rugby está, felizmente, cada vez a crescer mais: todos os anos, temos mais atletas e isso é um indicador que a modalidade é acarinhada e desperta interesse. Temos, inclusive, de ano para ano, batido o recorde de atletas. Temos muitos jovens a vir dos sub-8, sub-10, sub-12, com equipas muito grandes, coisa que não tinham há muitos anos. O que é muito bom para rejuvenescer a equipa sénior, que está a fazer um grande campeonato. Esperamos ter, daqui a uns anos, uma equipa capaz de dar, ainda mais frutos, no campeonato nacional.

Quais as características deste desporto que o diferencia dos outros?
Eu pratiquei todo o tipo de desportos ao longo da vida. Desde karaté, futsal até ao futebol, mas, quando vim para o rugby, jogar nos sub-14, o espírito de equipa que existe entre os atletas é inexplicável. Entrei numa equipa onde não conhecia ninguém e todos me acolheram de braços abertos. Desde aí, que me senti integrado, quase em casa.
O Clube tem um lema muito interessante, que é “Esforço, Lealdade e Bravura” e foi sempre o que nos disseram: podemos não ser sempre os maiores, nem ser os mais pesados ou os mais fortes, mas ninguém tem mais coração que nós. Acho que é uma das coisas que sempre me atraiu desde que cá cheguei: ninguém tem mais coração que nós, vamos todos juntos.

Desde a altura em que teve o primeiro contacto com o clube, até hoje, como tem registado a evolução?
Tem sido enorme, principalmente desde termos a nossa própria casa, no complexo da antiga Escola Prática de Cavalaria, (anteriormente treinávamos no CNEMA). Aqui temos a possibilidade de ter mais atletas e foi aqui que também me apaixonei por ser treinador. Desde os meus 17 anos, comecei a dar treinos porque o clube precisava de treinadores e fui ficando e profissionalizei-me. O RCS tem tido excelentes profissionais a trabalhar cá, e temos, ainda hoje uma equipa técnica nas camadas jovens que é excelente, cada vez mais formados, mais conhecedores do desporto e sempre com vontade de aprender mais.

Como se processa um treino de rugby?
É, essencialmente, igual a qualquer outro desporto: envolvemos os atletas e os treinadores em jogos lúdicos. É uma hora em que os miúdos saem da escola, e vêm para o desporto também para estar com os amigos. E nós gostamos disso, que se sintam bem cá, e queiram realmente vir para aqui ao final de um dia de aulas.

Há diferenças substanciais entre os treinos dos miúdos e das miúdas?
Sinceramente, não. Mesmo num treino sénior, não existe muita diferença: no rugby, quanto mais simples se jogar melhor. Não há uma fórmula secreta, o que se joga cá, joga-se na Nova Zelândia ou no País de Gales. As pessoas dizem, por vezes, que é um desporto ‘esquisito’, tem que se andar para a frente mas só se pode passar para trás, e, então, é preciso arranjar forma de o fazer. É jogar ao “gato e ao rato”. E desde os sub-8 até aos seniores é igual.

A transmissão de valores é sempre muito realçado neste desporto, qual a sua opinião sobre este facto?
Esta camaradagem que existe entre os próprios miúdos e durante os jogos é única: é o único desporto que, mesmo acontecendo o que acontece dentro de campo, com algum contacto físico, quando o árbitro apita para acabar o jogo, deixam-se as rivalidades em campo e vamos todos para o bar conviver. Já aconteceu eu ter dado uma boa placagem a um adversário e, no final do jogo, ele pega-me pelo braço e diz-me: “anda ali que eu pago-te uma cerveja”. Desafiamo-nos dentro de campo, há uma rivalidade, claro, mas, no final, estamos cá todos para o mesmo. Gostamos da modalidade e gostamos de estar uns com os outros.

Até onde gostava de ver chegar o rugby de Santarém?
Eu gostava de ver o clube chegar à divisão de honra e ganhar. E estamos no bom caminho para conseguir o primeiro passo, que é chegar à divisão de honra, e, a partir daí, é sonhar mais alto e tentar ficar por lá a fazer estragos aos “grandes”.
Com os miúdos todos que continuamos a receber no rugby e com os profissionais que temos, em 4 ou 5 anos já começaremos a fazer muita diferença.

Quantos atletas têm na formação neste momento?
Estamos com mais de 200, desde os sub-8 até aos sub-18.

Como se consegue gerir estes miúdos todos?
Esse é que é o desafio. Eu comecei a dar treinos com quatro ou sete miúdos para passar a dar treinos com 50 atletas. Antigamente, a queixa era que só tínhamos cinco atletas e perguntava-se o que poderíamos fazer… Agora, é ao contrario: temos 50 atletas o que fazemos (risos). É um grande desafio para todos os treinadores dar treinos dinâmicos para 50 miúdos, mas penso que temos conseguido.

Quantos treinadores existem actualmente?
Somos 18 treinadores, contando com directores de equipa que são fundamentais para conseguirmos dar o treino.

“Já demos provas que somos um escalão que veio para ficar”

Helena Dimas, coordenadora do Rugby Feminino

Como tem sido o acolhimento do rugby feminino em Santarém?
Para nós é um desafio constante. Quando fazemos a abordagem para cativar novas atletas, para elas é logo o desafio de rugby que é muito associado aos rapazes. É preciso haver receptividade da parte delas… e, depois, ainda há os pais. Verem a filha a jogar rugby é uma questão que ainda não é muito fácil.
Aquilo que noto – e tenho ainda pouco tempo com esta equipa, que surgiu no ano passado porque a minha filha queria jogar e não havia essa hipótese – é que, cada vez mais há um desmistificar destas questões.
Reparei que, no rugby, existe lugar para todas, para as grandes, para as muito fortes, ou para aquelas que têm uma constituição física menos robusta. Existem, inclusive, na equipa, miúdas que nunca tinham feito desporto e, agora, têm aqui o lugar delas: há lugar para todas: para as maiores e para as mais pequenas e rápidas.
Aqui, as características físicas de todas elas são muito importantes e válidas. Porque, precisamente, o rugby é um desporto que dá ênfase ao facto de jogar sempre em equipa: precisam sempre umas das outras. Não podem mandar a bola para a frente, sempre para trás, por isso, precisam sempre de alguém. Aquilo que mais me surpreendeu é a força e auto-estima com que estas miúdas ficam. Embora seja um desporto de contacto o objectivo não é esse: é chegarem ao outro lado do campo. Para isso, precisam de jogar em equipa, precisam de confiar umas nas outras e nas suas características e ir ultrapassando obstáculos. Na nossa vida, temos sempre obstáculos, ás vezes parecem enormes, por vezes, elas olham para os adversários e dizem que são enormes, mas a realidade é que acabam por ‘cair’ como as outras. São miúdas que ficam com uma preparação enorme, e é um desafio ver miúdas muito inseguras que acabam por se libertar com a prática deste desporto. Já tivemos experiências com miúdas do Lar [das Raparigas] e foi muito positivo, quer para elas, quer para as companheiras de equipa.
Depois, há também o respeito: este é um desporto em que, dentro do campo, ninguém pode falar com o árbitro, apenas a capitã pode fazê-lo e tem de o tratar por ‘Sr. Árbitro’ e tem que pedir autorização para falar com ele. Este respeito, para com os intervenientes no jogo e colegas é muito importante.
Depois, é saber lidar com a frustração, o querer e não conseguir. Em suma, o desporto de equipa é muito importante também para ter os tempos livres ocupados, virem para aqui, e temos o prazer de poder disfrutar deste espaço.

Qual o grande objectivo no sector feminino?
Neste momento, estamos a jogar em sub-16, e temos duas meninas nos sub-18 na Selecção Nacional. A Selecção fez vários treinos de captação e, no final, seleccionou 14 a nível nacional. E, nestas 14, estão as nossas duas atletas de sub-18, o que demonstra bem a entrega delas a este desporto. Tendo este escalão de sub-16, o objectivo é elas crescerem, ganharem experiência, incrementarem competitividade para que, daqui a dois anos, já estarem a jogar em sub-18 e seniores. O problema do rugby feminino é que não tem a dimensão do masculino, em termos de número de atletas. Mas, por outro lado, os passos que vamos dando também são muito visíveis e, por isso, é que em dois anos, conseguimos evoluir desta forma.

Como é que um atleta consegue chegar a este nível de ser chamada para a selecção?
Muito esforço, muito empenho, e é importante para eles perceberem que há tempo para tudo, para a escola, para o desporto, para os amigos. E o facto de terem esta actividade e de se entregarem a ela, faz com que, na vida, se consigam organizar. Sinto que os miúdos quanto têm muito tempo livre, perdem-se, de certa forma, porque não têm nada para fazer. Há tempo para tudo: para treinar, para os testes, para as festas, há tempo para fazer tudo. E o rugby ensina esta vertente da organização e de alcançar objectivos.

As condições de treino, neste momento, são as ideias?
Há melhoramentos fundamentais que gostaríamos: nós não temos balneários e um clube com 200 atletas precisa, mesmo, desta estrutura. Especialmente porque temos atletas femininos e masculinos.

Que estratégias estão definidas para tentar captar mais atletas?
Neste momento, temos 16 atletas federadas. Começámos com o desporto escolar, vieram aqui várias escolas, e, nessa altura, fizemos o contacto com as meninas e várias acabaram por experimentar. Muitas já têm amigos rapazes que jogam. Esta é uma modalidade com alguma história em Santarém e que tem visibilidade e desperta curiosidade. Tivemos, recentemente, seis atletas sub-16 na selecção, mais as duas atletas sub-18, que estiveram na televisão; foi feito, inclusive, um artigo na revista Visão sobre Santarém e sobre o Rugby, e todas estas coisas ajudam e dão-nos força para continuar. E elas percebem que é com trabalho, com esforço, com o querer que podem alcançar os seus objectivos.

O sector feminino já tem força para reivindicar junto da direcção algumas coisas?
Eu acho que sim. A direcção acolheu muito bem esta secção desde o primeiro minuto. Já demos provas que somos um escalão que veio para ficar. Há o desafio de não poderem haver equipas mistas a partir dos sub-16, e as meninas com mais de 14 anos se não tiverem uma equipa, não podem jogar. Portanto, o nosso esforço centra-se na captação de atletas para este desporto que é fantástico.

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