Young Priest praying with rosery in his hands

A idade mais prevalente das vítimas de violência sexual no seio da Igreja Católica em Portugal que apresentaram queixa ao Grupo VITA era de 11 anos à data dos abusos, segundo o relatório deste organismo divulgado esta semana.

“Em termos da idade em que ocorreu a primeira situação de violência sexual, esta varia entre os 5 e os 25 anos, sendo a idade mais prevalente a dos 11 anos, seguida dos 7, dos 12 e dos 14 anos. Quando se analisa a idade em que ocorreu a primeira situação de violência sexual em função do sexo das vítimas, verifica-se que existe um número mais elevado de vítimas do sexo masculino na faixa etária dos 11 anos”, refere o segundo relatório de atividade do Grupo VITA.

O Grupo VITA foi criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e entrou em funcionamento em 22 de maio de 2023.

Partindo do testemunho de 58 vítimas atendidas presencialmente ou ‘online’ pelo Grupo VITA durante o último ano, “à data dos alegados factos, a maioria das vítimas (67,2%) vivia com a família nuclear”, enquanto as restantes encontravam-se em seminário (8), em casa de acolhimento (3), em colégio de ordem religiosa (1) e em casa de saúde (1).

Das vítimas que revelaram ter irmãos, cerca de 9% adiantaram que estes também terão sido vítimas de violência sexual.

Já quanto ao período temporal em que se deram os abusos, a esmagadora maioria ocorreu “no século passado, nomeadamente, nas décadas de 60 (17) e 80 (15), sendo menos frequentemente reportados comportamentos abusivos nas décadas de 70 (11) e 90 (7), tendência que parece manter-se a partir do ano 2000 e até ao presente (8)”, indica o relatório hoje apresentado em Fátima.

Em relação à frequência e duração das situações de abuso, o documento revela que “a maioria das vítimas não consegue precisar essa frequência (63,8%) e quase metade não consegue também precisar a sua duração (46,6%). Cerca de 17% das vítimas referem que a situação abusiva terá ocorrido algumas vezes, e cerca de 14% apenas uma vez. Apenas três vítimas mencionam ter ocorrido duas vezes”.

Em termos de duração, “mais de um quarto das vítimas (31%) referem que a situação abusiva ocorreu durante um ano ou mais – em concreto, seis vítimas referem que a situação abusiva aconteceu durante três, quatro ou cinco anos, cinco indicam dois anos e quatro mencionam um ano. Para três das vítimas, a duração da vitimização situou-se entre seis e nove anos”.

Os alegados abusadores foram sobretudo do sexo masculino (57, sendo 53 deles sacerdotes) e apenas uma vítima reportou ter sido sexualmente abusada por uma pessoa do sexo feminino. Cinco vítimas identificaram como abusadora uma pessoa leiga, embora no contexto da Igreja.

Relativamente ao contexto onde conheceram a pessoa que cometeu a violência sexual, a maior parte das vítimas (89,7%) refere um contexto diretamente ligado à Igreja.

Já quanto ao local onde ocorreu o abuso, as situações ocorridas na Igreja correspondem a 32,8% dos casos e, em instituição, a 20,9%.

“A maior parte das situações no contexto da Igreja aconteceram, sobretudo, no confessionário, seguido da sacristia. Para 16 vítimas, as situações abusivas ocorreram na casa do padre, no seu carro, no seu gabinete, na sua casa de férias ou na casa paroquial. Com sete vítimas, os comportamentos abusivos ocorreram no Seminário”, acrescenta o relatório.

Sobre os comportamentos sexualmente abusivos “verifica-se que são os toques/carícias em outras zonas erógenas do corpo (53,4%) e a manipulação dos órgãos genitais (34,5%), os (…) mais frequentemente reportados”.

“Os comportamentos sexualmente abusivos perpetrados por ambos (do agressor para a vítima e da vítima para o agressor, a pedido deste) remetem, sobretudo, para a masturbação (17,2% das situações) e, de forma mais residual (8,6% das situações), para diferentes formas de penetração (oral, anal e vaginal)”, acrescenta o relatório do Grupo VITA.

O Grupo VITA, liderado pela psicóloga Rute Agulhas, surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.

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