“A Arte em Santarém no tempo de Camões” foi o tema da conferência do professor Vítor Serrão, na passada sexta-feira, ao final da tarde, no Teatro Taborda do Círculo Cultural Scalabitano.

“Se parece incontestável que Santarém é a Capital do Gótico nacional, tal como foi baptizada, em 1924, pelo historiador de arte Vergílio Correia, não é menos verdade que a vila tagana viveu no século XVI uma das suas fases de maior brilho cultural e artístico”, sublinhou o historiador no início da conferência sobre a “a Vila-Capital da Cultura Portuguesa”, e preocupado com os “tempos de desmemória” em que vivemos na actualidade.

“Apesar das perdas substanciais de património, tanto edificado como de equipamento decorativo, sem contar com os acervos documentais que não sobreviveram aos cataclismos da História, a Santarém do século XVI é um alfobre de valências significativas no campo cultural”, considera, interrogando-se: “Como é que ainda há tanto património? É a pergunta, depois de inventariado o mapa de perdas que tivemos”, disse.

Vítor Serrão elogiou a obra ‘Santarém Quinhentista’ da historiadora Maria Ângela Beirante, “muito importante” para compreendermos a vivência diária na ‘Villa’ Scalabitana à época, em que Santarém estava “preparada para reivindicar as novidades da arte europeia”.

“Durante um largo período da história de Santarém o Património local foi alvo de abandono, roubo e mau restauro. Fomos vítimas de uma política restaurativa com erros terríveis,” notou.

“No recente livro ‘Camões: Altos Cumes, Scabelicastro e Correlatos’ (Edições Cosmos, 2024, em colaboração com Mário Rui Silvestre), considero mesmo ‘a sempre enobrecida Scabelicastro’ (como lhe chama Camões n’Os Lusíadas) uma das capitais desse ‘largo tempo do Renascimento’ em que os ventos humanísticos de Itália eram fonte de inspiração dos nossos literatos e artistas”, salienta.

Numa conferência com algumas novidades, o historiador lembrou que “o primeiro catálogo dedicado ao restauro foi escrito em Santarém em 1548”, num tempo de “guerra, tempestades e declínio do Império” que foi o tempo de Luís Vaz de Camões.

Terra de Ana de Sá Macedo, a mãe de Camões (e também, com grande probabilidade, lugar de nascença do vate), a cidade de hoje estima-se por ainda ter um acervo relevante de edifícios marcados pela estética do classicismo italiano.

“É o caso da arquitectura da igreja da Misericórdia (de Miguel de Arruda) e da ermida da Senhora do Monte, da escultura do Santíssimo Milagre (pelo espanhol Diego de Çarça), das pinturas de Diogo de Contreiras e Ambrósio Dias (Almoster, Santa Clara, Santa Cruz da Ribeira, Romeira), da presença de ilustres mecenas imbuídos de cultura ‘ao romano’ como o escritor Francisco de Holanda (de passagem em 1549-1551 após regressar de Roma), os cronistas Manuel de Sousa Coutinho (Frei Luís de Sousa) e Fernão Lopes de Castanheda, o poeta e antonianista D. Manuel de Portugal (que transformou a sua quinta de Vale Figueira num centro de ´literati´), os Coutinho de Vaqueiros (também amigos de Camões), os Costa, os Macedo, os Brito, os Menezes”, observou.

Para o historiador “é preciso saber avaliar o património escalabitano de artes e letras quinhentistas sob uma forma unívoca, no seu conjunto, e não do modo desagregado com que tem sido visto”.

Dessa leitura global perpassa a ideia de uma vila onde se impunha tanto a importância estratégica, junto ao curso do rio Tejo e não longe do Paço Real de Almeirim, como a presença de uma élite cultural ‘aggiornata’.

“As investigações levadas a cabo, ao mesmo tempo que alargaram saberes sobre a figura de Camões, avançam com uma série de proposições sobre as vivências culturais de uma Santarém que, apesar dos ventos adversos, era um espaço estimulante de liberdade criadora”, concluiu o historiador.

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