O historiador de arte Vitor Serrão defendeu, em declarações à Lusa, a compra pelo Estado de um quadro de Diogo Contreiras (1500-1560) que vai esta semana a leitão.

Trata-se de uma parte do que foi outrora o retábulo do altar-mor da capela do Convento de Almoster, um óleo sobre madeira representando S. Bento e S. Bernardo, e pertence “ao melhor da escola maneirista, que sucedeu ao Renascimento”, salientou Serrão.

O óleo com as dimensões de 135 por 90 centímetros vai a leilão nas próximas quarta e quinta-feira com uma licitação entre 80 e 120 mil euros. O quadro fez parte do Inventário Artístico Nacional, de 1949, da Academia de Belas Artes, tendo sido roubado da capela há cerca de 50 anos.

“É uma pintura muito importante, de um artista da corte, Diogo de Contreiras, data de 1542-1544, que foi encomendado por um fidalgo, D. Gil Eanes da Costa, para além da qualidade formal e técnica, tem qualidades descritivas da arquitectura, da joalharia, dos panejamentos, que revela um alinhamento com uma nova cultura pós-renascentista, muito elaborada”, argumentou Vítor Serrão.

Gil Eanes da Costa encontra-se sepultado na capela-mor do Convento de St.ª Maria de Almoster, do qual era donatário. O historiador recorda-se de ter visto o retábulo, quando menino ainda, acompanhado pelo seu avô, e chegou a escrever um artigo sobre ele no Diário de Lisboa, quando “tinha uns 20 anos”.

As pinturas entraram no mercado dos antiquários na década de 1990, pois estavam em mãos particulares, nomeadamente do militar e coleccionador Alpoim Calvão.

“Não é a primeira vez que esta tábua vai a leilão, esta e outra, o ‘Pentecostes’”, disse o historiador de arte, referindo que “há uma quarta tábua, ‘A Natividade’, de que se desconhece o paradeiro, as outras têm estado em mãos particulares”.

“O que eu advogo é que estas quatro pinturas deviam voltar ao convento de Almoster, ao património da igreja já que foram indevidamente retiradas, mas neste momento cabe ao Estado defender o património e tem uma palavra a dar”, afirmou Serrão, referindo que o quadro que vai a leilão “é o melhor” do conjunto, “revelador do melhor estilo do Diogo de Contreiras, que tinha uma mão muito boa, com uma cultura muito erudita”.

“Era importante que ficasse na esfera do Estado e devidamente exposto num museu, como o Nacional de Arte Antiga. É importante que não se perca uma obra importante da pintura antiga, e que não vá para o estrangeiro e não lhe percamos o rasto”, defendeu.

Para o historiador, na área da Cultura “cabe ao Estado democrático intervir”, defendendo que deve “haver um Estado competente, eficaz e interventivo”.

Vítor Serrão afirmou-se “confiante” numa intervenção estatal “para evitar uma perda para o património do país, o que era grave”.

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