Santarém – Monumental “Celestino Graça” – 8 de Junho de 2024 – Corrida à Portuguesa – 60.º Aniversário da Inauguração da Praça. Cavaleiros: Francisco Palha, Miguel Moura e João Salgueiro da Costa; Forcados Amadores de Santarém; Ganadarias: Veiga Teixeira (1 – 530 Kgs; 3 – 560 kgs; 6 – 630 kgs) e Dr. António Silva (2 – 620 kgs; 4 – 590 kgs; 5 – 530 kgs); Director de Corrida: Dr. Manuel Gama Barros; Veterinário: Dr. José Luís Cruz; Tempo: Ameno; Entrada de Público: Cerca de ½ casa.

Em tarde festiva, pela comemoração do 60.º aniversário da inauguração do tauródromo escalabitano, os Forcados Amadores de Santarém deram provas de atravessar um momento extraordinário triunfando categoricamente frente a seis toiros sérios, poderosos e nem sempre fáceis.

Nesta que é a sua 110.ª temporada ininterrupta o nosso Grupo consumou cinco pegas ao primeiro intento e uma ao terceiro, todas elas ao nível da perfeição técnica e de uma dimensão de poderio e de valor inexcedíveis. O Cabo Francisco Graciosa está rodeado de um conjunto de jovens forcados que tiveram a capacidade de surpreender os aficionados escalabitanos, tanto pela competência dos forcados que foram à cara como dos que saltaram à arena para ajudar com eficácia, coesão e alma. Estão de parabéns e nós ficamos muito felizes quando o nosso Grupo se apresenta a este tão alto nível.

E desiluda-se quem pensar que o desafio era fácil, pois enfrentar em solitário três toiros de Veiga Teixeira e outros tantos de Dr. António Silva não é coisa de somenos. Estes seis toiros estavam soberbamente apresentados, com um trapío digno de qualquer praça com o estatuto da Monumental “Celestino Graça”, tiveram mobilidade nas lides a cavalo e chegaram ao momento das pegas pujantes de força e de vigor, o que ainda emprestou mais emoção a cada sorte.

O Cabo Francisco Graciosa, um forcado de reconhecidos méritos, deu o exemplo, à maneira antiga, e chamou a si a responsabilidade de pegar o primeiro toiro da corrida, e com que galhardia e poder o fez. Citando de largo, a dar todas as vantagens ao toiro, fechou-se à córnea, aguentando dura viagem, com o Grupo a ajudar na perfeição.

O segundo toiro da corrida foi destinado ao experiente forcado Francisco Paulos que esteve impecável na forma como citou o seu oponente e como lhe recuou na cara, fechando-se com decisão, porém não logrou evitar a fractura da tíbia, pelo que foi desfeiteado recorrendo posteriormente ao Hospital. Dobrou-o um dos mais jovens e valorosos “caras” do Grupo, um forcado de dinastia com pergaminhos nos “Amadores” de Santarém – Joaquim Grave. Na sua primeira tentativa deu igualmente todas as vantagens ao toiro, citando-o de largo, recuando-lhe na cara e fechando-se à córnea com decisão. Porém, o toiro derrotou com muita brusquidão e despejou o forcado da cara. Na sua segunda tentativa, as primeiras ajudas estiveram mais curtas e permitiram a consumação de uma excelente pega.

Para a terceira pega da tarde o Cabo confiou num forcado que apesar de ainda ser um jovem já tem estatuto no seio do Grupo, Salvador Ribeiro de Almeida, que se desincumbiu com muita categoria e poder, pois o toiro consentiu a reunião, mas depois derrotou com violência, não conseguindo despejar o forcado da cara, pois o Grupo ajudara muito bem e a pega foi consumada superiormente.

O quarto toiro foi pegado pelo escalabitano João Faro que citou com galhardia a pega brindada ao público da sua terra e fechou-se com decisão, tendo sido muito bem ajudado, no entanto, quando o toiro derrotou no Grupo o jovem forcado manteve-se na cara do toiro até que as ajudas, num segundo fôlego, permitiram a concretização de uma rija pega, num único intento.

Se a tarde estava marcada pela qualidade das sortes anteriores, onde a emoção foi uma constante, o melhor ainda estava guardado para as duas últimas pegas. Para pegar o quinto toiro, o Cabo confiou na experiência e elevada técnica de António Queiroz e Melo, que protagonizou um dos momentos mais emotivos da corrida. Citou de meia praça, porém teve de pisar os terrenos do toiro, porque este não investia. Quando o fez saiu descomposto e tudo fez para despejar o valoroso forcado, que, fruto de recursos imensos, se aguentou valorosamente até as ajudas, uma vez mais impecáveis, permitirem a concretização de uma pega memorável.

E para rematar esta tarde gloriosa estava guardada a chave de oiro. Francisco Cabaço deu todas as vantagens a um toiro poderoso, citando-o de meia praça, recuou como mandam as regras, toureando, e fechou-se que nem uma lapa, contudo, o toiro desviou a sua trajectória fintando os ajudas, e Francisco Cabaço aguentou uma turbulenta viagem até que já em terrenos de tábuas todo o Grupo consumou uma pega extraordinária, coroando, assim, uma tarde magnífica consagrada com a justíssima ida aos médios de todos os forcados, que estiveram irrepreensíveis. Parabéns ao Grupo de Forcados Amadores de Santarém pela tarde memorável que nos ofereceu.

Manda a verdade que se diga que esta corrida foi muito boa, e para tal contribuíram os toiros lidados que serviram muito satisfatoriamente, transmitindo a emoção que é um dos condimentos fundamentais desta tão arrojada arte, destacando-se o que foi lidado em terceiro lugar, que era bravo, tendo sido premiado com volta à arena o ganadeiro Veiga Teixeira.

Francisco Palha esteve em muito bom plano numa praça que tem sido um dos seus talismãs. Enfrentou em primeiro lugar um toiro nobre, mas que exigia maneiras, sério e poderoso e o marialva esteve à altura da sua responsabilidade lidando o toiro na perfeição, citando com verdade e alegria e colocando a ferragem em sortes frontais, em terrenos do maior compromisso. O segundo do seu lote era um “tio” que impunha respeito. Francisco Palha cedo se apercebeu das complicações do seu oponente, com tendência para se refugiar em terrenos de tábuas, o que não lhe permitiu desenvolver uma lide à base de cites largos, como é seu timbre, mas, ao invés, teve de encurtar distâncias e colocar a ferragem em sortes de um tremendo risco, a pôr toda a carne no assador. E foi assim que logrou conquistar uma vez mais o público escalabitano que tanto o aprecia.

Miguel Moura enfrentou dois dos mais pesados toiros da corrida e andou num plano de louvável dignidade, mas sem rubricar as actuações poderosas que gostamos de lhe apreciar. Se é verdade que Miguel Moura desenhou correctamente cada sorte, que porfiou o máximo para colocar a ferragem em reuniões de grande compromisso, nota-se que anda sem a alma mourista, determinante para expender a sua tauromaquia.

A toureiros desta grandeza o público exige sempre mais e mais e Miguel Moura esteve apenas benzinho, o que é pouco para tanto potencial. Os cites em curto e carregados ao piton contrário não tiveram o andamento mais adequado, pelo que algumas sortes resultaram um pouco aliviadas. Esta poderia ter sido a tarde ideal para clamar bem alto pelo lugar cimeiro a que aspira, porém não o conseguiu. Outras virão!

João Salgueiro da Costa é um toureiro de eleição e nesta tarde em que se celebrava o 60.º aniversário da inauguração da praça – cuja primeira lide há sessenta anos foi protagonizada por seu bisavô, o saudoso Dr. Fernando Salgueiro! – o jovem marialva terá sonhado com um grande triunfo. Que, infelizmente, não alcançou, embora tenha rubricado duas meritórias actuações.

O tipo de toureio de Salgueiro da Costa exige muita disponibilidade das suas montadas, pois cita frontalmente todos os toiros e carrega as sortes nos seus terrenos, o que empresta muita emoção às suas lides. Todavia, quando as montadas não correspondem com a necessária disponibilidade, permitem-se alguns toques e algumas sortes resultam mais aliviadas.

Agrada-nos sobremaneira o seu conceito de toureio, a forma como prepara cada sorte e a verdade que põe na sua concretização, mas nem sempre consegue a regularidade necessária para consolidar a sua posição cimeira entre os seus pares. Esteve bem, mas…

Os peões de brega andaram muito bem na forma competente e discreta como coadjuvaram as lides dos marialvas e cooperaram sempre atenciosamente na colocação dos toiros para as pegas, como convém. Igualmente, os campinos evidenciaram muita competência na forma como recolheram os toiros aos chiqueiros, o que tem grande efeito no andamento da corrida.

Direcção atenta e competente do Delegado Técnico da IGAC Dr. Manuel Gama Barros, assessorado pelo médico veterinário Dr. José Luís Cruz.

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