A cozinha da Casa do Campino era ampla. De um lado, um conjunto de lava-loiças, de outro uma série de trempes com grandes e fortes bicos de queimadores a gaz. Na zona central, algumas mesas de apoio e de preparação de alimentos. Estava ainda, dotada de algum equipamento necessário ao trabalho de confeção de alimentos (facas, conchas, grandes colheres, enormes colheres de pau, tachos e panelas de grande capacidade, etc.
Tinha sido preparada para corresponder às necessidades da Feira Nacional de Agricultura, Feira do Ribatejo, quando se recebiam grandes grupos de convidados, como na abertura, em que para além das entidades da cidade e dos convidados de ocasião, participavam sempre os membros das anteriores comissões organizadoras. Para além desses momentos mais pontuais, havia que alimentar muitas outras pessoas: os campinos que eram (continuam a ser) presença permanente na feira, os trabalhadores, com o celebrado e infelizmente já desaparecido Mestre Jaime à cabeça (depois substituído pelo pequeno/grande António José) e os elementos dos diferentes grupos folclóricos que anualmente traziam a magia da sua cultura à cidade e nos deslumbravam com as suas danças e cantares, num reconhecido, apreciado e muito intensamente vivido Festival Internacional de Folclore que se mantêm com grande sucesso e aceitação, felizmente até hoje.
Não admira, pois, que a cozinha estivesse equipada para responder à necessidade de confecionar algumas centenas de refeições duas vezes por dia, durante duas ou três semanas.
Mas respondia com dificuldade, às exigências de um festival como o que pretendíamos organizar. Desde inicio ficou claro que se não seriam possíveis investimentos, pelo que não poderíamos ter pratos de forno, nem confeções mais exigentes e esta situação manteve-se nos quatro primeiros anos. (Só em 1985 seria possível concretizar uma melhoria significativa na reconversão da cozinha e do seu equipamento).
O salão do primeiro andar, por seu lado, tinha sido pensado para acolher grandes reuniões, como a sessão de abertura da feira, ou seminários e colóquios técnicos. Era um salão nobre para receções de grandes grupos. Transformá-lo num espaço de serviço de refeições, era um desafio considerável, ainda mais complicado quando se assumia que pretendíamos ter um palco para apresentação de grupos artísticos, assim enquadrando os objetivos definidos para o festival de gastronomia.
A colocação do palco a meio do salão, encostado á parede frontal às entradas foi uma proposta minha que todos respeitaram. Ainda hoje considero que esta posição do palco é a que mais se adequa ao funcionamento do festival, com as mesas envolvendo o palco em três dos seus lados, propiciando uma proximidade íntima com as pessoas nas mesas e um envolvimento em tudo o que ali aconteceria.
Na época, o acesso ao salão fazia-se por duas escadas (como agora), mas situadas ainda dentro do espaço interior do retângulo do salão. No primeiro andar, no local da atual entrada, havia uma sala que servia de apoio às reuniões (cafetaria, secretariado, etc.). Transformámos esta sala em copa de apoio às grandes refeições. Com um biombo à sua frente que assim protegia os convivas na sala da visão dos trabalhos que ali decorreriam (receção e lavagem de loiça, empratamento se sobremesas, etc.).
Foi instalado sistema de canalização de água, esquentador, lava-loiças (não havia máquina de lavar.) e um conjunto de mesas de apoio. Toda esta instalação, após o términus do festival teria que ser, como sempre foi, retirada, até ao ano das grandes obras que tiveram lugar após a mudança da Feira para o Parque das Cegonhas (CNEMA).
Para montar a sala das grandes refeições, a solução foi recuperar as mesas corridas, de madeira, da feira. (com cerca de dois metros e meio de cumprido, por cerca de um metro de lado, podiam acolher dez convivas, cinco de cada lado), bem como as respetivas cadeiras, também de madeira e utilizar toda a palamenta existente (talheres, pratos, copos, etc.) na altura, se bem me recordo, apenas conseguimos adquirir toalhas de tecido aos quadrados brancos e vermelhos e guardanapos.
A decoração da sala, foi um detalhe para o qual apenas olhámos nos últimos dias de montagens, sobretudo quando nos confrontámos com os problemas de acústica do salão. Recorremos a um conjunto de panos de diferentes cores (verde escuro e magenta) que suspendemos do teto e que deram á sala um ar pesado e soturno. Não foi uma solução feliz, mas teve o condão de melhorar a acústica da sala.
Nestas transformações, foram particularmente importantes o apoio do Instituto de Formação Turística e Hoteleira, da escola de Formação Hoteleira do Estoril, mas também, aqui em Santarém, do Sr. Manuel Vieira Marques, sobretudo no que á cozinha e à copa disse respeito.
Este era um tempo em que o trabalho colaborativo era uma realidade e, de facto todos nós da comissão organizadora, trabalhadores do município e um largo conjunto de voluntários e interessados que se apaixonaram pelo projeto e se foram juntando, contribuíram para construir este evento único e determinante para Santarém.