A Assembleia da República (AR) aprovou quinta-feira, 18 de Fevereiro, uma recomendação ao Governo para que seja atribuído ao Hospital Distrital de Santarém o nome de Bernardo Santareno.

A proposta, hoje votada, foi entregue na AR pelo PCP no passado dia 04 de Dezembro, teve os votos a favor do PS, BE, Verdes, Iniciativa Liberal e das deputadas não inscritas Joacine Katar Moreira e Cristina Rodrigues. O PSD votou contra, enquanto CDS-PP, PAN e Chega se abstiveram.

Caberá agora ao Governo acolher ou não esta recomendação, mas, tendo em conta a votação expressiva, deverá responder favoravelmente a este repto lançado por ocasião das comemorações do Centenário do dramaturgo.

Na cidade de Santarém, no lançamento de uma biografia da sua autoria com o título “Bernardo Santareno – da Nascente até ao Mar”, o autor, José Miguel Noras, sugeriu publicamente a atribuição do nome de Bernardo Santareno ao Hospital Distrital de Santarém.

Nascido em Santarém, a 19 de Novembro de 1920, Bernardo Santareno – pseudónimo do psiquiatra António Martinho do Rosário – foi um dos mais relevantes dramaturgos portugueses do século XX, afirmando-se pela vasta obra literária, essencialmente no domínio do teatro, mas onde pontua a prosa e a poesia.

O seu primeiro livro de poesia, Morte na raiz, é publicado em 1954, com ele nascendo o pseudónimo Bernardo Santareno, em homenagem à sua cidade de Santarém e ao Santo Padroeiro do lugar de Espinheiro, onde nasceram Pai e Avós e onde passou férias na infância e adolescência. É como Bernardo Santareno que passa a ser conhecido no universo cultural português e internacional.

Seguem-se Romances do Mar, em 1955, e, em 1957, Os Olhos da Víbora. É desse ano o livro Teatro, com as peças A Promessa, O Bailarino e A Excomungada – obra que o encenador e crítico António Pedro anuncia no Diário de Notícias digna de qualquer país moderno do mundo, profetizando que «(…) o maior dramaturgo de todos os tempos é um jovem médico embarcado na frota bacalhoeira portuguesa que usa o pseudónimo de Bernardo Santareno».

Levando à cena A Promessa no Teatro Experimental do Porto, pela mão do seu director, António Pedro, logo a censura a retira de palco, sob pressão dos setores mais conservadores da Igreja Católica. Inicia o percurso de dramaturgo sob o signo de forte polémica, tendo Bernardo Santareno sido perseguido pelos seus valores e ideias e o seu teatro alvo da censura.

Nas duras viagens à pesca do bacalhau pelos mares da Terra Nova e da Gronelândia, em 1957 e 1958, embarcado como médico, escreve a peça O Lugre e o livro de viagens Nos Mares do Fim do Mundo, profundamente humanista. É Bernardo Santareno quem introduz na sociedade portuguesa uma nova forma de ver e de sentir o duro sofrimento dos pescadores, por contraponto à propaganda do regime.

No período que medeia entre 1957 e 1980, escreve dezasseis peças, que perseguem a luta pela liberdade e a dignidade do ser humano contra todas as formas de opressão – causas do intelectual de esquerda que sempre foi, tendo aderido à Juventude Comunista em 1941, data a partir da qual milita no Partido Comunista Português. A última peça, O Punho, de 1980, só foi publicada postumamente, em 1987.

Personalidade de profunda cultura, acompanha a obra de Federico Garcia Lorca, contactando com o existencialismo de Sartre, com Ionesco, ou com Jean Genet, de quem foi tradutor e cujo teatro representou pela primeira vez em Portugal.

A importância da obra de Bernardo Santareno – desaparecido em 29 de agosto de 1980, e de cujo nascimento se celebra, em 2020, o centenário – reside na centralidade que deu aos direitos e às liberdades individuais por oposição aos preconceitos morais e sociais de um Portugal atrasado e isolado do resto do mundo, abordando temas originais e não consensuais para a época, como o papel da mulher na sociedade, nas instituições e no casamento.”

No ano de 2020 tiveram lugar diversas iniciativas destinadas a assinalar o centenário do nascimento de Bernardo Santareno, a que a Assembleia da República conferiu o seu patrocínio.

Leia também...

Músico dos Santos & Pecadores morre vítima de acidente de trabalho em Tremez

Rui Martins, um dos músicos da banda Santos & Pecadores, morreu na…

Médico detido por abuso sexual de menores

Um homem de 27 anos foi detido esta manhã no Bairro de…

Alterações ao Código da Estrada entram em vigor amanhã com multas agravadas

As alterações ao Código da Estrada aprovadas em Novembro entram na sexta-feira,…

O amargo Verão dos nossos amigos de quatro patas

Com a chegada do Verão, os corações humanos aquecem com a promessa…