A Casa dos Patudos inaugurou, no passado dia cinco de Outubro, a exposição “O Recetáculo – Alma Antiga”, ficando patente em Alpiarça, até ao próximo dia dois de Novembro. 

A mostra tem por base várias religiões, como o hinduísmo, o budismo e sikhism, que acreditam na “crença filosófica, espiritual e religiosa de que somos vidas passadas reencarnadas”, descreve Ildebranda Martins, autora da exposição “O Recetáculo – Alma Antiga”.

Ao Correio do Ribatejo, a artista plástica justifica a escolha do local para expor: “Gostei do espaço, do ambiente circundante, das condições e resolvi submeter-me, como artista, a um processo de selecção, enviando para o município, um email de candidatura com o meu portefólio artístico em anexo”, revela. 

Ildebranda Martins descreve-nos também o processo criativo que utilizou, durante a montagem da galeria de arte. 

“Em primeiro lugar, escolhi obras do meu acervo pessoal, que eventualmente já tivessem estado expostas, mas que, pelas suas características, se adequavam ao tema, depois comecei a imaginar novas peças e a procurar a matéria-prima que servisse de base à sua construção. Algumas das peças do acervo foram submetidas a um processo de reconstrução, mas sem a perda da sua essência”, conta. 

Tendo como base a alma humana, o tema da mostra partiu da necessidade da artista plástica em “procurar conhecer as teorias e as práticas de várias religiões”, analisando “os testemunhos de quem as pratica, de uma forma imparcial”, tentando encontrar “paralelismos e pontos em comum nos comportamentos colectivos de cada religião”, explica. 

Procurando mostrar os seus pensamentos e representar a s suas opiniões, sobre diversos assuntos relacionados com questões sociais, políticas e quotidianas, nas suas obras de arte, a artista espera despertar no público, várias consciências e sensações com o seu trabalho. 

“Acredito que a arte e a cultura podem despertar consciências e fazer a diferença ao criar movimentação a nível social com um carácter cívico”, afirma. 

Portuguesa, mas nascida em Angola, em 1965, Ildebranda Martins mudou-se para Lisboa, em busca de um lugar onde se pudesse expressar artisticamente. Até aos 23 anos, a nível da expressão plástica, limitava-se “a fazer uns padrões, com muitas linhas interlaçadas”, segundo a própria. 

Foi nos anos 90, aquando do seu casamento, que adquiriu as condições favoráveis para pintar, esculpir e “sujar”, iniciando, assim, o seu percurso na arte plástica. “Comecei com pintura sobre vidro, tela, em papel”, recorda. 

Em 2004, virou o seu olhar artístico para os manequins, numa empresa onde trabalhava e que era representante de marcas. “Comecei a visualizar mentalmente esses corpos com outro destino, um mais vivo e apelativo”, relembra. 

Em 2008, apresentou pela primeira vez um manequim sobre tela numa bienal de arte, “onde o processo de selecção era rigoroso”, refere.

Ao todo, no seu currículo de artista, constam mais de 60 exposições culturais, tendo algumas delas sido profundamente marcantes e transformadoras para o seu percurso artístico.

“Eu gosto particularmente de castelos, palácios e igrejas, edifícios com história para expor. Nesse sentido, posso destacar as exposições individuais que realizei no Castelo de Mértola, Castelo de Pirescoxe e no Palácio da Fundação Marquês de Pombal”, indica Ildebranda Martins, que também destaca exposições em grupos que fundou, como “Mulheres com Arte”, “Universo Africano” e “Up Creators”, onde participava como artista e assumia a função de curadora.

Para além da arte plástica, a artista também desempenha funções como curadora de arte portuguesa. Questionada sobre o panorama cultural actual do país, Ildebranda Martins, traça um retrato. 

“Há muitos artistas a competir pelos mesmos espaços, os licenciados, os frequentadores de escolas privadas de artes, os alunos das Universidades Seniores, os autodidácticos”, considera a curadora, que menciona também as novas abordagens, por parte de espaços culturais, como as galerias comerciais, em que, “principalmente depois da pandemia, começaram a trabalhar com um grupo restrito de artistas, seleccionado de forma criteriosa pelos seus curadores, com base, também, na carteira de clientes disponível”, salienta. 

Por outro lado, as galerias municipais, “começaram a receber muitas candidaturas, fazendo com que o período de espera entre a candidatura e a concretização da exposição aumentasse significativamente, em média, 2 anos”, expõe. 

Tais condições fizeram com que “que os municípios tivessem aproveitado o desequilíbrio entre a oferta e a procura para retirar condições aos artistas”, defende. 

“As condições, cada vez mais são adversas para os artistas”, reconhece. 

Lançando-lhe o desafio de escolher uma obre de arte plástica, que pudesse representar a sua vida, a artista responde-nos que não consegue escolher, uma vez que “as suas obras são páginas do seu diário, no qual representam as diversas fases da sua vida”, mas confessa que “as obras assentes em manequins ou outro material mais alternativo, são as suas preferidas”. RP

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