A Escola Superior de Educação de Santarém (ESES) assinala no próximo dia 9 de Novembro o seu 46.º aniversário, reafirmando-se como uma das instituições de ensino superior de referência do Ribatejo e do país. Criada em 1979, a ESES integra o Instituto Politécnico de Santarém e distingue-se pela qualidade da formação de professores, educadores sociais e técnicos nas áreas da educação, cultura e multimédia, pela aposta na investigação e pela forte ligação à comunidade e ao território.
Em entrevista ao Correio do Ribatejo, o director da Escola, Professor George Camacho, e a subdirectora, Professora Ana Loureiro, fazem um balanço das últimas décadas, sublinhando o percurso de crescimento e consolidação da instituição, a diversificação da oferta formativa, a aposta na inovação pedagógica e o compromisso com os valores da inclusão e da responsabilidade social. Numa conversa marcada pela reflexão e pela visão de futuro, os responsáveis destacam ainda os desafios que se colocam à educação superior, a importância da investigação e a necessidade de reforçar as parcerias regionais, nacionais e internacionais que têm sustentado o prestígio da Escola.
Ao assinalar mais um aniversário da Escola Superior de Educação de Santarém, que balanço faz do percurso recente da instituição e do papel que tem desempenhado na formação de educadores e professores?
O balanço é francamente positivo. Ao longo dos últimos anos, a Escola tem consolidado o seu papel como referência na formação de professores, educadores sociais e técnicos na área da produção multimédia orientada para a educação. Esta última componente, mais recente, tem vindo a afirmar-se com um enfoque claro na criação de conteúdos e ferramentas digitais que sirvam o processo educativo, acompanhando a evolução tecnológica e as exigências da sociedade actual.
Para além destas áreas mais tradicionais, há hoje um domínio que começa a ganhar expressão e que consideramos estratégico para o futuro: a Educação Ambiental e o Turismo de Natureza. Trata-se de uma formação desenvolvida em estreita articulação com outras unidades orgânicas do Instituto Politécnico de Santarém, nomeadamente a Escola Superior Agrária e a Escola Superior de Desporto de Rio Maior. É um campo com enorme potencial de crescimento, tanto a nível regional como nacional, porque responde às preocupações contemporâneas de sustentabilidade e de valorização dos recursos naturais.
Nestes 46 anos de existência, a ESES tem sabido afirmar-se pela qualidade da sua oferta formativa e pela ligação estreita ao território. Hoje, a Escola conta com sete mestrados activos — três na área da docência e quatro de natureza académica — que representam uma diversificação significativa face à realidade de há alguns anos. Destacamos o mais recente, o Mestrado em Educação Especial e Inclusiva, criado para responder a uma lacuna que se fazia sentir na região: a falta de formação especializada neste domínio.
Enquanto direcção, temos procurado dar continuidade a este percurso, definindo objectivos claros e mobilizando a comunidade para os atingir. É evidente que nem sempre conseguimos concretizar tudo no tempo que desejaríamos. Existem factores conjunturais — de natureza económica, administrativa ou política — que condicionam a execução de certos projectos. No entanto, o mais importante é manter o rumo e a persistência. As metas estão definidas, e, mesmo quando os calendários não são os mais favoráveis, continuamos a trabalhar para que essas intenções se concretizem. Faz parte da dinâmica das instituições: estabelecer prioridades, ajustar-se às circunstâncias e nunca perder de vista a missão que nos orienta.
Este ano, com o Concurso Nacional de Acesso, como ficou a Escola em termos de novas inscrições?
Ficámos francamente bem. Este foi um ano particularmente positivo para a Escola Superior de Educação de Santarém, tanto ao nível do número de colocações como da diversidade dos cursos procurados. Conseguimos aumentar o número total de estudantes face ao ano anterior, o que demonstra que a nossa oferta formativa continua a ser atractiva e reconhecida pelos candidatos.
De forma geral, as vagas foram praticamente todas preenchidas. Tivemos uma procura expressiva nas licenciaturas e nos cursos técnicos superiores profissionais (TESP), o que é sempre um sinal de vitalidade institucional. Apenas uma das nossas formações apresentou maior dificuldade em preencher as vagas disponíveis.
Contudo, este é um desafio que já identificámos e para o qual existe uma estratégia delineada. Em articulação com as três escolas envolvidas nesta licenciatura — Educação, Agrária e Desporto de Rio Maior —, estamos a reformular o plano de estudos, procurando ajustá-lo às necessidades actuais do mercado e às expectativas dos estudantes. Acreditamos que esta reestruturação, que será submetida à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), permitirá reforçar a atractividade do curso e captar mais alunos no futuro.
Os mestrados em áreas de docência preencheram totalmente as vagas disponíveis, o que evidencia a pertinência destas formações no actual contexto de carência de professores no país. Mesmo nos mestrados de natureza académica, em que a procura é habitualmente mais variável, o número de inscrições foi suficiente para garantir o funcionamento regular e dinâmico de todas as turmas.
Em suma, podemos afirmar que a Escola atravessa uma fase de consolidação e crescimento, com uma procura estável e diversificada, o que reforça a confiança no trabalho que temos vindo a desenvolver.
Olhando para a história da Escola Superior de Educação de Santarém, quais considera terem sido os momentos mais marcantes desta trajectória?
É difícil escolhermos apenas alguns, porque ao longo de mais de quatro décadas houve inúmeros momentos determinantes na afirmação da Escola. Ainda assim, há etapas que ficaram gravadas na nossa memória institucional e que traduzem bem a evolução do ensino superior em Portugal.
Recordamos, por exemplo, a transição dos bacharelatos para licenciaturas, no início da década de 1990. Foi um passo decisivo, que permitiu elevar o nível académico dos cursos e adequar a formação às novas exigências da profissão docente. Poucos anos depois, surgiu outro marco importante: os complementos de formação criados no final dos anos 90, que possibilitaram a muitos professores já no activo completarem o seu grau de licenciatura. Na altura, havia um número significativo de docentes com bacharelato, e esta medida veio dar-lhes a oportunidade de progredir na carreira e consolidar a sua qualificação académica.
Posteriormente, vivemos um momento de grande transformação com a implementação do Processo de Bolonha, que redefiniu completamente a organização do ensino superior. Foi um período desafiante, sobretudo pela mudança de paradigma — passámos a estruturar os planos de estudo e a contabilizar créditos com base no tempo de trabalho do estudante, e não apenas nas horas de contacto. Hoje é um processo totalmente assimilado, mas na altura implicou uma revisão profunda dos métodos de ensino e da própria filosofia educativa.
Mais recentemente, destacamos a criação dos mestrados para a docência, que representaram uma nova etapa de crescimento e diversificação da nossa oferta formativa. Estes cursos têm desempenhado um papel essencial no reforço da qualificação de professores e educadores, num momento em que o país enfrenta uma escassez generalizada de docentes.
A Escola Superior de Educação de Santarém tem procurado responder a essa realidade com novas propostas de mestrados e especializações, ajustadas às necessidades do sistema educativo e ao contexto regional. Nos próximos dois anos, prevemos lançar novas formações de segundo ciclo, precisamente para dar resposta à procura crescente de profissionais qualificados.
Em suma, cada uma destas fases — da consolidação das licenciaturas ao processo de Bolonha, passando pela expansão dos mestrados — marcou de forma muito clara a evolução da Escola e contribuiu para a sua afirmação como referência no ensino e na formação de educadores.
A inovação pedagógica é uma das prioridades da actual direcção. Que práticas e projectos têm vindo a ser desenvolvidos pela Escola Superior de Educação de Santarém nesse domínio?
A Escola tem procurado, nos últimos anos, estimular a inovação pedagógica a vários níveis — desde as metodologias de ensino até à concepção dos próprios espaços educativos. Procuramos criar ambientes que favoreçam a aprendizagem activa, onde o estudante deixa de ser um mero receptor de conteúdos e passa a ser participante no processo formativo.
Apesar de dispormos de recursos financeiros limitados, tem havido um enorme esforço colectivo dos docentes e técnicos para repensar o espaço escolar. Hoje, a ESES já não é composta apenas por salas tradicionais, dispostas em filas rígidas; temos salas modulares e flexíveis, que podem ser adaptadas às necessidades de cada turma e de cada disciplina. Isso permite organizar o trabalho de grupo, promover dinâmicas colaborativas e desenvolver metodologias participativas, aproximando o ensino da realidade dos futuros profissionais.
Paralelamente, estamos envolvidos em projectos de grande alcance nacional. O Politécnico de Santarém, com a intervenção de docentes da ESES, integra o Centro de Excelência em Inovação Pedagógica INOV3P, liderado pela Universidade de Coimbra, um consórcio que reúne nove instituições de ensino superior. Esta rede tem permitido partilhar práticas e resultados de investigação sobre metodologias activas e ensino inovador.
Outro passo importante foi a criação da Unidade de Ensino a Distância e Inovação nas Práticas Pedagógicas – UEDIPP, uma estrutura transversal ao Instituto Politécnico de Santarém, mas sediada fisicamente na ESES. Esta unidade presta apoio aos docentes na adaptação de unidades curriculares para regimes de blended learning ou ensino híbrido, e fornece apoio metodológico e tecnológico a quem pretende implementar novas práticas de ensino.
Esta equipa é composta por docentes e técnicos superiores da própria Escola de Educação, o que faz todo o sentido: sendo uma escola vocacionada para a pedagogia, temos uma experiência consolidada no que concerne a formas de ensinar e aprender inovadoras e diferenciadoras.
Através destas iniciativas, a ESES tem procurado liderar o caminho da inovação educativa dentro do Instituto e afirmar-se como laboratório de boas práticas pedagógicas, inspirando outras unidades orgânicas a seguir a mesma via.
A internacionalização é um eixo cada vez mais relevante no ensino superior. Como tem sido reforçada essa dimensão na Escola Superior de Educação de Santarém?
A internacionalização é, de facto, uma prioridade estratégica e uma área em que a Escola tem vindo a crescer de forma sustentada. Durante muitos anos, este trabalho esteve fortemente associado ao Programa Erasmus, talvez o mais bem-sucedido dos programas europeus, e que continua a ser uma marca distintiva do espaço de ensino superior europeu. Foi, e continua a ser, um instrumento fundamental para a mobilidade de estudantes e docentes, criando pontes entre instituições e promovendo uma verdadeira cultura europeia de partilha académica.
Hoje, porém, a internacionalização da ESES vai muito além do Erasmus. Temos procurado diversificar parcerias e fontes de financiamento, participando em projectos de cooperação que envolvem não só países europeus, mas também comunidades lusófonas e ibero-americanas.
Um exemplo disso é o projecto ERGUES em São Tomé e Príncipe, coordenado pela Associação Marquês de Valle Flôr e financiado pela Cooperação Portuguesa, através do Instituto Camões. A ESES participa activamente neste programa, que inclui a reforma educativa, a formação de professores locais e a produção de materiais didácticos. É um projecto de grande alcance, que tem envolvido docentes e técnicos da nossa Escola.
Por outro lado, o Instituto Politécnico de Santarém lidera a Universidade Europeia ACE2EU, um consórcio de nove instituições de ensino superior de vários países — Letónia, Espanha, Alemanha, Polónia, Lituânia, Macedónia do Norte, Áustria e Roménia — criado no âmbito de uma nova filosofia de integração académica promovida pela União Europeia. Este projecto visa consolidar o Espaço Europeu de Ensino Superior, fomentando a mobilidade, a investigação conjunta e a construção de um modelo de universidade sem fronteiras.
O impacto desta rede já se começa a sentir, com um aumento da mobilidade de docentes e estudantes e com o desenvolvimento de actividades conjuntas no âmbito da ACE2EU. O potencial de crescimento é enorme, quer pela troca de experiências pedagógicas, quer pelo acesso a novas oportunidades de financiamento europeu.
A ESES, enquanto unidade orgânica do Politécnico de Santarém, integra ainda outras redes relevantes, como a ACINNET, que reforça a cooperação com instituições da América Latina, nomeadamente o Brasil, de onde recebemos regularmente investigadores e doutorandos que realizam aqui parte dos seus estudos. Destaco também a REDE RIAL, que reúne instituições de ensino superior dos países de língua portuguesa e promove projectos de investigação e formação conjunta.
Finalmente, no domínio específico da educação e da formação de professores, a ESES participa na Associação Comenius, uma rede europeia de escolas superiores dedicadas à pedagogia e à intervenção social. Esta ligação tem-nos permitido organizar Semanas Internacionais, acolher estudantes estrangeiros e colaborar com a Conferência das Organizações Internacionais não Governamentais do Conselho da Europa em matérias de educação, cidadania e diversidade cultural.
Hoje, a Escola está plenamente integrada nas estruturas europeias e internacionais, e o desafio passa por consolidar esta presença, alargando o número de parcerias e projectos em que participamos. A internacionalização não é apenas uma meta: é uma cultura institucional que procuramos viver diariamente.
A sustentabilidade, a inclusão e a responsabilidade social são princípios estruturantes na acção da Escola Superior de Educação de Santarém. De que forma é que estes valores se traduzem em práticas concretas dentro e fora da instituição?
Estas dimensões estão no centro da missão da Escola. Desde sempre procurámos ser uma instituição inclusiva e atenta às necessidades específicas dos estudantes, criando condições reais para que todos possam ter sucesso académico, independentemente das suas circunstâncias pessoais.
Temos em funcionamento a Rede NEE — Rede de Necessidades Educativas Especiais, um projecto interno que assegura o acompanhamento de estudantes que necessitam de apoio diferenciado. A sinalização pode surgir por iniciativa dos próprios alunos ou através dos docentes, que detectam em sala de aula situações que exigem atenção especializada. Depois desse processo, uma equipa técnica avalia cada caso e emite recomendações aos professores, ajustando metodologias, prazos ou recursos pedagógicos, sempre com o objectivo de garantir equidade nas condições de aprendizagem.
Em alguns casos é necessário recorrer a apoio técnico especializado, o que é feito em articulação com o Serviço de Acção Social do Instituto Politécnico de Santarém. Esta colaboração tem sido fundamental para assegurar acompanhamento psicológico, terapêutico ou pedagógico a quem dele necessita.
Outro passo importante foi a criação do Mestrado em Educação Especial e Inclusiva, precisamente para capacitar os docentes da região e dotá-los de competências que lhes permitam diagnosticar e acompanhar melhor os alunos com necessidades específicas. Sentíamos falta dessa formação avançada na área e acreditamos que ela representa um contributo directo para as escolas e para o contexto educativo regional.
Também temos recebido, na ESES, estudantes com necessidades educativas especiais vindos de outras instituições, nomeadamente para realização de estágios personalizados. As escolas e entidades da região reconhecem-nos como uma instituição preparada para acolher e orientar esses alunos, oferecendo-lhes oportunidades de aprendizagem ajustadas às suas capacidades e ritmos.
Esses estágios têm decorrido em diferentes sectores — no Centro Tecnológico, na Unidade de Ensino a Distância e Inovação nas Práticas Pedagógicas ou no Centro de Apoio Pedagógico. Todos eles são desenhados à medida das necessidades de cada aluno, e é gratificante ver como a Escola consegue articular-se com a comunidade para oferecer respostas adequadas.
Hoje, o ensino superior enfrenta um novo desafio: o número crescente de estudantes com necessidades específicas. Graças ao trabalho desenvolvido desde o ensino básico e secundário, mais jovens com necessidades específicas chegam agora ao ensino superior. É uma realidade que há 30 anos era residual e que exige de nós uma constante adaptação.
Por isso, além do apoio individualizado e da formação de docentes, temos procurado adequar espaços e equipamentos para garantir acessibilidade e conforto a todos.
No âmbito da Rede NEE e da UEDIPP, desenvolvemos recursos pedagógicos orientadores para os docentes, que os ajudam a lidar com situações específicas em sala de aula. São instrumentos de apoio prático, generalistas, mas que funcionam como ponto de partida para o trabalho de inclusão. Quando há necessidade de uma intervenção mais especializada, a rede entra em acção para apoiar directamente o docente e o estudante.
Trabalhamos, portanto, em dois planos complementares: dar resposta imediata às necessidades dos estudantes e capacitar os profissionais para lidarem com essa diversidade. A inclusão, para nós, não é apenas um princípio — é uma prática diária que se traduz em acções concretas e sustentáveis.
O alojamento estudantil é hoje uma das grandes preocupações no ensino superior. Como avalia a situação em Santarém e de que forma tem afectado a captação e permanência dos alunos na Escola Superior de Educação?
Essa é, de facto, uma questão sensível e complexa, que ultrapassa a esfera da Escola Superior de Educação e que tem a ver com o mercado habitacional da cidade e com o contexto nacional. A gestão das residências de estudantes é da competência dos Serviços de Acção Social do Instituto Politécnico de Santarém, mas, naturalmente, acompanhamos de perto a situação, porque ela tem impacto directo na vida académica dos nossos alunos.
Nos últimos anos, verificou-se uma redução da oferta de quartos disponíveis e um aumento significativo dos preços, consequência da dinâmica do mercado imobiliário. É uma tendência que se agravou com a crescente procura de habitação em Santarém por parte de pessoas que trabalham em Lisboa, tirando partido da proximidade geográfica e das boas acessibilidades — tanto por auto-estrada como por comboio. Essa pressão acabou por ter reflexos no alojamento estudantil.
O Instituto Politécnico de Santarém tem procurado aumentar a capacidade de resposta, quer através da requalificação das residências existentes, quer com projectos para novas unidades. Este ano, contudo, vivemos uma situação muito particular: duas residências tiveram de ser alvo de obras de renovação, o que reduziu temporariamente o número de camas disponíveis, apesar de terem sido inauguradas três novas estruturas. A expectativa é que, já no próximo ano lectivo, com todas as residências plenamente operacionais, a capacidade global de alojamento aumente substancialmente.
Ainda assim, estamos longe dos valores de referência considerados adequados para o número de estudantes que frequentam o Politécnico. Por isso, o reforço da rede de residências continuará a ser uma prioridade institucional.
Até agora, não sentimos um impacto generalizado na frequência dos cursos, porque as famílias têm feito um esforço considerável para manter os filhos a estudar. No entanto, não escondo alguma preocupação com o futuro próximo. Se os custos da habitação continuarem a subir, poderemos assistir a desistências motivadas por dificuldades financeiras. Já tivemos alguns casos pontuais de estudantes que manifestaram essa impossibilidade, embora ainda de forma residual.
Vamos aguardar até ao final do semestre para perceber se as famílias conseguem sustentar esse esforço. Esperamos sinceramente que sim, porque seria lamentável ver interrompidos percursos académicos promissores por razões económicas.
Como tem evoluído a empregabilidade dos diplomados da Escola Superior de Educação de Santarém e que papel desempenham as parcerias com autarquias e entidades do sector educativo?
A situação actual é francamente positiva, sobretudo nas áreas de docência. Hoje, o sistema educativo português vive uma carência significativa de professores, o que faz com que praticamente todos os diplomados encontrem colocação pouco tempo após concluírem o curso. Há alguns anos, lembramo-nos bem, o problema era precisamente o inverso: tínhamos professores formados e desempregados. Agora, o desafio é outro — são os alunos que ficam sem professores.
Essa mudança de cenário traduz-se numa empregabilidade quase total nos mestrados destinados à formação de docentes. Os nossos diplomados têm sido muito procurados, quer pelas escolas da região, quer por instituições de outras zonas do país.
Nos outros cursos, a realidade é também encorajadora. A percepção que temos é a de que a maioria dos estudantes consegue inserir-se no mercado de trabalho num prazo relativamente curto, ainda que nem sempre na área exacta da formação inicial. É natural que, nos primeiros anos, alguns procurem experiências diversificadas até consolidarem um percurso profissional.
Há também casos de diplomados que já se encontravam empregados e que, ao concluir a licenciatura ou o mestrado, obtêm progressão na carreira, passando, por exemplo, de assistentes a técnicos superiores, por exemplo no sector público. Isso comprova que a formação na ESES é reconhecida e valorizada em diferentes contextos profissionais.
O feedback das entidades que acolhem os nossos estudantes em estágio, nomeadamente dos cursos de licenciatura, tem sido francamente positivo. Muitos estudantes são convidados a permanecer nas entidades onde estagiaram, o que mostra a qualidade da preparação que recebem e a versatilidade das competências adquiridas.
Isso demonstra que a formação ministrada na ESES tem capacidade de adaptação ao mercado de trabalho, mesmo fora do âmbito tradicional da educação. As parcerias que mantemos com autarquias, escolas, instituições culturais e empresas são fundamentais para essa inserção, porque aproximam os estudantes da realidade profissional desde cedo.
Acreditamos que a empregabilidade é o reflexo mais visível da qualidade da formação e do compromisso da Escola com a comunidade. O nosso objectivo é continuar a reforçar essa ligação entre o ensino e o mundo do trabalho, promovendo experiências que preparem melhor os alunos para o futuro.
A investigação e a produção de conhecimento assumem, hoje, um peso crescente no ensino superior. Que projectos e linhas de investigação destacaria como expressão do contributo científico da Escola Superior de Educação de Santarém?
A investigação é, de facto, um dos pilares da nossa actividade. Neste momento, a Escola está integrada no Centro de Investigação em Qualidade de Vida (CIEQV), uma estrutura multidisciplinar e inter-politécnica que reúne várias instituições de ensino superior: os Politécnicos de Santarém, Leiria, Setúbal, Portalegre e Beja. O centro tem diferentes eixos de actuação que cruzam áreas como a educação, o desporto, a saúde e as ciências agrárias, sempre com enfoque na promoção do bem-estar e da sustentabilidade.
Na ESES, temos concentrado o nosso esforço em linhas de investigação prioritárias: a inovação pedagógica e os ambientes educativos inovadores, o ensino a distância e híbrido, as questões da educação inclusiva e da sustentabilidade, a educação outdoor e a educação em STEAM. São áreas que reflectem bem a identidade da Escola e o nosso compromisso com a modernização das práticas de ensino.
Temos também o Pólo de Literacia Digital e Inclusão Social, um pólo do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC) da Universidade do Algarve. Este pólo tem apostado fortemente em temas como a literacia digital, a inclusão social e, mais recentemente, a inteligência artificial aplicada à educação.
A nível interno, estamos a preparar um programa doutoral em Educação, Sustentabilidade e Qualidade de Vida, que será submetido à aprovação assim que o CIEQV obtiver avaliação de “muito bom” pela FCT. É um passo natural na evolução da Escola, que pretende consolidar a sua capacidade científica e atrair novos investigadores.
Muitos dos nossos docentes têm vindo a desenvolver investigação no âmbito de projectos europeus e nacionais, em parceria com outras instituições. Esses projectos, além de promoverem a partilha de boas práticas, originam frequentemente artigos e comunicações científicas, contribuindo para a visibilidade e o reconhecimento do trabalho da Escola.
Um instrumento importante para essa divulgação é a revista científica Interacções, editada pela Escola Superior de Educação de Santarém. É uma revista de acesso livre e indexada no RCAAP, que acolhe artigos de investigadores nacionais e internacionais. Temos tido edições coordenadas por editores convidados de Portugal, do Brasil e demais países da lusofonia, o que reforça a dimensão global da publicação.
Além disso, organizamos regularmente encontros e jornadas científicas que promovem a partilha de experiências e a criação de novas redes de colaboração. Realizámos recentemente um Encontro de Educação em Ciências, outro dedicado às Literacias do Século XXI, outro na área do Ensino a Distância e outro sobre o Discursos Académico, apenas para referir alguns. Estes momentos são decisivos para estimular o debate académico, divulgar resultados de investigação e lançar novas ideias de projecto.
Estes encontros têm um duplo efeito: permitem disseminar o conhecimento produzido e inspiram novas iniciativas de investigação conjunta. Há sempre diálogos que se abrem e que, mais tarde, dão origem a novos projectos.
Naturalmente, gostaríamos de dispor de mais recursos financeiros para apoiar a investigação e a mobilidade científica dos docentes, mas, dentro das nossas possibilidades, temos procurado criar condições de estímulo e reconhecimento. O essencial é manter viva esta cultura de investigação e publicação, que fortalece a Escola e a sua ligação à comunidade académica nacional e internacional.
A Escola Superior de Educação de Santarém celebra mais um aniversário. Que mensagem gostaria de deixar à comunidade académica e à cidade neste momento simbólico?
Antes de mais, queremos felicitar toda a comunidade académica pelos 46 anos de vida da Escola. Não têm sido anos fáceis, mas têm sido profundamente enriquecedores e mobilizadores. Cada etapa foi construída com o empenho de muitas pessoas — docentes, funcionários, estudantes e parceiros — que, ao longo do tempo, contribuíram para aquilo que hoje somos.
Tudo o que conseguimos resulta de um esforço colectivo, que merece ser reconhecido e valorizado. Há um legado de dedicação, competência e espírito de missão que atravessa gerações e que continua a inspirar o nosso trabalho. Esta celebração é, por isso, também uma homenagem a todos os que passaram por aqui e deixaram a sua marca na história da instituição.
Quanto ao futuro, o nosso compromisso é continuar a consolidar este percurso, alargando as áreas de intervenção, reforçando as parcerias com outras escolas, instituições de ensino superior, autarquias e instituições e organismos da região, e mantendo uma forte ligação à comunidade. Queremos que a ESES continue a ser um espaço de formação, inovação e inclusão, atento às necessidades do território e às transformações da sociedade.
O ensino superior tem hoje novos desafios — a digitalização, a sustentabilidade, a integração europeia — e estamos determinados a responder com qualidade, criatividade e responsabilidade. A Escola Superior de Educação sempre foi um lugar de ideias e de pessoas com energia, e é com essa energia que queremos projectar os próximos anos.
Deixamos uma palavra de agradecimento e confiança. Contem connosco para continuar este caminho, com determinação, rigor e entusiasmo. E que venham muitos mais anos de vida para esta casa que tanto nos honra.
