João Maria Ferreira, responsável pela Residência Artística de Santarém (RAS) e também artista plástico, acredita que a liberdade criativa e a partilha de ideias entre jovens artistas têm sido a força motriz desta iniciativa, que chega agora à oitava edição. Em entrevista ao Correio do Ribatejo, defende que a RAS se consolidou como um espaço de experimentação e encontro com a comunidade, e reafirma o desejo de ver a cidade cada vez mais envolvida no processo criativo: “Mais divulgação e mais partilha”.

A RAS chega este ano à oitava edição com o tema “Raízes e Novos Horizontes”, marcada para ocorrer de 6 a 13 de setembro. Que significado tem este tema para si, enquanto responsável e também artista, no contexto actual de Santarém?

Eu diria que as leituras da importância da História, do passado, que são feitas pelas gerações mais novas, têm vindo a sofrer tremendas alterações relativamente a uma certa norma que até à algum tempo era consensual. Pode por isso ser interessante tentar perceber de que forma é que essas novas leituras e abordagens das nossas “raízes” podem influenciar os artistas residentes, na sua maioria muito jovens, quando questionados sobre o futuro, o seu, ou de uma forma mais ampla, do mundo. Ressalvo, no entanto, que a primazia do tema é a sua abrangência de leituras e interpretações, e, portanto, mais uma vez, como em edições anteriores, a liberdade dada aos artistas é fundamental. 

O que distingue esta edição das anteriores? Que novas abordagens ou parcerias se destacam?

Embora na sua essência a matriz da residência se mantenha, temos a convicção desde início que o facto de a cada ano existir um tema novo e artistas novos são sempre duas novidades que tornam cada RAS único. Este ano iremos manter a realização de um ou mais workshops, mas ao contrário de edições anteriores, tentaremos que estes sejam ainda mais apelativos à comunidade, incentivando a sua participação. Também na inauguração da exposição final dos trabalhos poderemos vir a ter uma ou mais surpresas, e por isso, apelo a que sigam as redes sociais da RAS e do Centro Cultural. É fundamental que, para a manutenção deste evento, o público se envolva, é um contributo muito importante para jovens que querem ser artistas e mostrar o seu trabalho. 

A residência tem-se consolidado como um espaço de experimentação e aproximação à comunidade. Quais têm sido os maiores desafios e as maiores conquistas neste percurso?

Começando pelas conquistas, primeiramente gostaria de ressalvar a continuidade e consolidação da essência da residência. Numa altura em que tudo é tão volátil, estarmos na oitava edição é, a meu ver, um tremendo feito. E isso deve-se sobretudo ao trabalho fantástico de todas as pessoas que, ao longo destes oito anos, sob direcções diferentes, colaboram com e no Centro Cultural e Regional de Santarém, dando aqui uma palavra de apreço maior ao meu amigo António Amaral que tendo partido cedo demais, foi desde o início um dos maiores motores da RAS, não havendo melhor forma de o homenagear que continuando todos os anos a lutar para que a residência continue. Mas a maior conquista prende-se com o facto de termos tido, ao longo das sete edições anteriores, tantos artistas de diferentes origens, na sua maioria ainda muito jovens, e a RAS é uma construção de todas essas cabeças, ideias e sonhos. No que concerne aos desafios, eu diria que existem ainda objetivos a trilhar no que toca à divulgação do evento, a possíveis parcerias institucionais, e à inclusão de outro tipo de artes que possam ir para além das visuais, tais como a música ou o cinema. Estes são, felizmente, tudo pontos concretizáveis num futuro próximo. 

Enquanto artista plástico, como equilibra o seu papel de criador com a função de organizar e orientar outros criadores?

Enquanto artista, o RAS tem vindo a ser, para mim, extremamente enriquecedor. A variedade de pessoas com ideias muito diferentes das minhas é um factor inspirador. Tudo o que crio na residência advém desse contacto, que acaba por ser inevitável por ser organizador e orientador do projeto. Desse ponto de vista, existem questões mais práticas como perceber que materiais são necessários para cada artista poder executar os seus projetos, socorrê-los em algumas dúvidas que tenham, mas tirando esses tópicos mais objetivos, eu acabo por me integrar no grupo, partilhando ideias, estando por isso essas duas vertentes interligadas. 

Que impacto acredita que a RAS tem tido na cidade e nos jovens artistas que por aqui passam? E que futuro sonha para esta iniciativa?

O objectivo primordial sempre foi dar espaço e liberdade a que jovens artistas, ou aspirantes a tal, possam, durante um determinado período de tempo, explorar, partilhar, criar, a seu bel prazer. Um refúgio sem restrições e totalmente aberto na cidade de Santarém. Futuramente, desejo, tendo mesmo a convicção, de que a essência jovial e descomprometida que caracteriza a residência desde o primeiro dia se mantenha. E porque a arte tem uma vida posterior ao atelier, gostaria que cada vez mais o público pudesse ter um papel mais ativo durante o processo criativo da residência, interagindo com os artistas, e quem sabe, contribuindo positivamente para a efervescência criativa deste projeto. Resumindo, mais divulgação e mais partilha. 

Um título para o livro da sua vida?

O homem que gostaria de ter mais que uma vida. 

Viagem?

Ao buraco negro que ocupa o centro do Universo.

Música?

Black Keys. 

Quais os seus hobbies preferidos?

Ler, jogar futebol e ver futebol. 

Se pudesse alterar um facto da história, qual escolheria?

Talvez desviasse o asteroide que colidiu na Terra e extinguiu os dinossauros. 

Se um dia tivesse de entrar num filme, que género preferiria?

Ficção Científica. 

O que mais aprecia nas pessoas?

A honestidade. 

O que mais detesta nelas?

A ausência de empatia.

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