Entrei na loja e vi calças rotas nos joelhos!
Na minha infância apenas havia buracos nas solas dos sapatos.
Perguntei se eram mais baratas por terem buracos. Disseram-me que não. A senhora do balcão explicou-me que era por ser moda. Fiquei então a saber que tinha de pagar as calças e os buracos.
Não tinha dinheiro que chegasse… Já ia a sair da loja mas voltei para trás e perguntei à senhora se vendia só um buraco. Disse que só podia vender os dois, porque não podia separar os buracos.
Resolvi então comprar umas calças sem buracos. Não estavam na moda mas eram mais baratas.
Aproveitei e comprei também umas cuecas. Todas elas também tinham dois buracos. A senhora explicou-me que serviam para meter as pernas, e que já estavam incluídos no preço. Ainda bem!
Paguei e voltei para casa a desviar-me dos buracos da calçada.
Lembrei-me que afinal também pagamos o buraco do BPN, o buraco do BES, o buraco da CGD, e até pagamos o buraco do
bolo-rei!
Concluí então que os buracos são favoráveis à economia nacional.
Tantos buracos pagamos que qualquer dia até pagamos o buraco do… ozono! Já estava em casa quando reparei que há um buraco onde pomos o olho e que não paga taxas – é o buraco da fechadura. É bom termos um buraco livre de impostos, e cada um de nós tem o seu… (refiro-me à sepultura)
Isto da sepultura é “humor negro” porque fica tudo escuro.
Liguei a ficha da telefonia à tomada com dois buracos, e ouvi o locutor dizer que tinham finalmente resolvido o buraco dos submarinos do Paulo Portas. Fizeram um grande buraco em cada um, e assim conseguiram que os submarinos fossem ao fundo.
Gostei. Temos de elogiar o que de bem se faz em Portugal.
In: ‘Correio do Ribatejo’ de 10 de Janeiro de 2020