Madalena Ferreira e Gonçalo Mendes conheceram-se nos Grupos Infantil de Dança Regional e Académico de Danças Ribatejanas. Casaram e a eles juntaram-se o Vicente e o Guilherme, uma família que “nasceu” no folclore e depressa percebeu “a importância da existência deste movimento”.

Primeiro o pai, Gonçalo, depois a mãe, Madalena, e agora os filhos… uma família completamente envolvida no seio do Grupo Académico de Danças Ribatejanas. O que os fez despertar para o folclore?

Gonçalo (G): Para mim foram essencialmente questões familiares, ambos os meus pais são/foram elementos do Grupo, pelo que desde cedo frequentei o seu espaço, sendo que integrar o mesmo foi resultado disso. Claro que com o crescimento e amadurecimento percebi a importância da existência deste movimento em geral e do nosso Grupo em particular.

Madalena (M): Também para mim foi por incentivo dos meus pais que apesar de não estarem ligados ao folclore, entenderam apresentar-me a este aos 3 ou 4 anos. Dai até hoje ganhei grande gosto por esta forma de cultura e pela mensagem que transmite.

O que é para vós integrar esta autêntica família chamada Grupo Académico?

G: Para mim falar em família e Grupo Académico quase se confunde, os meus pais conheceram-se no seio do Grupo e eu conheci a Madalena também no Grupo. Posso assim quase dizer que a minha família “nasceu” no Grupo Académico. 

M: Tendo entrado muito jovem, cresci ao lado de muitos dos elementos que ainda hoje dançam, assim, são pessoas que conheço desde sempre e daí vem esta sensação de familiaridade.

Um dos vossos filhos já aparece trajado em alguns espectáculos. Esta continuidade é importante para o futuro do Grupo e para a educação dos vossos filhos?

Claro que sim, pese embora tenha sido algo que aconteceu com naturalidade e não propriamente com uma intenção consciente. O Vicente e o Guilherme acompanham-nos nas idas aos ensaios e absorvem tudo com muita facilidade. Dai a começar a dançar, ou tentar dançar no caso do Vicente, foi um pulinho. Obviamente que embora não tenha sido uma decisão consciente, compreendemos a importância que tem para o Grupo esta continuidade de pais para filhos, que, aliás, se verifica em boa parte dos elementos do Grupo Infantil, a secção jovem do Grupo Académico.

Num momento em que os jovens têm acesso a múltiplas formas de cultura, como pais, entendem importante passar para os vossos filhos os valores da cultura mais tradicional, do folclore, das tradições?

Como pais entendemos ser essencial passar estes valores, sem excluir outros que também consideramos importantes, mas mostrando que os valores tradicionais continuam a ser relevantes.

Hoje em dia, com tanta influência externa e com a rapidez com que as coisas mudam, é fácil esquecer de onde viemos. Queremos que os nossos filhos saibam que as nossas tradições são uma parte marcante da nossa identidade e que, apesar de todas as outras formas de cultura que possam apreciar, as nossas raízes não devem ser esquecidas.

Estão num Grupo que tenta preservar as memórias deixadas pelo seu fundador, Celestino Graça, pela filha Graça Graça, pela neta Cristina Graça, também por Ludgero Mendes, director do Grupo. Sentem o peso de assegurar a continuidade dos Grupos nos vossos ombros?

Não propriamente, ambos entramos para o Grupo muito novos, em idades em que esse tipo de responsabilidades não é sentido, pelo que ao crescermos já estamos habituados a essa inerência, que assumimos naturalmente.

É claro que há um sentido de responsabilidade em continuar o trabalho que foi iniciado por figuras tão importantes como Celestino Graça e todos os que o seguiram. É um legado que queremos honrar e passar para as próximas gerações, mas não um peso. 

Que mensagem deixam a outros jovens pais para que o gosto pelas tradições, nomeadamente pelo folclore, tenha continuidade?

Que se envolvam e que envolvam as crianças. O envolvimento nas tradições não é apenas uma forma de preservar o passado, mas também de construir o futuro. As tradições são o que nos conecta às nossas raízes, à nossa identidade como povo, e é essencial que essas raízes sejam transmitidas às próximas gerações. Como pais, temos a responsabilidade de garantir que os nossos filhos cresçam conhecendo e valorizando as tradições que nos foram passadas.

O Folclore não é melhor nem pior que as outras actividades extracurriculares que inundam os horários das crianças, mas traz aspectos que talvez nenhuma outra traga, o que enriquece a vida das crianças e também dos pais.

No mundo globalizado de hoje, onde os jovens têm acesso a tantas influências culturais diferentes, é ainda mais importante proporcionar-lhes uma base sólida e um senso de identidade através das nossas tradições. Essa base sólida será o que lhes permitirá acolher e compreender as tradições e costumes de outros povos com perspectiva, encaixando tudo devidamente.

Por fim, lembrar apenas que os ensaios do Grupo Infantil decorrem aos sábados a partir das 16h30 seguindo-se o ensaio do Grupo Académico. Apareçam!

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