A Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM) completou no dia 05 de Dezembro 24 anos. A esse propósito, o Correio do Ribatejo esteve à conversa com Luís Cid, director de uma escola que se mantém em franco crescimento. Este ano, alcançou a meta dos 1.100 alunos inscritos e quer continuar nesta trajectória. Nesta entrevista, o responsável dá a conhecer a mais jovem escola do IPSantarém, os projectos em que está envolvida e perspectiva o futuro.

Quais foram os resultados do concurso nacional de acesso deste ano na ESDRM? Houve aumento de procura?
Este ano, seguimos a tendência dos anos anteriores. Temos sempre uma elevada procura e preenchemos sempre a totalidade das nossas vagas logo na primeira fase do concurso.
Tivemos o preenchimento total das nossas cinco licenciaturas. Ficamos bastante satisfeitos porque, no final, depois dos concursos internos e do concurso nacional, com os mestrados e com os Cursos Técnicos Superiores Profissionais (TeSP), estamos muito perto de atingir o objectivo que traçamos que era ter 1100 alunos na ESDRM. Hoje, temos 1096 alunos. É um aumento de cerca de 100 alunos em relação ao ano passado e ainda não temos as nossa vagas todas a concurso.

Como analisa estes dados? São resultados que deixam a Escola confortável para olhar para o futuro?
Eu olho sempre para as coisas com optimismo, apesar de tudo. Queremos sempre fazer melhor do que fizemos ontem. Esta procura, o facto de a escola ser uma referência na área do desporto a nível nacional, dá-nos também uma grande responsabilidade. Temos que responder às expectativas dos alunos. Isso leva-nos a projectar o futuro de maneira a que possamos colmatar as nossas fragilidades: não só manter a capacidade de dar reposta a nível técnico ou científico – porque os desafios da formação são uma parte do que nós fazemos – mas também ao nível da investigação e prestação de serviços à comunidade.

Quais os principais desafios que a Escola enfrenta?
Temos desafios no imediato e temos desafios a curto e médio prazo. No imediato, temos a questão da residência de estudantes: já demos vários passos, mas é uma luta que já dura há muito tempo. A obra já devia estar concluída e ainda nem sequer começou. Numa primeira fase, houve pouca vontade política para atribuir as verbas necessárias. O processo foi desbloqueado este ano, mas levou muito tempo. Não estávamos a contar que, no meio deste processo, que já vem de 2015, aparecesse a Covid-19 que veio complicar as coisas. Estamos a falar de um projecto que foi revisto em 2019, mas não contávamos com a pandemia. E, neste momento, quando o concurso foi lançado, em Junho, houve 11 empresas que mostraram disponibilidade para concorrer, mas não apresentaram preço e declararam que o valor base era demasiado baixo. Houve novo concurso, mas fraccionado, de forma a aproveitar as verbas. Esperamos que este processo se resolva o mais rápido possível. O Estado tem que garantir o financiamento da obra. Se essas verbas não vierem por via do Orçamento do Estado, teremos que aproveitar a oportunidade de financiamento através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem verbas destinadas à construção de residências, por exemplo. O importante é garantir que se inicia a obra e que ela é concluída. Outro desafio no imediato tem a ver com os recursos humanos. O subfinanciamento que existe nas instituições de ensino superior leva à estagnação da possibilidade de progressão da carreira e impede, também, a captação de novos recursos. Vamos fazer 24 anos, e as pessoas que cá estão, apesar de ainda jovens, já caminham para uma fase menos jovem. Temos 39 professores de carreira e não chegam para as nossas necessidades. Temos uma média de 30 alunos por professor e temos necessidade, com a nossa oferta formativa actual, cerca de 60 docentes. Temos que ter a noção que estamos integrados numa instituição com alguns problemas financeiros que estão a ser resolvidos neste momento.
Se não tivermos capacidade de aumentar os recursos humanos, abrir concursos, vamos ter problemas. Neste momento, noto já algum desgaste e desconforto crescente por parte do corpo docente e não docente porque são sempre os mesmos a fazer as coisas e agora temos oportunidade de fazer essa remodelação. Fizemos uma revisão de estatutos – iniciámos há um ano esse processo – e temos algumas alterações do ponto de vista da estrutura da escola que nos vai permitir ter algum maior dinamismo e mais recursos, o que infelizmente não temos na actualidade.
A curto prazo os desafios têm a ver, também, com a oferta formativa: em termos de licenciaturas, não temos, neste momento, previstas alterações, mas podemos crescer na oferta pós-graduada e temos a ambição de ter outorga de doutoramentos. A nossa escola, com a capacidade que tem instalada, neste momento, tem perfeitas condições para iniciar um curso de doutoramento, na área das ciências do desporto.
Não o queremos fazer isoladamente. Pertencemos a um dos centros de investigação nas áreas da ciência do desporto mais conceituados do País e temos o nosso próprio centro, que é o centro de investigação, o que pode servir de ‘trampolim’ para podermos ter o doutoramento. Possuímos, neste momento, 97,5% dos docentes doutorados ou especialistas. Isto permite-nos pensar alto e o que falta é desbloquear a Lei de Bases do Ensino Superior, uma vez que já existe um diploma que permite às instituições do ensino superior, incluindo os politécnicos que cumpram as condições, poderem ministrar doutoramentos.
Também gostaríamos de solicitar que a terminologia dos politécnicos se altere, e passem a ser designados de universidades politécnicas: queremos manter a nossa matriz de ensino politécnico, mas queremos aproximar essa terminologia aquilo que existe no resto da europa.

Como é que a Escola se posiciona ao nível da internacionalização e captação de alunos internacionais?
Nós tivemos uma ideia pioneira há cerca de sete anos atrás, que foi ministrar o curso de actividade física e estilos de vida saudáveis em inglês, precisamente para abrir o leque de internacionalização da escola por via da oferta formativa. A internacionalização não se faz só por ter alunos internacionais.
A nossa escola é a que tem maior procura de alguns Erasmus e criamos uma turma para esse fim. Tendencialmente a procura é maior no Verão, e com essa turma foi possível captar mais alunos. Este ano temos 12 alunos na turma de Erasmus, no semestre de Inverno, e já temos 25 para o Verão. E ainda estamos a falar de uma situação de contexto pandémico. Há que apostar um pouco mais nos países de língua portuguesa. Nós podemos ser uma entrada para a europa, usando a língua como trunfo para captar alunos.
Depois, temos que explorar tudo o que a União Europeia nos proporciona. O Erasmus favorece a mobilidade e projectos para que possamos estabelecer redes.

Luís Cid, Director da Escola Superior de Desporto de Rio Maior

Actualmente, quais são os cursos com maior procura, e as áreas com maior empregabilidade?
São todos, na verdade. Temos, de facto, dois cursos que se destacam, não pela procura, mas pelo número de vagas. Isto tem a ver com a aposta da escola e a evolução da sua oferta formativa. O curso na área do treino desportivo e o curso na área do desporto, condição física e saúde.
Se analisarmos o número de vagas em função do número de candidatos, todos os cursos que oferecemos andam muito próximos das cinco ou seis vezes mais candidatos que oferta.

Quais as grandes forças da escola superior de desporto?
A notoriedade e o reconhecimento da escola. Quando os alunos chegam, tentamos perceber porque é que eles nos procuram, e é evidente que o nosso grande trunfo é o ‘passa a palavra’, e isto é muito gratificante. Quem passa a palavra são os próprios alunos, o que é sinal que estamos a fazer algo bem.
Notoriedade, prestígio, e a afirmação da escola na área do desporto, que nos coloca como uma escola de referência no País. Vamos fazer 24 anos no dia 5 de Dezembro, e o nosso percurso revela a nossa maturidade e que temos sabido acompanhar a evolução da formação do próprio desporto.
Somos uma escola jovem, e, na altura em que foi criada, foi feita uma aposta arrojada em termos do ensino desportivo que, na altura se resumia à formação de professores de educação física. Em Rio Maior, tentámos fazer diferente: começámos a fazer formação de treinadores, treino desportivo, de instrutores de ginásio, curso de condição física, entre outros. Aquilo que nos diferencia, portanto, é esta inovação, para além da especialização em que sempre apostamos.

Considera que o Plano de Recuperação e resiliência poderá ser uma boa oportunidade para o IPSantarém e para a Escola?
Eu espero que sim. É um momento que pode ser usado para colmatar as nossas fragilidades e, com isso, criamos a expectativa de ter uma instituição forte. Para atingir certos níveis de exigência, temos que colmatar algumas das nossa falhas e temos que trabalhar em conjunto nesse sentido.
De facto, o PRR, como já referi, tem uma rúbrica com alguns milhões alocados especificamente para a questão do alojamento universitário. E o IPS pode beneficiar disso. Também há iniciativas do próprio município, para reconversão de edifícios para esse fim, e todas as iniciativas do género são sempre bem-vindas.
Uma outra vertente do PRR tem a ver com a questão do financiamento da própria formação: o Plano está a impulsionar o impulso jovem para a formação, o que pode ser aproveitado. O politécnico faz parte de dois consórcios e tem a possibilidade de ir buscar fundos para o tal programa que, neste momento, já permitiu deslocalizar cursos TESP e financiá-los.
O PRR é uma oportunidade que não se pode perder. É muito dinheiro, é um estímulo à economia e eu acho que, enquanto português, ficaria bastante satisfeito que o nosso Estado pudesse única para o País.

Como perspectiva o futuro da Escola?
Tenho alguma dificuldade em responder (risos). Há dois anos atrás, perspectivava uma coisa, e sabemos o que aconteceu [pandemia de Covid-19]. Mas vejo a escola com um potencial enorme, um politécnico inserido numa região com enorme potencial, com escolas diferenciadoras. Nós, ESDRM, só temos o sucesso que temos hoje porque estamos em Rio Maior, e por causa da aposta do município, que, com a passagem das diferentes cores políticas pelo executivo, sempre apostou no desporto. Rio Maior não era a mesma coisa sem o ensino superior, e nós também não eramos a mesma coisa se não estivéssemos em Rio Maior. Durante muitos anos, vivemos quase exclusivamente com financiamento de duas fontes: Orçamento de Estado e propinas. Agora, para o futuro, temos que aumentar as receitas próprias e termos a capacidade de captação de financiamento através de projectos ou de prestações de serviços. Para isso, precisamos de recursos e apoio técnico, de termos mais pessoas especializadas em determinadas áreas que são essenciais. Com as verbas bem aplicadas conseguimos adquirir o que necessitamos. Nós somos uma escola para fazer formação: sem alunos, não fazemos sentido e não podemos abdicar daquela que é a nossa principal missão.

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