Natural de S. Vicente do Paúl e a residir actualmente em Azambuja, Sónia Mendonça descobriu nas artes plásticas e decorativas uma forma de combater a depressão e a solidão. Em 2007, a artista autodidacta abriu a loja Coisas do Sótão que acabou por ter que encerrar em 2013 devido à crise que o país atravessava.

No entanto, depois de algum tempo desligada da arte, voltou a pegar no pincel e nunca mais parou. A Biblioteca Municipal da Azambuja acolhe, até ao próximo dia 13, uma exposição da sua obra cativante, intitulada “O voo dos pincéis”.

Em que altura da sua vida nasceu para as artes plásticas?

As artes plásticas “nasceram” depois das artes decorativas, por volta dos anos 2007/2008, e por cá ficaram…

Como surgiu a inspiração para a exposição “Voo dos pinceis”?

O nome ‘’Voo dos pinceis’’ surgiu através duma frase que ouvi algures na televisão ou rádio, que dizia, “os pincéis voam sobre as telas e deixam a sua marca’’. Há um ano fui por acaso à biblioteca e uma amiga minha chamou-me para ver uma exposição que estava a decorrer, ela perguntou se eu era capaz… fiquei entusiasmada, mas ao mesmo tempo cheia de medo por não me sentir á altura de tal projecto, era demais para mim. Em casa deram-me força para avançar e ir em frente. Não tinha nada de nada pintado, foi pesquisar, imprimir, passar para a tela e deixar que os pincéis e as tintas voassem.

Na sua jornada artística, de que forma é que a pintura se tornou uma forma de expressão e superação pessoal?

A superação pessoal no mundo artístico foi um escape para combater a solidão interior e exterior que existia em mim quando me mudei para Azambuja.

Como descreveria o estilo artístico presente nas suas obras e quais as técnicas que mais gosta de explorar?

Comecei com uma tela sem qualquer conhecimento de tintas, pincéis e toda a sua envolvência, essa tela foi pintada em tons todos escuros, muito escuros. Depois então o começo foram duas telhas de canudo das antigas (encomenda). E depois foi sempre dar ao pincel em vários materiais.

O que mais gosto de pintar é o tema infantil e o estilizado.

Como é o seu processo criativo? Tem alguma rotina ou ritual antes de começar uma nova obra?

Antes de começar qualquer obra que seja pesquiso muito no mestre Google para assim compreender a mistura das cores, dar a sombra e a luz no sítio certo, pois é o que vai dar vida ao trabalho. Mas ainda tenho muito que aprender.

Trabalhar sobretudo por encomendas traz desafios específicos. Pode partilhar uma experiência particularmente marcante ou desafiadora nesse sentido?

Trabalho sobretudo por encomenda (pois o espaço cá em casa é reduzido), e por vezes os trabalhos que parecem mais simples e fáceis são os mais desafiadores. E são desses que eu mais gosto! Foram várias que me deram luta, mas tenho três que as tive que pôr de lado para depois conseguir terminar.

Uma delas foram quatro potes em três telas. E a outra foi a de uma Karpa Koi que ficou lindíssima, mas que também deu muita luta! Está presente na exposição de Azambuja, as escamas foram pintadas uma a uma. Mas modéstia à parte ficou linda. E uma piton que está qualquer coisa.

Qual é o seu objectivo principal ao criar arte? Pretende provocar uma resposta emocional específica em quem vê as suas obras?

O meu objectivo quando crio a minha arte é o cliente me dizer:’ “é isto mesmo… como é que conseguiste?!’’

Existe alguma obra em particular nesta exposição, ou noutras, que seja especialmente significativa para si? Se sim, porquê?

Na minha primeira exposição em S. Vicente do Paúl (que por sinal é a minha terra Natal) alguém me perguntou como eu tinha colocado vidro nos olhos duma raposinha, isto só quer dizer que está bem pintado. Aqui, em Azambuja também me disseram que se viam a correr nos campos que eu pintei.

Mas, acima de tudo, gosto quando entrego um trabalho e o cliente fala com os olhos e fica satisfeito pois é ele que investe.

Para a exposição de S. Vicente do Paúl pintei uma obra muito simples, mas significativa, (que por sinal foi a primeira a ser pintada para lá) de titulo “A Mãe Pobre”, pintei em madeira mas a imitar a pirogravura, foi para homenagear os Meus que me criaram, pois de dinheiro eramos pobres mas muito ricos em amor.

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