Este ribatejano deu à sua região um contributo notável, nas áreas do associativismo popular e da cultura musical.

Não só em Santarém, mas também em Alpiarça, Azambuja e Azinhaga.

Alpiarça

Ele já faleceu há quase 45 anos. Mas na sala de ensaios da Sociedade Filarmónica Alpiarcense, lá está um retrato de Virgílio Venceslau, em lugar de destaque.

E a vila de Alpiarça já lhe prestou homenagem, atribuindo o seu nome a uma rua.

É uma memória que perdura, pelo trabalho que ele ali desenvolveu ao longo de três décadas, a partir de 1949. Como professor de música e como maestro da banda daquela coletividade.

Ainda hoje, um dos seus antigos alunos alpiarcenses, Mário Favas, o recorda como um “dedicado professor, que além da arte a que se dedicou com enorme entusiasmo, deu lições de homem sóbrio”, em “toda a sua maneira de atuação da sociedade em que viveu”.

Conta que o maestro Virgílio era “possuidor de uma grande humildade, modéstia e sensibilidade”. E que “um dos seus objetivos era a divulgação da música”, para “que ela chegasse a todos os recantos e que grande parte das pessoas tivessem o mínimo conhecimento dessa arte” [Voz de Alpiarça, 03/1979, p.4]

Azinhaga

Virgílio Venceslau também semeou associativismo e música na Sociedade Recreio Musical Azinhaguense.

Uma associação onde ele ficou evocado como “saudoso mestre e amigo, que com grande sacrifício regeu com grande proficiência a nossa Banda durante perto de 30 anos, a qual engrandeceu com o seu saber”.

Apontou-se mesmo que, “se não tivesse sido o grande amor” do maestro Virgílio pela banda daquela coletividade, “esta não teria sobrevivido à grande crise que atravessou” [Correio do Ribatejo, 09/03/1979, p.11].

Azambuja

Onde tudo começou foi em Azambuja. Ali nasceu, em 1891. Era filho de um alfaiate.

O seu homónimo Virgílio Arruda, histórico diretor do Correio do Ribatejo, foi seu amigo e deixou o seguinte testemunho: “Evocando os seus verdes anos”, Virgílio Venceslau contava “ter-lhe acordado bem cedo a paixão pela música […]. Saiu pela primeira vez a tocar aos doze anos. Era o dia 1º de Dezembro de 1903. […] na banda velha da Azambuja”.

Terá feito parte dessa banda “durante oito anos. Até que em 1911 veio para Santarém chamado pelo ofício, relojoeiro”. Mais tarde, “a velha banda de Azambuja” cessou atividade. “Com o que Virgílio Venceslau se não conformou, trabalhando ativamente pelo seu ressurgimento”. Aproveitou elementos da “extinta” banda e conseguiu dar-lhe uma nova vida [C.R., 02/03/1979, p.16].

Hoje, esse seu trabalho é prosseguido pelo Centro Cultural Azambujense.

Onde ainda se recorda que Virgílio Venceslau foi um dos seus maestros.

Santarém

E nesta cidade? Onde ele constituiu família e residiu até ao final da vida?

Em Santarém, Virgílio Venceslau integrou como músico a antiga Banda dos Bombeiros, “durante nada menos que 32 anos, muitas vezes lhe tendo sido confiada a direção”. Também participou na Orquestra Típica Scalabitana, fundada em 1946. E “na qual preserverou até 1962” [C.R., 02/03/1979, p.16].

Mas há um outro contributo relevante que caiu no esquecimento. Em 1915, quando era um jovem democrata republicano, Virgílio Venceslau foi um dos principais fundadores da associação “Fraternidade Operária”.

A qual ainda existe. Chama-se hoje Sociedade Recreativa Operária (S.R.O.). Em 1940, ainda se recordava que foi “em conversa amena havida entre Virgílio Venceslau, Júlio Patrício e Gabriel da Conceição” que “nasceu a ideia” de criar essa associação.

Em pouco tempo, a ideia “tomou vulto realizando-se a primeira reunião com um número limitado de sócios fundadores”, entre os quais Virgílio Venceslau e os outros dois “já citados” [Sociedade Recreativa Operária, 31/03/1940, p.1].

Depois, também aí ele semeou cultura musical.

No dia 1 de dezembro de 1917, a atual S.R.O. inaugurou uma “Tuna Operária”, “sob a hábil regência do distinto amador sr. Virgílio Venceslau”. Assim noticiou à época este jornal [C.E., 01/12/1917, p.3 e 08/12/1917, p.2].

LUÍS CARVALHO
INVESTIGADOR

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