André Luís, actual treinador do HC “Os Tigres”, começou a aventura no hóquei na sua terra natal, Turquel. Foi lá que jogou e treinou durante 33 anos até chegar a Almeirim, onde está a um ponto de levar os almeirinense à Primeira Divisão Nacional de Hóquei em Patins. Já tinha sido sondado na época passada para treinar a equipa mas admite que não foi fácil cortar a ligação a Turquel. Sonha ser campeão mas refere que o mérito é inteiramente dos jogadores.

Primeiro de tudo, quem é o André Luís e como é que começou a sua viagem no Hóquei? O André Luís no plano pessoal é uma pessoa recatada, casado e com dois filhos, professor de Educação Física de profissão e que tem no mundo do desporto a sua grande paixão. A minha viagem no Hóquei começou aos três anos de idade no Hóquei Clube de Turquel. As minhas raízes têm ligações profundas a esse clube, o meu avô foi presidente, os meus tios foram atletas e treinadores, o meu pai é director, a minha mãe é colaboradora activa, e joguei e treinei em Turquel cerca de 33 anos, tendo sido capitão dos seniores durante mais de uma década. Além disso o meu irmão, o meu filho e os meus primos jogam no clube.

Foi jogador e tornou-se treinador, o que o levou a seguir esta vertente Desde cedo que mostrei interessei pelo treino, aliás quando ainda tinha idade de Sub-17 e Sub-20 como jogador, já treinava os diversos escalões de formação do Hóquei Clube de Turquel, e fui fazendo um percurso regular ao longo dos anos desde a iniciação até aos Sub-20, que culminou com três anos como treinador-adjunto dos seniores masculinos, depois de ter deixado de jogar. Além disso, fiz toda a minha formação superior e profissional, Licenciatura, Mestrado e Doutoramento (ainda em fase de conclusão) na área do Desporto, sendo que tudo isso conjugado e a paixão pela modalidade levaram-me a seguir a vertente de treinador de forma mais pronunciada e a um nível sénior.

Iniciou carreira de treinador em Turquel. O que o fez vir para Almeirim? Acima de tudo a vontade demonstrada pela direcção dos Tigres nas pessoas do seu presidente José Salvador e vice-presidente, Nuno Pardal, em me quererem para assumir um projecto aliciante e ambicioso. Acreditaram em mim e no pouco que conheciam do meu trabalho e isso deixou-me muito sensibilizado. O interesse deles em me levarem para Almeirim já tinha sido veiculado no início de 2017/2018, mas o entendimento entre as partes não se tinha verificado. Além disso a preparação e investimento pessoal que fiz, principalmente nos últimos três anos, na minha carreira de treinador, permitiu-me também assumir o desafio de forma responsável, cuidada, e sem criar falsas expectativas aos que estão comigo neste projecto. Não foi fácil “cortar o cordão” que me ligava umbilicalmente ao Hóquei Clube de Turquel, mas estou muito contente pela decisão tomada e acho que as partes saíram todas a ganhar.

Quando chegou como é que encontrou no clube a nível desportivo? A nível desportivo encontrei um clube vindo de duas temporadas difíceis, o espectro da descida à 3ª Divisão esteve muito perto em 2016/2017 e 2017/2018, e desde cedo traçámos como meta terminar com essa sensação para passarmos a lutar pelos lugares cimeiros da classificação. No entanto no campeonato da 2ª Divisão – Zona Sul o equilíbrio é muito grande e isso seria um desafio a que os jogadores se teriam de predispor, sendo que muitos deles transitavam de anos anteriores e não estavam habituados ao tipo de exigência que tentámos implementar, para podermos estar noutro patamar. Para melhorar a nível desportivo foi preciso também rectificar e melhorar a organização e as condições de trabalho. Identificámos desde cedo as fragilidades existentes e, em conjunto com a direcção, tentámos eliminar falhas que subsistiram no passado recente e que teriam de ser debeladas. Ainda há algumas coisas para mudar, sendo que a direcção d’Os Tigres, assumindo o estatuto de clube histórico na cidade e no país, que fará 60 anos de idade em 2019, terá de se “esforçar” ainda mais para dar todas as condições aos atletas para se poderem “expressar” da melhor forma possível, que é com boas prestações dentro do rinque.

Quais eram os objectivos inicialmente transmitidos pela direcção? O que foi pedido à equipa técnica desde o início pela Estrutura Directiva foi que colocássemos ‘Os Tigres’ a lutar pelos lugares cimeiros da classificação, invertendo a tendência das últimas duas épocas. Foi isso que tentámos fazer desde da construção do plantel até agora. A verdade é que desde bem cedo que fomos dados como candidatos pela opinião pública, ainda no defeso, sem estarmos minimamente preparados para o que iríamos ter pela frente. As expectativas confirmaram-se e com o esforço de todos acabámos a lutar para subir de divisão.

Ganhar um campeonato como treinador principal é um objectivo? Quem anda no desporto de competição, seja no alto rendimento ou não, a palavra ganhar está sempre na sua cabeça e no fim das contas isso é o que importa. Tenho essa ambição enquanto treinador principal de uma equipa sénior e gostava muito que fosse já esta época, pois n’Os Tigres estamos num momento da temporada em que teremos obrigatoriamente de traçar o objectivo parcial de tentarmos ir em busca do título de Campeões Nacionais da 2ª Divisão, temos essa obrigação para connosco nos jogos que restam.

Como é que se constrói uma equipa para vencer um campeonato?Constrói-se percebendo de forma assertiva que qualidade necessitamos de aportar a um plantel para podermos sobressair perante os outros. Os predicados individuais dos jogadores são fundamentais e fazem a diferença em muitos jogos, mas é preciso que esses predicados se ajustem ao modelo de jogo que a equipa técnica pretende implementar, ou o processo inverso de ajustamento do modelo de jogo em função das características dos atletas. Além disso é importante ter um grupo unido e que “reme” todo para o mesmo lado e por último, mas não menos importante, uma estrutura envolvente forte, que possa servir de base de apoio, diminuindo ao máximo as falhas que possam existir. Em Almeirim ainda estamos à procura de debelar as visíveis limitações que temos neste último campo.

O seu trabalho tem merecido elogios em Almeirim. Acha que há mais para fazer? Há sempre mais por fazer! O meu trabalho tem o intuito de ter expressão naquilo que fazemos ao sábado em jogo, mas é tão importante como o do Rui Oliveira que é o meu treinador adjunto ou como o do Joaquim Ferreira que é o roupeiro da equipa. Todos tentamos dar o nosso melhor para que os jogadores só tenham de ter a preocupação de ir lá para dentro e cumprirem com o plano de jogo, sem perderem o seu foco. Nem sempre é possível fazermos o que é ideal, pois em estruturas amadoras como a nossa há outras preocupações e quase todos temos a nossa vida profissional, que é paralela a esta vida no desporto.

Subindo à primeira divisão, pretende continuar a comandar os Tigres?Neste momento o meu futuro ainda está em standby, sendo que isso também não é o mais importante, pois estou concentrado no que falta desta época. Sempre geri isso de forma muito tranquila e a única certeza que tenho é que, aconteça o que acontecer, a minha dívida de gratidão para com Os Tigres, será sempre impagável, pois foi este clube, os seus directores e as suas gentes que acreditaram em mim, no meu trabalho e me valorizaram e isso não tem preço!

Quem para si fez a diferença nesta época? Não gosto de particularizar, pois todos têm tido uma importância extrema na época que estamos a realizar, tomando como exemplo o Pedro Santos que é um dos atletas com mais minutos, até ao Ricardo Relvas, que raramente tem sido convocado, dizer que ambos ocupam a posição específica de guarda-redes e qualquer um deles nos dá as garantias necessárias, independentemente do número de minutos ou convocatórias. O crédito tem de ser dado quase em exclusivo aos jogadores e às suas prestações, temos sido a equipa mais sólida e quando um jogador não está bem, outro tem sobressaído, sendo que isso tem feito a diferença. A preparação que realizamos em cada jogo, a qualidade do treino, dada pelo equilíbrio do nosso plantel, e a crença dos atletas e de toda a estrutura, fizeram com que até à data tenhamos vencido por exemplo 10 jogos por um golo de diferença em 24 na Zona Sul. Tudo isto mesclado é que tem feito a diferença.

Depois de garantir a vitória na Zona Sul, o título da 2ª Divisão é para vencer? Para que isso possa acontecer teremos de vencer primeiro os jogos que ainda nos faltam na Zona Sul (Sintra em casa e Candelária fora), sabendo que um ponto nos chega para podermos ter direito de ir em busca desse sonho. Mas como já referi anteriormente a ambição do título da 2ª Divisão está nos nossos horizontes mais próximos.

Que podemos esperar para o futuro desta equipa? Num futuro próximo podemos esperar ambição e muita entrega em todos os jogos. Queremos chegar longe nesta época e apesar de só nos faltarem quatro jogos para findar a temporada, estamos em processo de redefinição de objectivos e vamos “atacar” com todas as nossas forças aquilo a que nos estamos a propor. No que diz respeito ao futuro a médio e longo prazo desta equipa não me irei pronunciar, pois não tenho por hábito colocar a “carroça à frente dos bois”, passo a expressão. Ainda não conquistámos nada e por isso temos a cabeça e os patins colocados exclusivamente no que está por vir nas próximas semanas.

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